Como se tratava de um assunto
de tal importância que teve honras de abertura da Sessão Legislativa 2012-2013 da Assembleia da República, achámos que, antes de nos irmos embora, tínhamos
obrigação de fazer uma visita ao Marquês de Pombal e à Avenida da Liberdade
(Lisboa), para uma primeira impressão de como ficou a famosa obra que
destronou, no Parlamento, a TSU.
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Recorde-se que esta obra foi
motivada pelo elevado nível de poluição atmosférica que se regista há largos
anos na Avenida da Liberdade [e que conduz a uma situação de incumprimento legal e à sujeição ao pagamento de
elevadas multas], e não, diretamente, por razões relacionadas com a mobilidade,
designadamente com a promoção de uma mobilidade mais sustentável na cidade.
Claro que, neste caso, a solução para combater a poluição não podia deixar de
passar pela redução do trânsito automóvel, com a consequente transferência para
modos de deslocação mais sustentáveis. Mas o facto de ter sido aquele, e não
este, o motivo fundamental da obra é relevante – e explica certamente muita
coisa daquilo que foi feito.
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Tendo perfeita consciência de
que é cedo para fazer uma avaliação de uma obra que está a passar pela sua fase
mais difícil de “teste”, e sem nos pronunciarmos sobre o novo esquema de
tráfego automóvel na rotunda (que nos pareceu estar a funcionar normalmente e
sem engarrafamentos maiores do que aqueles que existiam anteriormente), aqui
ficam algumas impressões:
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1. O aspeto de provisoriedade que
está presente em toda a zona intervencionada não é bonito – pelo contrário. Mas
pode ser uma solução menos má quando se pretendem fazer alterações deste tipo (redução
de vias de trânsito, alargamento da área pedonal, proibição de seguir em
frente, etc.) sem que haja orçamento inicial para fazer logo tudo de uma forma
perfeita.
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Não foi o caso desta obra: este aspeto
de provisoriedade resulta do facto de as alterações estarem em fase de teste
até ao final do ano e de, segundo o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
elas serem reversíveis, podendo regressar-se à situação anterior a partir de
Janeiro de 2013. O que queremos dizer é que a
falta de recursos financeiros não é justificação para que não se façam, mais frequentemente, alterações
como aquelas acima indicadas: pode-se fazer
muito com pouco dinheiro, recorrendo a estruturas provisórias como as que
foram instaladas nesta zona.
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2. É positiva, para a cidade, a
redução de uma via de trânsito em parte da Avenida da Liberdade e a redução de duas
vias na rotunda. Não podemos deixar de aplaudir e de registar esta alteração, pela
raridade deste tipo de medidas numa cidade que se continua a destacar pelo
exagero de vias de trânsito em muitas das suas avenidas, geralmente bem
servidas de transportes públicos e mal servidas de percursos pedonais.
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3. Nas vias centrais da Avenida
da Liberdade, verifique-se ou não uma redução do tráfego automóvel, continua a
haver trânsito a mais para aquele que devia existir. A Avenida da Liberdade
continua a ser um local muito desagradável da cidade. O ruído continua a ser
incomodativo (e a pedir-nos para sairmos dali rapidamente) e o ar continua
irrespirável (mesmo para quem esteja nos passeios das laterais). Note-se que
estou pouco habituada ao ar poluído de Lisboa (poluição de que muitos lisboetas
provavelmente já nem darão conta), mas penso que a bitola de análise deve ser
mesmo essa.
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4. O grande destaque - pela
positiva - desta obra é a diminuição do trânsito automóvel nas laterais, em
consequência de ter deixado de ser possível circular de automóvel de uma ponta
à outra da avenida através dessas vias laterais. Embora continue a haver dois
locais da avenida (em cada um dos sentidos) onde é possível passar, de
automóvel, de um quarteirão para o seguinte pelas vias laterais, em três outros
cruzamentos isso deixou de ser possível.
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5. Também é merecedora de
aplauso a redução do limite máximo de velocidade, nas laterais, para 30 km/h.
Mas é pena que a alteração não tenha sido complementada com medidas de acalmia
de tráfego (para além dos semáforos no final de cada quarteirão). São muitos os
condutores que pura e simplesmente ignoram o limite de velocidade - como é da praxe nesta nossa terrinha.
