Um passeio na 24 de Julho (conclusão)

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(clique aqui para ler a parte anterior do artigo)
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Estou agora na parte final do percurso. Entretanto, para mal dos meus pecados, terminaram as arcadas.

Atravesso a Avenida Infante Santo…

[Olho para o lado direito, para o início da avenida: outra avenida em que só o automóvel é importante.]

…e entro numa “zona de acidentes”:
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Para minha sorte, na "zona de acidentes" há obras - e, por causa das obras, a via da direita está cortada ao trânsito, para que os trabalhadores possam trabalhar em segurança.
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É que o passeio aqui é inacreditavelmente estreito:
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[É engraçado como a passagem provisória tem mais do dobro da largura do passeio.]

Mesmo com as obras e este “alargamento” provisório da travessia, é assustador andar aqui, atenta a velocidade a que circulam muitos veículos (incluindo veículos pesados) e o facto de se tratar de uma “zona de acidentes”.

E, no entanto, concluída a obra, o passeio está a ser reconstruído exatamente com a largura que tinha antes – porque, pelos vistos, isto é julgado normal:
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Chego a um cruzamento, onde o chefe da obra está sentado numa carrinha a observar os trabalhos - e a carrinha está estacionada assim:
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Não sobra nem um bocadinho de passadeira.

Por cima da carrinha, o grande painel publicitário anuncia “apartamentos de assinatura” para este local. É difícil imaginar “melhor” sítio para se viver. É, aliás, isso que nos explicam no sítio do promotor na internet, onde, sobre a localização do empreendimento, se pode ler o seguinte:

«Localização:
A Alma Urbana atravessa a cidade.
Aterra no Bairro.
Molda-se às ruas, praças e vielas.
É isso que transforma os recantos em cidade.
É disso que vivem Alcântara e a 24 de Julho.
Alma Urbana, espírito ribeirinho, encontro intenso de vida coletiva e viver contemporâneo.
Bairro com vida».

Contorno a carrinha, atravesso a rua e continuo o “agradável” passeio por este belo recanto citadino cheio de vida coletiva e de Alma Urbana.
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[Depois de terminada a obra, voltei a fazer este percurso, porque vale a pena mostrar o que é este passeio:
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Pela enésima vez, compare-se a largura da avenida com a largura do passeio.

Em grande parte da extensão deste passeio, só passa uma pessoa de cada vez. Quando se cruzam duas pessoas em sentido contrário, a solução, para se evitar pisar o asfalto (coisa muito pouco recomendável), é uma delas parar e encostar-se à fachada do prédio para deixar passar a outra.
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No cruzamento mostrado acima, onde estava a carrinha em cima da passadeira, o passeio foi rebaixado apenas numa pequena parte da passadeira e com inclinação para a avenida-tipo-via-rápida:

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Depois das obras, todo este estreito passeio acabado de reconstruir, e que atravessa dois quarteirões da avenida, ficou com muita areia. Se alguém escorregar e cair, é aborrecido, porque não há muito espaço no passeio para cair e o asfalto está logo ali ao lado…]

Do outro lado da bifurcação com a Avenida da Índia, espera-me mais um passeio estreito:
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Mas primeiro tenho de lá chegar. Aguardo uma eternidade que o sinal para os peões fique verde.
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Finalmente o verde. Mas apenas para atravessar isto:
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Na “ilha” no meio deste cruzamento de avenidas-tipo-via-rápida, fico à espera mais uma eternidade pelo verde para passar para o outro lado.
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Chego por fim ao outro lado. Encontro mais um recanto cheio de "Alma Urbana". Por comparação com a experiência imediatamente anterior, este passeio é “largo”: cabem duas pessoas:
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Muitos veículos continuam a passar a velocidades elevadas, o ar é muito poluído e o ruído enorme - mas um grande sorriso invade agora o meu rosto: já estou a ver o meu destino: a estação de comboios de Alcântara-Mar:
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Só não sei como chegar ao outro lado. Entre mim e a estação, um horizonte de asfalto com carros a passar e nenhuma passagem de peões, nem mesmo junto das duas paragens de autocarro (uma de cada lado, mostradas na imagem de cima):
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Depois percebo finalmente. É o corolário “normal” de tudo isto: para não perturbar Sua Excelência o Senhor Automóvel, obrigam-me a ir até bastante mais à frente para descer a uma passagem subterrânea…
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…aliás bastante “aprazível e bem cheirosa”.
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E chego, aliviada, à estação.

Da plataforma vejo, sobre a avenida da qual acabei de fugir como uma toupeira, um painel publicitário que mostra uma grande área citadina cheia de espaço para os peões e com pessoas sorridentes.
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Desvio o olhar para o lado oposto: do outro lado da linha férrea, existe mais uma larga avenida, paralela àquela por onde vim (já que, ao que parece, todas aquelas vias de trânsito não chegavam)…
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…com estes maravilhosos passeios…
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…que davam outro artigo. Mas não contem comigo. Gosto de andar a pé, mas não nestas condições. E o comboio está a chegar. Daqui a alguns minutos estarei a viajar ao lado do rio e do mar e sentir-me-ei no paraíso…

Joana Ortigão


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[Este artigo foi publicado originariamente no blogue em 23 e 24 de maio de 2011, e em 25/5/2011 foi remetido ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e aos vereadores José Sá Fernandes e Fernando Nunes da Silva. Três anos depois, continua atual.]
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63 comentários:

Nuno disse...

Parabéns pela série e pelo "jornalismo de guerra" que é circular num sítio em que é difícil não ser "soprado" pela deslocação de ar da passagem de carros a 90km/h.

