Mosteiro de Tibães


Fundado no século XI, no tempo do Condado Portucalense, e reedificado nos séculos XVII e XVIII, o Mosteiro de São Martinho de Tibães (concelho de Braga), que foi a casa-mãe a Ordem de São Bento e tem uma das igrejas mais grandiosas de Portugal, entrou em declínio a partir de 1834, na sequência da extinção das ordens religiosas. A delapidação de todo o seu recheio prosseguiu até 1864, altura em que foi comprado por privados. Em 1884, alguns dos edifícios ficaram destruídos num incêndio.

Em 1944, o mosteiro foi classificado como Imóvel de Interesse Público, mas, não obstante ser ainda parcialmente habitado, o monumento continuou em processo de progressivo abandono. Em meados do século XX, falava-se, no Guia de Portugal, no "abandono a que [o mosteiro] está votado. A própria igreja, enorme, acusa sinais de decrepitude. Embora a sua robustíssima estrutura lhe queira garantir existência longa, vê-se que não poderá ir longe". A partir dos anos 70, entrou em estado de pré-ruína. Até que, em 1986, foi adquirido pelo Estado.

Ao contrário do que sucedeu em tantos outros casos, a aquisição pelo Estado interrompeu o processo de abandono: ao longo de mais de 20 anos, e com a ajuda dos fundos comunitários, todo o conjunto do Mosteiro de Tibães foi recuperado, em 3 fases, tendo o processo de renovação (que incluiu os edifícios destruídos no incêndio de 1884) sido concluído e inaugurado há poucos dias.

Apesar de tudo, ainda se vai recuperando património neste país...





O projecto de arquitectura foi da responsabilidade de uma equipa coordenada por João Carlos Santos, arquitecto do IPAAR (que contou ainda com os arquitectos Paulo Freitas, Paula Ribas e Maria João Marques e com os arquitectos estagiários Regina Campinho e Rui Nazário).

O projecto de arquitectura paisagística foi da autoria da arquitecta Maria João Dias Costa.

Contestação a ruas pedonais em Almada

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Nesta nossa terrinha, o fecho de uma rua ao trânsito automóvel é sempre muito complicado e parece estar sempre condenado a ser a prazo. Chove contestação de todo o lado, a começar nos comerciantes.

Em Almada, foram encerradas ao trânsito automóvel artérias no centro da cidade. Desde então, temos assistido à lengalenga do costume, cujo último episódio foi uma manifestação levada a cabo na 5ª feira, dia 17, pelos comerciantes locais. Os principais partidos da oposição à autarquia (com excepção de um) colaram-se à contestação, o que compromete ainda mais as hipóteses de sobrevivência do novo espaço pedonal.

Os comerciantes queixam-se de quebras substanciais no negócio e afirmam que muitas lojas já fecharam.

Isto acontece na semana da mobilidade...

Automóveis nos passeios

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Um desolador cenário de estacionamento ilegal repete-se todos os dias junto à Gare do Oriente, em Lisboa, onde existem dois grandes parques de estacionamento, que nunca enchem. Não pode haver justificação legítima para que este (estacionado mesmo junto à fachada de um dos parques de estacionamento) e muitos outros senhores aqui deixem os seus carros estacionados nos passeios e em cima de passadeiras. Não pode haver justificação para a contínua falta de fiscalização policial deste tipo de comportamento, e muito menos para a total indiferença da polícia quando por aqui passa.
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Nós temos mesmo de viver com isto, neste país? É uma espécie de fatalidade?
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[Centenas de imagens deste tipo povoam o blogue do Passeio Livre, referentes a Lisboa, Porto, Oeiras, Almada, Matosinhos, Pombal, Melgaço, Lagos, etc... infelizmente, esta vergonha chega a quase todo o país...]

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Parabéns ao parlamento português



Foi hoje notícia, no "EU Observer" (ver aqui), que, de todos os parlamentos da União Europeia, o português foi aquele que mais se pronunciou sobre propostas de legislação europeia, desde 2006, ano que este procedimento foi iniciado: 102 pronúncias, num total de 505 de todos os [27] países da UE. O segundo mais activo foi o parlamento francês, com 58. O contraste com os nossos vizinhos é flagrante: o parlamento espanhol não se pronunciou uma única vez.
A imagem que grande parte dos cidadãos têm do nosso parlamento ("não fazem nada", "só lá estão para ganhar dinheiro", etc.) está muito distante da realidade.

Engenharia e arquitectura portuguesas premiadas

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Nesta quarta-feira, dia 9 de Setembro, a equipa de engenheiros liderada pelo Prof. Mota Freitas recebeu o mais importante prémio na área das obras de engenharia civil e de estruturas (o prémio Ostra), pela notável obra de estrutura da Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima (ver aqui conjunto de fotografias da igreja). Uma obra magnífica e um grande projecto de engenharia, numa das povoações mais feinhas do país (e continuam a esforçar-se por torná-la ainda mais feia).
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Premiado foi também o arquitecto Eduardo Souto Moura, com o Prémio Internacional de Arquitectura 2009, atribuído pelo Chicago Athenaeum Museum of Architecture and Urban Studies e pelo European Centre of Architecture and Urban Studies, relativo ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (recuperação de um solar do séc. XVIII situado no centro histórico de Bragança; visita virtual ao edifício, em imagens, disponível aqui).
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Isto sucede num país em que por todo o lado se deixa destruir património para construir casas e prédios de inacreditável mau gosto, transformando-se irremediavelmente aldeias, vilas e cidades bonitas nas povoações mais feias da Europa.
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O país das auto-estradas