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6. Achamos uma ideia muito
infeliz, em termos de segurança rodoviária, que em sete quarteirões da avenida (nos
dois sentidos) se tenham invertido os sentidos de trânsito (nas vias laterais), e espanta-nos que
esta alteração não tenha, até agora, sido objeto de uma grande contestação. O
problema é que, ao atravessar a rua, o peão olhará, naturalmente, para o lado
de onde é normal virem os carros, e iniciará a travessia da via por não ver
nenhum carro a vir dessa direção. Nesse momento, pode ser imediatamente colhido
por um veículo, que, obviamente, vem do lado oposto.
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Foi nos anos 80 que a Câmara
Municipal de Lisboa teve a mesma ideia triste, na zona das avenidas novas. Foi
uma solução desastrosa, que resultou nalguns atropelamentos graves. Desse tempo
sobreviveram apenas dois arruamentos que mantêm os sentidos invertidos (em
Picoas). Sei que eles existem e sei exatamente onde se localizam e, apesar disso,
quando atravesso alguma dessas ruas olho sempre para o lado errado – e foi
por um triz que há poucos meses não fui brutalmente atropelada. Agora imagine-se quem
não saiba que ali os carros circulam no sentido oposto ao normal: turistas, por
exemplo. Que, por sinal, são em bastante número na Avenida da Liberdade.
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Não conseguimos compreender.
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7. O projeto previa a
eliminação de lugares de estacionamento nas laterais da avenida, para
alargamento dos passeios. Mas nem os passeios foram alargados, nem os lugares
de estacionamento foram eliminados.
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Admitimos
que possa ter ficado para outras calendas - que se tenha entendido que não era
prioritário.
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8. Em termos de mobilidade
ciclável, a opção, nas vias centrais, foi a da partilha da via da direita (“faixa
BUS”) pelos táxis, autocarros e bicicletas. Lamentamos profundamente que, no que
diz respeito às laterais, não tenham sido aceites as propostas da MUBI,
nomeadamente a possibilidade de se circular de uma ponta à outra da avenida
pelas laterais – um percurso “mais natural” para quem se desloca em bicicleta –,
independentemente dos sentidos de trânsito e das proibições impostas aos
automobilistas. Como se teria feito, por exemplo, em Paris.
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9. No que diz respeito à
velocidade, as vias centrais da avenida continuam transformadas numa via rápida
urbana – e persiste-se em erros do passado, como a colocação de painéis
gigantes…
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…que permitem que os
automobilistas os vejam ao longe sem terem de reduzir a velocidade.
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10. A ausência de medidas de
acalmia de tráfego, mesmo nas passagens de peões existentes na zona
intervencionada e que foi objeto de repavimentação, é comum a toda a obra. Iria, com certeza, causar um grande embaraço aos automobilistas.
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11. Uma das alterações muito
positivas consistiu na introdução de novas passagens de peões na Rotunda do
Marquês de Pombal, nomeadamente aquela de cuja inexistência reclamámos aqui há meses:
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12. Como se pode ver na imagem
anterior, no entanto, não houve a mínima preocupação para com as pessoas com
mobilidade reduzida: nem passadeira ao nível do passeio, nem passeio rebaixado
(em clara ilegalidade, aliás). Que isto ainda aconteça em 2012, é muito chocante,
ainda para mais na mesma semana em que o Vereador da Mobilidade da Câmara
Municipal de Lisboa, na presença de pessoas com mobilidade reduzida e de
jornalistas, reafirmou a necessidade de «criarmos [«pelo menos nos grandes
eixos da cidade»] condições mais dignas, e sobretudo mais humanas, para que
esta gente possa utilizar a cidade como nós».
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Não conseguimos compreender.
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13. Um dos pontos mais negros
da mobilidade pedonal nesta zona constitui a temporização dos semáforos para os
peões. Esperava-se, ainda para mais numa obra que visa a redução do trânsito
automóvel, que esta triste realidade deixasse de existir. Testámos três ou quatro atravessamentos:
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O atravessamento da Avenida
Duque de Loulé, na Rotunda do Marquês de Pombal (imagem anterior), continua a registar
um tempo de verde miserável: 17 segundos.