Espectacular o quadro no final :)

madeinlisboa disse...

Por favor cheguem isto ao grande responsável. Quantos mais a enviar, melhor. Pelo menos só pela vergonha.

João Rosa disse...

Os passeios são curtos. Mas tem de perceber que
não pode ser de outra maneira. Há muito trânsito nesta avenida e basta tirar uma faixa para criar o pandemónio. Era pior ainda.

Ricardo Moreira disse...

Parabéns pelo trabalho feito em três partes. Aproveite e numa próxima oportunidade faça a pé a ligação Alcântara-Mar - Alcântara-Terra. É também uma delícia!

Pedro Soares Martins disse...

Na cidade contemporânea, há um lugar para tudo. Há um lugar para as pessoas, há um lugar para os carros. Este não é o lugar indicado para as pessoas andarem, sendo mais adequado aos carros. As pessoas não deixam de ter outros lugares nas cidades para passear, se não quiserem andar de carro. Isto a menos que queiramos ser fundamentalistas como a Joana e outros comentadores deste blog. Acabam por perder a razão. Et voilá!
pedro soares martins

asmelhoresfrancesinhas disse...

"Acabam por perder a razão. Et voilá! "

Pior do que isso só vir para aqui dizer que ninguém vai o MNAA pela 24 de Julho. Dizer isso é que era uma estupidez de todo o tamanho! Ainda bem que o Pedro não conhece ninguém de dizer tal barbaridade, não é?

Se o Pedro fosse uma pessoa normal até lhe pedia para nos explicar qual o argumento que tem para dizer que uma das maiores zonas ribeirinhas de qualquer cidade do mundo "não é o lugar indicado para as pessoas andarem". Como o Pedro mais é mais um troll (com a cobardia associada a essa espécie quando alguém lhes responde) nem pergunto.

Ricardo Moreira disse...

Pedro, há zonas da 24 de Julho onde trabalha muita gente que ficam afastadas das paragens de autocarro/eléctricos (por exemplo, entre Santos e a Rocha de Conde D'Óbidos não há uma única paragem desde 1992, a bem da circulação automóvel)!
Deveriam essas pessoas ficar impedidas de caminhar pela cidade nem que seja para chegar ao local de trabalho?
E os fundamentalistas somos nós!

Pedro Soares Martins disse...

O argumento da zona ribeirinha não procede. As pessoas podem ir passear junto ao Tejo em Belém. Também podem, se quiserem, ir passear para as ruas pedonais da baixa. Têm muito espaço para o fazer. Os carros também têm um lugar. Quando se quer tudo, perde-se a razão e corre-se o risco de não se ganhar nada.
pedro soares martins

Nuno disse...

@Pedro Soares Martins

Ninguém falou em proibir carros, mas em conseguir precisamente uma convivência, o que implica neste caso uma redução deste tráfego incompreensível (especialmente face à oferta de transportes públicos).
Bastariam uma ou duas faixas convertidas nos extremos da avenida, ou seja, um punhado de metros e tratamento de cruzamentos e atravessamentos.

Não percebo como isto é ser extremista...

asmelhoresfrancesinhas disse...

"Quando se quer tudo, perde-se a razão e corre-se o risco de não se ganhar nada. "

Está a falar de si próprio agora? A única pessoa que se viu aqui defender que apenas pode haver uma modo de transporte naquela zona foi o Pedro.
É cada tiro no pé que só visto.

asmelhoresfrancesinhas disse...

"As pessoas podem ir passear junto ao Tejo em Belém. "

As pessoas também podem ir andar de carro para o Autódromo do Estoril. E?
Tanta participação nesta caixa de comentários e não consegue arranjar um único argumento com o mínimo de coerência!

Ricardo Moreira disse...

Até porque a 24 de Julho é um exemplo do que não se deve fazer... na faixa de rodagem (e digo-o como condutor).
Prefiro uma avenida como a Infante D. Henrique (pelo menos entre o Campo das Cebolas e o Poço do Bispo), com 2 faixas em cada sentido (mais uma para bus) e uma faixa extra nos locais onde se pode virar à esquerda, que aquilo que existe na 24 de Julho, que tão depressa são 3 faixas, como de repente passam a 2 e a terceira só serve para virar à esquerda ou à direita, obrigando os mais incautos, os que não conhecem ou os chico-espertos que circulam nessa faixa a atirarem-se para a do lado, por vezes já mesmo no limite!
Isto, claro, sem contar com a anormalidade (que a Infante Dom Henrique também sofre) do que se passa no C.Sodré.

Por outro lado, nestas fotos também fica demonstrada outra das grande aberrações desta cidade (e agora falo na condição de peão, que isso TODOS somos): a enorme falta de cuidado com que são instalados equipamentos e outro mobiliário urbano. Conheço locais (que não aqui), onde um passeio relativamente largo (com espaço mais que suficiente para três pessoas passarem lado a lado) fica reduzido a um corredor onde mal passa uma porque existe um gradeamento, um pouco mais ao lado um sinal de trânsito e quase encostado a este uma papeleira ou qualquer coisa do género. E para resolver este tipo de situações não é necessário entrar-se em fundamentalismos extremistas de "aqui não passam peões", bastaria usar o bom senso num dose qb para alterar um pouco a distribuição das coisas, aumentando o espaço útil sem grande complicação.

Já agora, e para terminar, também se anda a pé para se ir trabalhar, não é só para passear!

Ricky T disse...

Pedro Martins, eles querem pôr-nos a todos a andar de bicicleta e a pé. Mas estão com azar, porque a maioria está contra eles.

Nuno disse...

Ricky, que paranóia incrível- há espaço para todos- o que está nestas imagens é uma situação ridícula...

