Imagem
do Google
(como
todas as restantes imagens de satélite mostradas neste artigo)
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Observa-se esta imagem de
satélite do Largo do Rato, em Lisboa, e percebe-se imediatamente que estamos
perante uma praça inteiramente dominada pelo automóvel. Uma praça onde, em alguns
locais, os diminutos espaços pedonais quase chegam a parecer um depósito de mobiliário
urbano pelo meio do qual também passam pessoas. Muitas pessoas, por sinal (só os utilizadores da estação de metro - terminal - do Rato são cerca de 20 mil por dia).
Tratadas de forma absolutamente miserável pela cidade.
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Mais difícil de perceber como é
que esta praça chegou a este estado aberrante é entender como é que, na segunda
década do século XXI, ela ainda continua assim.
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São nove as ruas que entroncam no
Largo do Rato, e aquele absurdo mar de asfalto que inunda a praça foi a forma encontrada de «facilitar» a circulação automóvel entre esses
arruamentos, sempre que possível sem prescindir de várias vias de circulação.
Resolvida essa preocupação básica, essa prioridade, os espaços pedonais foram
depois concebidos em função da solução encontrada, condicionados por ela.
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Olhando para fotografias
antigas desta praça – de qualquer época da primeira metade do século XX –,
constata-se que ela nunca foi propriamente generosa em espaços exclusivamente pedonais.
Todavia, enquanto o automóvel não se impôs na cidade, as pessoas circulavam
mais ou menos livremente por todo o largo, atravessando-o em todas as direções,
como bem mostram essas fotografias.
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A situação hoje é radicalmente
diferente e por toda a praça existem barreiras físicas à circulação de pessoas,
nomeadamente gradeamentos e muros: ao mesmo tempo que se foram delineando soluções para facilitar a circulação dos automóveis, foram-se colocando barreiras físicas para dificultar a circulação dos peões.
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O conjunto de atravessamentos
pedonais existentes nesta praça mostra na perfeição como pode uma cidade
subjugar-se ao automóvel e secundarizar a circulação pedonal.
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Alguns exemplos ilustram-no:
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ATRAVESSAMENTO 1
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O primeiro absurdo,
encontramo-lo no atravessamento da Rua da Escola Politécnica, junto à praça (seta amarela na imagem seguinte).
São poucos metros de travessia.
Um pulinho.
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Mas, para facilitar a circulação automóvel, o
atravessamento está vedado aos peões e, para garantia de que estes não
atravessam a rua, foi colocado gradeamento, suficientemente alto para inibir as
pessoas de o transpor.
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O atravessamento tem de
fazer-se no odioso “C”, aproveitando os locais onde o automóvel tem de parar para deixar passar outros automóveis…
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…e o peão, em vez de atravessar
uma rua de poucos metros de largura, é forçado a atravessar três passagens de
peões com semáforos.
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Nunca diga que é difícil
encontrar coisa mais absurda: em Lisboa, estamos sempre a encontrar coisas mais
absurdas do que aquelas que julgávamos serem as mais absurdas.
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ATRAVESSAMENTO 2
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Esta mãe que transporta um bebé
num carrinho...
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[que ocupa praticamente toda a largura do passeio: para o carrinho passar, tive de parar e de me encostar, encolhida, à fachada do prédio]
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...dirige-se àquela rua mesmo em frente: um percurso feito por muitas pessoas para irem, por exemplo, a um supermercado de bairro (ou para um jardim).
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[que ocupa praticamente toda a largura do passeio: para o carrinho passar, tive de parar e de me encostar, encolhida, à fachada do prédio]
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...dirige-se àquela rua mesmo em frente: um percurso feito por muitas pessoas para irem, por exemplo, a um supermercado de bairro (ou para um jardim).
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Repare-se como as duas ruas são
praticamente a continuação uma da outra, quase em linha reta.
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Houve um tempo em que as pessoas
que se deslocavam entre estas duas ruas faziam-no sem necessitarem de fazer
desvios:
Hoje, isso não é possível: temos
este atravessamento vedado aos peões (e só essa proibição impede a travessia da praça neste local):
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E este atravessamento mais
direto também não é permitido aos peões:
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O desvio que os peões são
forçados a fazer, só porque aqueles dois atravessamentos lhe estão vedados, não
é muito escandaloso (escandaloso é o tempo que o semáforo fica verde para os peões)…
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…mas para quem tem dificuldades
de mobilidade, ou para quem transporta sacos de compras do supermercado (por
exemplo), é um desvio irritante – e que poderia ser evitado, se não fosse a
preocupação em dar prioridade às deslocações em automóvel.
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Na imagem seguinte, compare-se
o percurso que o automóvel faz (a verde) e o percurso do peão (a vermelho).
I(devido à sua extensão, este artigo tem uma segunda parte: clique aqui para continuar)
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