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A partir da meia-noite de hoje, com a abertura ao tráfego do último troço da auto-estrada da Costa de Prata, passará a haver duas auto-estradas entre Porto e Lisboa.
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São números oficiais da União Europeia: segundo o mais recente Relatório da Comissão Europeia sobre o Sector da Energia e Transportes na U.E., publicado em 2009, Portugal era, em 2006 (ano a que se refere o relatório) o 5º país com mais quilómetros de auto-estradas por habitante (24 km por 100 000 habitantes). Sensivelmente o mesmo que a Espanha e mais do que os países mais ricos da U.E.: Alemanha, Suécia, Dinamarca, Itália, França e Reino Unido.
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Ainda em 2006, Portugal tinha 20 km de auto-estrada por cada 1000 km2, contra uma média europeia de 15 km. A rede portuguesa de auto-estradas correspondia a 2,3% da nossa rede viária total, o que constituía o 3º valor mais elevado da U.E. (éramos ultrapassados apenas pelo Luxemburgo e pela Espanha). Por fim, comparando a rede de auto-estradas com o nível de riqueza do país, Portugal era o 2º país da OCDE com mais quilómetros (8,3 km) de auto-estradas por mil milhões de dólares de PIB (mais, só o gigantesco Canadá)!
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A impressionante rede portuguesa de auto-estradas tinha, em 2006, 2 545 km. Daí para cá, o número não tem parado de aumentar: no final de 2008, íamos já com 2 860 km. Presentemente, há novas concessões em fase de concurso, no total de 936 quilómetros de auto-estrada. Anunciada foi também a concessão do Alto Alentejo: mais 344 km de auto-estrada. E há outras em estudo…
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Esta febre das auto-estradas começou no final dos anos 80, nos Governos de Cavaco Silva - cujo Ministro da Obras Públicas, Ferreira do Amaral, ficou conhecido como o “ministro do betão” ou “ministro das auto-estradas” -, os mesmos Governos sob cuja égide se ordenou o encerramento de grande parte da Rede Ferroviária Nacional, na sequência do ironicamente denominado “Plano de Modernização e de Reconversão dos Caminhos-de-ferro portugueses”, aprovado em Fevereiro de 1988. Isto numa altura em que nos países mais desenvolvidos da Europa se recomeçava a apostar no caminho-de-ferro, já então tido (de novo) como o transporte do futuro. A razia foi impressionante. Portugal tinha uma rede de caminho-de-ferro notável, embora muito carecida de remodelação, com uns impressionantes 3 580 km de via-férrea, distribuídos por todos os distritos do Continente. Quase 1/3 foi encerrada.
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Desde então, o nosso país fez uma opção clara pela rede rodoviária, em detrimento da ferroviária, ao contrário do que vem sucedendo por toda a Europa. Desde há mais de 20 anos que os nossos governantes nos tentam convencer que as auto-estradas são um motor essencial para o desenvolvimento económico do país. Mas, apesar de termos uma das maiores redes de auto-estradas da Europa, continuamos a ser dos mais pobres da mesma Europa. Alguma coisa não bate certo...
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Como dizia um dia Pacheco Pereira, mandar fazer uma auto-estrada é a decisão mais fácil de tomar por quem está no poder: não dá trabalho nenhum - encomenda-se um estudo, manda-se fazer o projecto, faz-se o concurso, o empreiteiro faz a obra e entrega-se o cheque. Já está. Temos obra feita!
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Nesta nossa terrinha, é tudo ainda mais fácil, porque o nosso povo adora auto-estradas (sobretudo se estiverem cheias de áreas de serviço). Autarcas por todo o país reclamam a sua auto-estrada (e até houve um – Mafra – que decidiu fazer uma - até à Malveira -, que agora pretende entregar ao Estado, com o argumento de que dá muito prejuízo).
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Anuncia-se uma auto-estrada e o povo bate palmas. Já com o comboio é outra coisa. A receptividade em relação a qualquer investimento na via férrea é tudo menos calorosa, para não dizer pior, TGV incluído.
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Entretanto, continuam a gastar-se rios de dinheiro em auto-estradas, muitas delas de duvidosa utilidade. De acordo com os critérios internacionais, uma auto-estrada só é justificável a partir de uma circulação diária média de 10 000 veículos. Segundo dados do Instituto de Infra-estruturas Rodoviárias, em muitas das nossas auto-estradas o tráfego médio diário é inferior a esse. E ainda continuamos a fazer mais auto-estradas…
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No meio disto tudo, há a salientar um efeito positivo: a maior circulação em auto-estrada, em percursos que anteriormente se faziam por estrada, tem contribuído para a redução da sinistralidade com vítimas em Portugal. Mas digamos que é uma maneira um bocado enviesada (e cara, muito cara…) de combater a sinistralidade rodoviária…
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