PS. Sou peão, ciclista e condutor, por essa ordem.

The Caped Crusader disse...

Este pedro soares martins é só rir!

Helder disse...

Caped, com o Pedro Soares é só rir mas eles são a maioria, o interessante é que estamos, como país, a bater num fundo de séculos, obvio que não é trânsito automóvel que nos pôs lá, mas são as atitudes e decisões semelhantes a estas que foram sendo tomadas que nos lá colocaram.

Eu ontem tinha aqui um comentário acerca do acesso ao MNAA e da Janelas Verdes e se queriam mesmo falar das Janelas verdes, mas perdi-o antes de gravar, por isso fica apenas isto:

http://www.copenhagencyclechic.com/, vejam a imagem de hoje "Dressed for the Destination" e vejam o que andamos, todos a perder!

Pode ser que assim abram os olhos! (a foto permite várias interpretações, consoante o género e orientação sexual, escolham a vossa...)

Joana & Ca, não sei se o disse antes: Não concordando com tudo o que é publicado, possso garantir que é um prazer ler os vossos artigos, seja pelo tema seja pela maneira como o mesmo é abordado e escrito, tomara eu ler assim na dita "imprensa de referência".

Bem hajam.

madeinlisboa disse...

"Mas estão com azar, porque a maioria está contra eles."
Exactamente, e é por causa dessa "maioria" que somos o *ú da Europa.

madeinlisboa disse...

Helder, excelente esse exemplo em http://www.copenhagencyclechic.com.
Somos uns homens das cavernas comparados com eles.

Luís Lavoura disse...

Não me quero pronunciar sobre o resto da avenida 24 de Julho, dado que a conheço muito mal e não sei se ela tem muito tráfego de peões. No entanto, parece-me que, a partir do cruzamento com a avenida Infante Santo, praticamente nenhum peão terá interesse em percorrer a avenida 24 de Julho, pelo que se justifica que aí o passeio se reduza a um mínimo. As pessoas que querem ir na direção de Alcântara seguem, com mais naturalidade, pela rua das Janelas Verdes, que tem condições um bocadito melhores.

Suspeito aliás que, também noutras partes da avenida 24 de Julho (em Santos por exemplo), aquilo que qualquer peão racional fará será seguir pelas ruas interiores.

Faço também notar que, que eu saiba, na avenida 24 de Julho propriamente dita não circulam transportes coletivos, os quais seguem por uma faixa própria (muito mal) separada dessa avenida.

Faz todo o sentido, sempre que se prevê que uma determinada avenida venha a ser essencialmente uma via automóvel, que se desincentive os peões de circular por ela - desde, naturalmente, que os peões tenham ruas alternativas boas para eles. Não se vai protestar, ao fim e ao cabo, por também não haver passeios de jeito ao longo da Segunda Circular!

Ricardo Moreira disse...

Luís Lavoura, se não estou errado, na 2ª circular existe sinalização a proíbir a circulação de peões (se eu estiver errado, agradeço que me corrijam).
Na 24 de Julho não há sinalização que proíba a circulação de peões (e aqui tenho a certeza do que falo), logo não é admissível que se "desincentive os peões a circular por ela" e logo desta forma!
Ou se proíbe ou se permite (e neste caso criem condições para que se faça isso em segurança)! Agora que se desincentive...! Nestas coisas não pode haver meio termo!

Jorge disse...

O Luís Lavoura conhece "muito mal" o resto da 24 de Julho, mas "parece-lhe que"... Parece-lhe? Luís Lavoura, desculpe lá dizer isto, mas se a sua ideia é dar uma contribuição útil para a discussão, falar do que não se sabe ou dar uma ideia errada das coisas não é um bom sistema.

Ao contrário do que diz por lhe "parecer", há muita gente que utiliza esse percurso. Por exemplo, aqueles que vão trabalhar para o ministério e vão de comboio, fazem exactamente o percurso que a Joana fez até Alcântara. Podia dar muitos mais exemplos de pessoas que utilizam a avenida, mas… puxe pela cabeça em vez de dizer que lhe “parece que…”

Também não é correcto dizer que na Av. 24 de Julho não circulam transportes públicos. Claro que circulam. E muitos: eléctricos, autocarros e comboios. Em parte da avenida os eléctricos e os autocarros circulam em faixas dedicadas, mas a avenida é a mesma. Quem utiliza os transportes públicos e sai numa das paragens da avenida tem de andar a pé nestes passeios. No resto da avenida, o tal resto que o Luís conhece “muito mal”, os transportes públicos circulam nas faixas dos carros.

E mais não digo, por falta de tempo. O seu último parágrafo é de uma pessoa ficar de boca aberta. E de boca aberta fico também por ver que, disto tudo, o único problema que o Luís vê é o passeio estreito da parte final. E que afinal não é problema nenhum, porque “se justifica que aí o passeio se reduza a um mínimo”!!

Desculpe lá o “tom” da resposta, mas não podia ser doutra forma.

Luís Lavoura disse...

Ricardo Moreira, claro que pode haver meio termo. As pessoas podem ter absoluta necessidade de percorrer a pé um trecho de uma determinada rua, pelo que não é proibido fazê-lo. Mas as más condições do percurso desincentivam-nas de usar essa rua para quaisquer percursos mais longos, ou que não sejam imprescindíveis.

Por exemplo, no caso de uma pessoa que queira ir a pé do Cais do Sodré até Santos, poderá talvez fazê-lo pela rua de São Paulo, evitando dessa forma a avenida 24 de Julho. As pessoas só irão pela avenida em pequenos trajetos imprescindíveis (por exemplo, quando se dirigem a um prédio da própria avenida). As pessoas podem andar a pé pela avenida, mas são encorajadas a só o fazer na medida do imprescindível.