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No caso do atravessamento da
Avenida Alexandre Herculano (Norte), no cruzamento com a Avenida da Liberdade,
o tempo de verde é apenas ligeiramente menos miserável: 21 segundos.
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No atravessamento (Nascente) das vias
centrais da Avenida da Liberdade em frente à
Avenida Alexandre Herculano, 26 segundos é o que é concedido aos peões, mesmo
àqueles que se deslocam em cadeiras de rodas.
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E uns absolutamente ridículos 9
(nove) segundos de verde é o que nos espera no atravessamento da mesma Avenida
da Liberdade, junto à Avenida Barata Salgueiro. E perante este absurdo, achámos que era dispensável continuar.
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Esperamos que agora se perceba
melhor porque é que vincámos que esta obra foi determinada sobretudo pelo
objetivo de reduzir o trânsito automóvel, atenta a necessidade de diminuir a poluição por ele
causada. Sobre esta obra, escreveu recentemente a ACA-M que, embora positiva, esta não é «a alteração
de paradigma de que Lisboa precisa». Não é, de facto.
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Catarina (com a ajuda da Joana)
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9 comentários:
Av. Dos EUA junto à rotunda de Entrecampos. Sinal verde: 5 segundos. Depois fica 20 segundos vermelho para carros e peões simultaneamente
Aproveito apenas para deixar link para a análise e proposta da MUBi: http://goo.gl/Ygwz3
Uma pena que a CML tenha mais uma vez apostado num processo "participativo" em que tudo já estava decidido à cabeça. Temos ainda muito a melhorar, para tal nunca é demais analisar e denunciar o que fica mal feito (ou pela metade, como é este caso).
Obrigado por este excelente serviço público!
Muito há ainda por fazer é verdade.
Mas uma coisa é certa: antes andar para a frente devagarinho (isto) do que estar parado (como estava), ou andar para trás (Túnel do Marquês).
No geral, a alteração é positiva, mas deveriam era proibir todo o trânsito com excepção para os meios de deslocação público, serviços de emergência e automóveis que não emitam gases tóxicos nem façam muito barulho. E claro permitir as bicicletas, e peões.
Concordo plenamente com o ponto 6. Também eu já por diversas vezes estive em vias de ser atropelado na Rua Viriato, porque tendo sempre a olhar para a esquerda ao atravessar essa rua, esquecendo que ela tem os sentidos invertidos. Penso que é extremamente necessário pôr essa rua como deve ser - com circulação pela direita.
Os pontos 7 e 10 (entre outros) podem ter a ver com o facto de o novo esquema estar apenas numa fase de testes, e, portanto, ser reversível. Não se vai já cobrir de passeios e eliminar lugares de estacionamento quando ainda se está em testes. Também não se vai instalar medidas de acalmia de tráfego nesta fase. Só quando se decidir que o atual sistema de tráfego é correto - e não é, veja-se o ponto 6 - é que se decidirá (se se decidir) avançar para pontos posteriores, como a eliminação dos lugares de estacionamento e a instalação de acalmia do tráfego.
A despropósito, estive recentemente numa aldeia da "Eslovénia veneziana" (ou seja, em Itália mas junto à fronteira eslovena), onde tive o desprazer de observar, numa estrada, carros estacionados sobre o passeio bloqueando este e obrigando os peões a seguir pela faixa de rodagem. Concluí que a nossa terrinha não é tão original como, por vezes, as autoras deste blogue nos pretendem fazer crer.
(A aldeia chama-se Prosecco - com habilidade deve ser possível procurá-la no Google Maps.)
Pelo que se vê do GoogleMaps, em Prosecco há muito poucos passeios, parece mais uma aldeia medieval com ruas em que näo entram carros, ou arriscam-se a ficar todos riscados (linda figura estilística).
Passeios dignos desse nome só mesmo na estrada principal.
E de facto, nas fotos aéreas mesmo nessa estrada vêem-se mesmo muito poucos carros, e fora do passeio.
O Lavoura teve o azar de encontrar um prevaricador. Bestas há em todo o lado. Até em Mompilher acontece. Mas podia ter relatado o imbróglio ao polícia local, a ver o que ele fazia.
O Lavoura teve o azar de encontrar um prevaricador.
Não foi um, foram vários. Havia carros estacionados em cima do passeio uns a seguir aos outros.
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