Números da nossa terrinha: 26 – Sinistralidade grave dentro das localidades em 2011


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55% - Do total de vítimas mortais em consequência de desastres de viação ocorridos em 2011 em Portugal [Continental*], 55% verificaram-se dentro das localidades.
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60% - Do total de mortos e de feridos graves em consequência de desastres de viação ocorridos em 2011, 60% verificaram-se dentro das localidades.
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O primeiro número revela uma novidade.
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Já se sabia que a maior parte da sinistralidade grave (mortos e feridos graves) ocorria dentro das povoações – numa percentagem sem qualquer tendência definida de aumento ou de diminuição (pelo menos desde 1999).
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Também já se sabia que, mesmo sem a contabilização das vítimas a 30 dias, a percentagem de vítimas mortais de desastres ocorridos dentro das povoações, em relação ao total de mortos nas estradas, tem vindo a registar uma tendência de crescimento [significando isto que a redução do número de mortos e de feridos graves tem sido progressivamente menor dentro das localidades do que fora].
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Mas as estatísticas oficiais publicadas anualmente no nosso país revelavam, invariavelmente, que a maior parte das vítimas mortais ocorria fora das localidades, e não dentro.
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A contabilização de vítimas mortais a 30 dias – que Portugal tão tardiamente adotou –, veio revelar que o que sucede é, afinal, o inverso: é dentro das localidades que morrem mais pessoas em consequência de desastres rodoviários no nosso país.
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[Esta distorção do método estatístico anteriormente utilizado em Portugal é confirmada através da comparação dos relatórios de sinistralidade de 2010 e de 2011 sem e com contabilização das vítimas a 30 dias.]
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O que acontece é que a larga maioria dos feridos (leves ou graves) que acabam por falecer depois de chegarem ao hospital, dentro dos 30 dias seguintes ao desastre, são vítimas de desastres ocorridos dentro das povoações – numa parte muito significativa dos casos, em consequência de atropelamentos, que surgem em primeiro lugar na lista das vítimas falecidas nos 30 dias seguintes.
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[Em 2010**, por exemplo, 50% dos feridos leves (que afinal se vieram a revelar feridos graves) e 41% dos feridos graves que acabaram por morrer no hospital eram vítimas de atropelamento; no total, 44% das vítimas falecidas nos 30 dias seguintes aos desastres eram peões].
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Essas vítimas nunca entravam nas estatísticas, porque as mortes ocorridas depois de as vítimas chegarem ao hospital nunca eram contabilizadas como tal (mas como feridos graves ou leves).
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É verdade que vidas perdidas são sempre vidas perdidas, ocorram dentro ou fora das povoações. Mas, em primeiro lugar, estes números ilustram bem como as nossas vilas e cidades continuam a estar tristemente dominadas pelo automóvel. Para se ter uma ideia do real significado do número português (55% das mortes dentro das povoações), diga-se que na União Europeia a larga maioria das mortes (dois terços) ocorrem fora das localidades e que só a Roménia é que tem uma percentagem mais elevada do que a nossa.
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Em segundo lugar, verificando-se, pelos novos relatórios de sinistralidade, que o grosso das mortes ocorre dentro das localidades, reforça-se a necessidade de a triste realidade que vivemos a nível de segurança rodoviária dentro das nossas povoações começar a ser finalmente combatida de uma forma séria, o que não tem sucedido até aqui.
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Os dados referentes à sinistralidade grave dentro das povoações são, aliás, muito preocupantes por uma outra razão: embora o número total de mortos e de feridos graves tenha diminuído em Portugal em 2011, essa redução só aconteceu fora das povoações: quer o número de mortos, quer o número de feridos graves cresceu em 2011 dentro das localidades (tal como já tinha crescido em 2010), isto quando o nosso caminho devia estar claramente a ser o inverso.
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Urge reforçar o combate à sinistralidade rodoviária nas nossas povoações, de onde ela tem estado muito arredada. Quase todos vivemos dentro de povoações. É altura de torná-las locais mais amigáveis e seguros.
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* Não há informação referente às regiões autónomas.
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** Não temos dados referentes a 2011: por alguma estranha razão, este tipo de informações – que não constam do relatório anual, embora sejam importantes – são disponibilizadas na internet apenas durante algum tempo e depois são retiradas, deixando de estar acessíveis.
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Fonte: relatórios de sinistralidade de 1999 a 2011.
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1 comentário:

João Pimentel Ferreira disse...

Acabemos com os atropelamentos mortais nas nossas cidades.
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