Luís Lavoura disse...

Jorge,

você interpreta-me mal. Claro que circulam transportes coletivos, foi o que eu disse - numa faixa separada. E é claro que as pessoas que usam esses transportes terão que andar a pé uma parte do percurso. Mas esse percurso pedestre será em princípio residual.

Tal como eu escrevi, as pessoas que se dirigem a um prédio da avenida têm, evidentemente, que percorrer a pé parte da avenida - e para isso é que os passeios lá estão. Mas, dado que não se deseja incentivar os peões a utilizar a avenida a não ser nessas situações de imprescindibilidade, não se considera necessário alargar mais os passeios.

Dito isto, eu concordo com a Joana em que é inadmissível passeios muito estreitos e em que é inadmissível permitir que carros estacionados bloqueiem os passeios. Mas temos que compreender que, em geral, se pretende - e bem - desincentivar o tráfego de peões por uma avenida que é um canal para o tráfego automóvel, pelo que também não é devido fazer passeios de toda a largura.

O desejável seria, isso sim, que os locais de trabalho que há na avenida fossem deslocalizados dali para fora. Eu, quando fui estudante há muitos anos, tive aulas num edifício da 24 de Julho, e era horrível - uma barulheira e uma poluição a entrar-nos pela janela. Felizmente a universidade, consciente de que aquilo não era local admissível, arranjou-nos em breve outro poiso. Seria bom que os locais de trabalho que ainda hoje utilizam aquela avenida compreendessem que aquilo é uma via de tráfego e não um local adequado para se trabalhar.

Jorge disse...

Luís Lavoura: desisto. O Luís reconhece que ter aulas, viver ou trabalhar na Av. 24 de Julho é mau, por causa da "barulheira" e da "poluição" e a sua solução para isso é expulsar as pessoas deste sítio da cidade e pô-las noutro sítio? Não sei mais o que lhe diga. Fico sem palavras.

asmelhoresfrancesinhas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
asmelhoresfrancesinhas disse...

Claro, a solução é esvaziar mais uma zona da cidade! Até porque Lisboa transborda de vida!
Os santinhos nos livrem de tentar tornar Lisboa mais atractiva para as pessoas nela viverem!

SRT disse...

"Seria bom que os locais de trabalho que ainda hoje utilizam aquela avenida compreendessem que aquilo é uma via de tráfego e não um local adequado para se trabalhar".

Acrescente a Av. Marechal Gomes da Costa, a Av. EUA, a Av. Infante D. Henrique, a Av. da República, a Av. da Liberdade, a Av. de Brasília, a Av. de Ceuta, a Av. das Forças Armadas, a Av. Fontes Pereira de Melo e por aí adiante. Toca a tirar de lá o pessoal todo, que hoje em dia aquilo são vias de tráfego. Esvazia-se um terço da cidade para deixar os popós à vontade.

Bravo, Luís Lavoura!

Luís Lavoura disse...

SRT,

sim, e a avenida Duque de Loulé, já agora, uma das piores da cidade para os peões.

Isto nada tem de anormal, SRT. Conhece uma coisa chamada "carta de ruído" de Lisboa? O que essa carta diz é que, precisamente, não devem ser permitidos prédios residenciais em certos locais que são muito ruidosos. Ou seja, aquilo que se procura é, precisamente, que as pessoas não residam em certas artérias da cidade que, devido à evolução natural das coisas ou devido a medidas camarárias, se tornaram vias de grande tráfego e, portanto, de grande ruído (enquanto o automóvel elétrico não chegar, quero eu dizer). O que eu estou a dizer é que, de facto, nessas artérias não só não se deve residir como, de facto, também não se deve trabalhar.

A SRT não gosta? Pois, eu também não, mas é a vida. Não se pode ter ao mesmo tempo sol na eira e chuva no nabal. Da mesma forma, não se pode ter uma cidade moderna e ativa, na qual necessariamente muita gente se desloca de automóvel, e uma cidade na qual todos os prédios em todas as artérias são utilizáveis. O que é preciso é limitar os danos, separando o mais possível as artérias com muito tráfego daquelas que são utilizadas para residir e trabalhar.

Pedro Soares Martins disse...

Tem a suprema razão do seu lado, caro Lavoura. É preciso compreender e apreender a cidade contemporânea e não nos apegarmos a concepções ultrapassadas, como aquelas que perpassam em alguns comentários deste blog e no próprio blog de per si. Mas ´quem é que consegue explicar-lhes isto?
pedro soares martins

Anónimo disse...

É sempre giro ler estes comentários directamente dos anos 50.

Jorge disse...

Pois, era isso que eu ia dizer. Estes senhores pararam nos anos 70 do século passado!

Bem hajas, Joana. Não desanimem com estes comentários. Espero bem que tenham consciência de que o vosso blog é importante.

asmelhoresfrancesinhas disse...

Eu a mim parecem-me que acabaram de ver a Futurama (exposição da General Motors) da Expo de Nova Iorque de 1939 e ficaram tão deslumbrados que não conseguem falar doutra coisa.


Entretanto num dos países mais ricos do mundo no século XXI:

"Between 2004 and 2008, British cities saw a nine percent decline in car trips per person and a 5 percent decline in traveled car distance.

(...)

between 1992 and 2007, the number of 17- to 20-year-olds who obtained a driving license fell 10 percent; the age group of 21- to 29-year-olds saw a nine percent decline.

(...)

strong investments in public transport are improving mass transit’s standing as a viable commute option

(...)

another possible rationalization for the decline: “new urbanism,” a movement promoting the creation and restoration of diverse, walkable, compact, vibrant, mixed-use communities.

(...)

population density increased in London’s inner cities, which made way for public transport, and a walking- and cycling-friendly commute culture"

Fonte: http://thecityfix.com/blog/a-decline-in-car-use-in-britain-the-result-of-policy-and-practicality/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+thecityfix%2Fposts+%28TheCityFix%29

Helder disse...

Estou triste, mas a sério...depois de tentar "abrir" os olhos mostrando (quer dizer,a Joana já o tinha tentado de uma forma mais convicente e elaborada)o que poderá haver em Lisboa se houver mentalidades que se alterem e com isso comportamentos, não ligaram nenhuma (tomem lá mais ;http://www.copenhagencyclechic.com/) e digam se não melhorava logo o ar de Lisboa).

A sério, se com argumentos lógicos e plausíveis não se vai lá, pode-se tentar com o básico e primário...

madeinlisboa disse...

Não se consegue abrir os olhos a ignorantes. Individuos de baixo nível cultural (e mental) raramente evoluem. É como convencer um serial-killer a deixar de matar. Está incrustado e não há argumentos que os façam mudar.

Nuno disse...

Eu aceito estas críticas extremistas com grande optimismo, como alguém disse:

"Primeiro eles ignoram-te, depois riem-se de ti, depois lutam contra ti e depois aceitam-te."

Ou seja, estamos a um passo de uma mudança em grande escala, dado que como já foi dito aqui há 5 anos um blogue com o tipo de temas e conteúdo como o Nossa Terrinha era impensável :)

Também gosto da versão portuguesa:

"Quem desdenha...quer comprar"

Daqui a 5 anos vamos ter muitos mais "compradores" a votar nestas medidas amigas da cidade, a pedalar e a andar de transportes colectivos.

Luís Lavoura disse...

"Daqui a 5 anos vamos ter muitos [...] a pedalar e a andar de transportes colectivos."

Deviam mas é andar a pé, como eu. Os transportes coletivos gastam imensa energia (um autocarro são 50 litros de gasóleo por 100 km!) As bicicletas são perigosas para os peões (e para os próprios ciclistas).

Nuno disse...

@Luis Lavoura

Acima de tudo sou um peão que usa transportes públicos (tenho passes de 2 transportes diferentes).
O peão é o rei da cidade, ponto final.

Dizer que os transportes colectivos gastam muito e depois de fazer a apologia de tráfego excessivo é no mínimo bizarro, quase tão bizarro como a afirmação (voluntariamente?) cómica de que a bicicleta é perigosa para os peões.

Se a Av. 24 de Julho trocasse uma faixa para carros por uma ciclovia segregada (por causa de velocidade e volume de tráfego)e um passeio mais largo 1.5m protegido pela ciclovia aposto que eram só pedaços de cérebro e membros espalhados pelo passeio por causa da violência das bicicletas.

asmelhoresfrancesinhas disse...

"Dizer que os transportes colectivos gastam muito e depois de fazer a apologia de tráfego excessivo é no mínimo bizarro"

Eu diria que é absolutamente ridículo.

Paredes disse...

Quem é que com todos os parafusos no sítio diz que "a bicicleta é perigosa para os peões"?

Luís Lavoura disse...

Nuno, eu não fiz apologia nenhuma do tráfego excessivo. Disse, basicamente, que o tráfego existe e que é preciso tê-lo em conta, apenas.

Quanto a as bicicletas serem perigosas para os peões, é evidente que são, se partilharem o mesmo espaço. Não por acaso, em qualquer via bem ordenada você tem as faixas para bicicletas demarcadas de forma distinta dos passeios para peões. Que eu saiba, aliás, de acordo com o Código da Estrada português é proibido ciclistas circularem nos passeios para peões. As bicicletas têm reduzida capacidade de travagem e de mudança súbita de direção, pelo que constituem um perigo para um peão que se lhes atravesse de repente à frente. Esse perigo é potenciado pelo facto de uma bicicleta a aproximar-se não ser ouvida, ao contrário do que acontece com um automóvel.

Nuno disse...

Luís, o tráfego que existe é manifestamente excessivo para uma zona urbana, o que explica a percepção aparentemente comum de que a avenida se trata ou deveria tratar de um IC rodoviário.
Existe espaço que chega e sobra para uma convivência racional.

As bicicletas não partilham o espaço dos peões, partilham o dos automóveis ou têm o seu próprio espaço, é o que está no Código de Estrada, e é em regra geral o que sucede.

Existem imensas ciclovias mal desenhadas (que roubam espaço ao peão) tal como no Código a convivência entre a bicicleta e o automóvel é claramente mal enquadrada mas isso, juntamente com as evidências estatísticas do contrário, não permite dizer que a bicicleta representa um risco significativo para o peão ou utilizador de bicicleta.

Estatisticamente o maior risco é de forma avassaladora o carro, pelo simples motivo de que um erro, irresponsabilidade ou distracção (seja de quem for) é sempre fisicamente destrutivo para quem não está dentro de um habitáculo.

Não sei o que lhe hei-de dizer quando se põe a comparar o perigo para o peão de um veículo de aço de 2 toneladas que circula em média a 40 km/h com um veículo de menos 10 kg (80 com ciclista) que circula a 20 km/h em média.

The Caped Crusader disse...

Luís Lavoura, faça um exercício, se tiver coragem para tal: experimente andar de bicicleta durante um mês nos seus trajectos mais curtos diários (que podem incluir ou não casa-trabalho, ou casa-mercearia, ou casa-tasca, ou qualquer outra coisa), mas sem utilizar os passeios, utilizando a faixa de rodagem disponível, que é o que o código da estrada prevê para o uso da bicicleta. Talvez seja capaz de perceber algumas coisas, entre elas, graças à posição de condução superiormente vantajosa:

- o tráfego automóvel nesta cidade é absurdamente excessivo. há automóveis por todo o lado, a maioria desses condutores conduz como se só eles existissem. passeios e passadeiras ocupados, etc.
- é capaz de ficar surpreendido como as distâncias curtas são rapidamente transpostas, quse sem dificuldade. a bicicleta passa rapidamente para o início duma fila de carros num semáforo vermelho, esgueira-se facilmente entre cruzamentos, é mais fácil encontrar um lugar para parar, etc.
- é muito mais fácil perceber a morfologia da cidade de bicicleta. irá descobrir coisas novas na arquitectura, novas ruas por onde poderá seguir, sentir-se-á quase ilimitado nas deslocações disponíveis, etc.
- raramente há situações em que a bicicleta coloca em risco a segurança dos peões. eu fui estafeta da Camisola Amarela durante mais de um ano, e nunca coloquei em risco a vida de um peão. E tinha que me desclocar bem depressa pelas artérias da cidade. Se alguma vez assustei alguém, foi por inteira (ir)responsabilidade do peão, que não soube olhar ou não pensou na possibilidade dum ciclista estar a circular.
O ciclista não precisa de ser ouvido, os peões é que precisam de estar atentos ao que se passa à volta deles, e lembrarem-se que não existem apenas automóveis a circular na faixa de rodagem.
As bicicletas têm capacidade SUPERIOR de travagem quando comparadas com um automóvel a circular à mesma velocidade. Se não acredita sugiro que investigue antes de vir para aqui dizer barbaridades do género. Mais a mais, um choque entre uma bicicleta a circular a 30km/h e um peão produz muito menos estragos que um automóvel ou um motociclo a circular à mesma velocidade.
Basta ler as estatísticas de atropelamentos para perceber isso.

Antes de vir para aqui largar postas de pescada inanes e imbecis, eu sugeria que se informasse minimamente, ou pelo menos, que experimentasse outros meios de transporte que não o carro para poder opinar sobre eles.

Luís Lavoura disse...

Caped Crusader,

eu não ando de bicicleta, ando sempre a pé. Não preciso de bicicleta para nada, a pé vou perfeitamente.

The Caped Crusader disse...

Não percebo como é que alguém que anda sempre a pé defende tanto os automóveis. Estanto Lisboa como está, totalmente subjugada ao automóvel, juro que não entendo. Talvez o Luís Lavoura seja masoquista?

Pois de bicicleta anda-se bem mais rápido com o mesmo esforço de andar a pé. Não é por acaso que é o meio de transporte mais eficiente que existe.

Luís Lavoura disse...

Caped Crusader,

eu não defendo os automóveis a não ser quando eles são irrazoavelmente atacados, como às vezes neste blogue. Acho simplesmente que os automóveis têm o seu lugar, tal como os outros meios de transporte, e que as pessoas devem ser livres de optar por andar de automóvel, tal como eu opto por andar a pé.

Lisboa não está totalmente subjugada ao automóvel ou, pelo menos, já esteve muito mais do que o que está hoje. Hoje em Lisboa (não me refiro a subúrbios como Benfica ou o Lumiar, refiro-me à cidade) o estacionamento automóvel faz-se, em geral, de forma razoavelmente ordenada (há exceções, mas no geral da cidade observo estacionamento mais ou menos ordenado) e o tráfego nem é muito intenso (e tem melhorado muito nos últimos tempos, graças à carestia dos carburantes, que obrigou muita gente a abandonar o popó). Na minha rua, por exemplo, onde há dez anos atrás era normal estacionar-se em cima do passeio, hoje em dia isso é raríssimo.

Passeio Livre disse...

Luís Lavoura,

Já lhe explicamos que equiparar a liberdade de andar a pé com a liberdade de andar de carro é um erro crasso de alguém que não quer pensar: as consequências (as tais externalidades, Luís) de um e de outro não são, nem de perto, equivalentes. Seria o mesmo que você equiparar a liberdade do seu vizinho de tocar bateria às três da manhã ou ler um livro.

Ficamos contentes que ande de óculos cor de rosa na cidade de Lisboa. Mas lamento informa-lo que a realidade é bem diferente. Visite o blog:
http://passeiolivre.blogspot.com/

Lá encontrará uma realidade bem diferente.

Mas de facto poderá ser difícil convencê-lo, pois este mesmo blog tem inúmeros exemplos de que você não vive na mesma cidade que os outros Lisboetas.

Anónimo disse...

"eles são irrazoavelmente atacados, como às vezes neste blogue"

Realmente mostrar fotografias de países evoluídos, ricos e que não estão perto da bancarrota é um ataque desmesurado ao automóvel que só visto. E eles bem que precisam de protecção, porque em Portugal nunca existiram medidas de promoção (medidas muito racionais em termos económicos, tendo em conta que praticamente tudo o que envolve o transporte individual é importado) do uso do automóvel nem nada.

Patrícia disse...

Boa reportagem, parabéns. O que me faz mais confusão é como é que num caso destes, uma avenida tão larga, há pessoas que arranjam desculpas para isto. Palavra que pensava que não era possível...

asmelhoresfrancesinhas disse...

Mais notícias do primeiro mundo: 200 (DUZENTOS) novos quilómetros de linhas de metro em Paris: http://www.thetransportpolitic.com/2011/05/27/paris-region-moves-ahead-with-125-miles-of-new-metro-lines/

Pedro Soares Martins disse...

Passeio Livre,
Há uma lei que o proibe de exercer os seus dotes de baterista às três da manhã. Graças a Deus, não há nenhuma lei que nos retire a liberdade de andar de carro. Já percebeu onde quero chegar? Não são coisas comparáveis.
A liberdade de escolha deve ser total. Quem quer andar de bicicleta e molhar-se à chuva, deve ter essa liberdade, desde que não ande a estacionar as bicicletas em todo o lado como por vezes se vê. Quem quer andar a pé, que ande. Quem quer andar de transportes públicos, que ande. Quem quer andar de carro, que ande. Neste âmbito, o mercado autoregula-se bem: se houver muitos engarrafamentos, as pessoas escolhem outro meio. Não deve é haver imposições. Não numa sociedade livre e democrática.
pedro soares martins

Pedro Soares Martins disse...

Luís Lavoura,
Continua a chamar subúrbios de Lisboa a Benfica, Lumiar, Olivais, etc. Não vá por aí. Não faz sentido nenhum. Lisboa não é só o centro e as avenidas novas. Isso é uma pequena parte da cidade. Não é subjectivo, meu caro: esses bairros a que chama subúrbios fazem mesmo parte da cidade e é neles que vive a maior parte dos lisboetas. Isso é um non sense.
pedro soares martins

The Caped Crusader disse...

«A liberdade de escolha deve ser total. Quem quer andar de bicicleta e molhar-se à chuva, deve ter essa liberdade, desde que não ande a estacionar as bicicletas em todo o lado como por vezes se vê. Quem quer andar a pé, que ande. Quem quer andar de transportes públicos, que ande. Quem quer andar de carro, que ande. Neste âmbito, o mercado autoregula-se bem: se houver muitos engarrafamentos, as pessoas escolhem outro meio. Não deve é haver imposições. Não numa sociedade livre e democrática.»

AH AH! é o que eu digo, este tipo é só rir!

A liberdade deve ser total... importa-se de repetir?! Liberdade total? para depois termos as nossas cidades assim como estão? Ainda me lembro há uns bons 20 anos atrás, quando vivia no Porto, se alguém tivesse o desplante de estacionar o carro num local proibido (repare bem, num local proibido, nem sequer era no passeio, isso não se via na altura) nem 10 minutos depois e já estava a levar uma bela duma multazinha. Havia fiscalização (mas o tuga chamava-lhe 'caça à multa', claro. ia lá agora aceitar ser punido pelos seus erros). Deram a tal 'liberdade total' ao tuga e agora estamos assim.
Eu sei que o contexto da sua frase não era bem este, mas aproveitei-me dela. Apeteceu-me, para ilustrar esta comparação.

Mas já agora, achei piada a esta parte: «desde que não ande a estacionar as bicicletas em todo o lado como por vezes se vê.»
Ah! Curioso! Ao pedro soares martins as bicicletas estacionadas em todo o lado (suponho que se refere a elas quando estão estacionadas no passeio amarradas a um canddeiro ou sinal de trânsito) já incomodam muito, mas os pópós já não. Pois claro! Os donos coitadihos estacionam nos passeios e passadeiras porque, coitadinhos, não têm lugares. Claro.
E as bicicletas, têm lugares? Os dedos das mãos e dos pés chegam e sobram para enumerar os lugares de estacionamento para bicicletas que a cidade de Lisboa oferece. Lugares decentes, claro. Os 'empena-rodas' não contam, aquilo não é estacionamento nenhum que se apresente. E quando há estacionamento decente - exemplo: o que existe em frente aos Armazéns do Chiado - está invariavelmente ocupado por motociclos. Sim, motociclos! Impressionante não é? Os carros estacionam nos lugares das motas, e as motas depois não contentes com a lição de civismo, vingam-se nos das bicicletas! Realmente esta nossa sociedade do 'empurra a tua frustração e a tua falta de consideração para cima do próximo' é bestial. Digna de uma análise sociológica mais aprofundada.

E finalmente, tenho que discordar da sua penúltima frase. Deve sim haver imposições, como é óbvio. Uma sociedade livre e democrática, como você muito bem diz, não é sinónimo duma anarquia onde vigore a lei do mais forte. Que é precisamente o que está a passar actualmente. Nós temos as leis, mas falta-nos quem as cumpra e quem as faça cumprir. E falta-nos o civismo e o bom senso. Em sociedades mais evoluídas socialmente e civicamente como as nórdicas, também há imposições, e são mais que muitas. Só que os cidadãos já as interiorizaram como sendo algo natural e que faz funcionar bem a sociedade, algo de útil. E deixam de se sentir como imposições. Você só acha que são imposições porque continua a achar que pode fazer o que lhe apetece.

Big fucking difference!

asmelhoresfrancesinhas disse...

No início:

"Há uma lei que o proibe de exercer os seus dotes de baterista às três da manhã. "

No fim:

"Não deve é haver imposições. Não numa sociedade livre e democrática."

Muito coerente (ou como fazer mais um comentário onde não diz coisa com coisa).

Passeio Livre disse...

Pedro Soares Martins,

Quase todas as fotografias neste post e no blog http://passeiolivre.blogspot.com/ têm situações contra a lei.

Só alguns exemplos de leis de uma sociedade livre e democrática:

DL 163/2006:
“1.2.1 – Os passeios adjacentes a vias principais e vias distribuidoras devem ter uma largura livre não inferior a 1,5m.

DL 9/2007:
a) As zonas mistas não devem ficar expostas a ruído ambiente exterior superior a 65 dB(A), expresso pelo indicador L(índice den), e superior a 55 dB(A), expresso pelo indicador L(índice n); Se consultar a Carta de Ruído de Lisboa verá que a Av. 24 de Julho e quase todas as outras de Lisboa estão a violar a lei.


Decreto-Lei n.º 102/2010:
A poluição do ar “em todas as áreas urbanas” está “muito acima do previsto” na lei: o exemplo de Lisboa onde se registaram 261 medições acima dos limites, quando o máximo são 35 medições excessivas.


Artigo 49º do Código da Estrada:
1 - É proibido parar ou estacionar:
(...)
f)Nas pistas de velocípedes, nos ilhéus direccionais, nas placas centrais das rotundas, nos passeios e demais locais destinados ao transito de peões;


Quer mais?!

Pedro Soares Martins disse...

Eu por princípio não estou de acordo com a deposição temporária de veículos em cima do passeio. Mas também não podemos ser fundamentalistas. Há muitas zonas onde os cidadãos não têm outra alternativa, por haver um deficit de disponibilização de lugares por parte do poder público. Na segunda parte deste post, vejam as fotografias 6, 7 e 8. Há outro sítio legítimo para as pessoas estacionarem? Não há. Não podemos ser cegos e tratar todas as situações de igual forma.
Por último lugar, eu não falei em "liberdade total" e agradeço que não deturpem as minhas palavras. Os automobilistas não têm liberdade total e já têm muitas restrições, desde sentidos proibidos a semáforos de controlo de velocidade, passando por falta de lugares de estacionamento. As pessoas que andam a pé, com quem eu aliás simpatizo, não têm tantas restrições e até se dão ao luxo de atravessar a rua fora das passadeiras.
Enfim, temos de confiar no bom-senso das pessoas, tudo se resolve a contento de todos e neste capítulo precisamos pouco de imposições externas.
pedro soares martins

The Caped Crusader disse...

Lamento Pedro Soares Martins, mas isso não é verdade o que você diz, e não pode servir de desculpa.

Eu vivo na zona de Pedrouços/Algés já vai para 7 anos e nunca, NUNCA precisei de estacionar o meu carro no passeio. Claro que muitas vezes tenho que deixar o carro a 400, 500 ou 600 metros de distância de casa, mas pelo amor de deus, andar um bocadinho a pé nunca fez mal a ninguém. O problema do português típico carrodependente, e secalhar o seu também já que desculpa as suas acções, é não serem capazes de deixar o carro longe e quererem a toda a força colocá-lo dentro do seu raio de visão quando vão para casa ou para o trabalho. É completamente ridículo.
Há sempre alternativas, basta procurar e colocar como prioridade nas suas acções não incomodar terceiros por puro egoísmo ou 'umbiguismo'.

Depois, outra coisa com que não posso de maneira nenhuma concordar: Falta de estacionamento? O pedro soares martins está a ver o problema ao contrário... não há falta de lugares de estacionamento, há é carros a mais a circular nas cidades, ou não costuma ler as estatísticas de tráfego? Qualquer outra cidade europeia, grande capital, tem bem menos lugares de estacionamento disponíveis do que Lisboa tem. O que nós temos é uma população cada vez mais sedentária que depende do seu carro para ir para qualquer lado. Mas este argumento já cansa, foi já demasiadas vezes aqui exposto, não entendo a sua teimosia. O português precisa de se libertar do carro e aprender a deslocar-se doutra forma, usando os transportes públicos, partilhando o carro com outros, procurando casa mais próxima do trabalho ou trabalho mais próximo de casa, etc. Se nos outros países se procuram alternativas à carrodependência porque raio teremos nós que ser teimosos e contrariar um caminho que será normal, inevitável?

O outro seu argumento de que os peões tem toda a liberdade e não têm tantas restrições também tem piada... como se se pudessem comparar as duas coisas, cidadão auto-mobilizado que já por cá anda há mais tempo, e o cidadão motorizado.
Logo para começar, há a questão da escala. Um automóvel com uma pessoa lá dentro ocupa 25 ou 30 vezes mais espaço na cidade que uma pessoa a pá. Polui infinitamente mais, suja infinitamente mais, prejudica o ambiente infinitamente mais. Depois, um automóvel é uma máquina de matar. Basta um atropleo a 30km/h para ferir gravemente uma pessoa ou mesmo matá-la, bem como causar danos materiais avultados.
Da mesma maneira, há muitos anos que a balança do favorecimento pende claramente para o lado do automóvel: as cidades são desenhadas em função da utilização do automóvel e não do peão. Experimente andar na cidade a pé e esperar pelo sinal verde dos peões na maioria das passadeiras. Os automóveis têm sempre prioridade, em muitos casos (a maioria) nem 20 segundos esperam pelo verde enquanto que o peão em muitos casos (a maioria) chega a ter de esperar 2 minutos pelo sinal verde. Os passeios destruídos, sujos, deformados pelo peso dos automóveis, zonas onde nem se consegue passar com um saco de compras quando mais com uma cadeira de rodas ou carrinho de bébé, quanto mais fzaer uma mudança ou transportar um sofá para casa. E ainda é capaz de dizer que os peões se são ao luxo de atravessar fora das passadeiras?! Quando na maioria das vezes nem as passadeiras estão disponíveis?

Ó pedro soares martins, tenha vergonha!

Pedro Soares Martins disse...

Se se colocasse na minha posição perceberia que não é fácil discutir com pessoas fundamentalistas.
Não me falem de sustentabilidade, porque a mim não me dão lições nessa matéria. E, não querendo ser presunçoso, se calhar eu posso dar-vos algumas.
E já que falam em poluição, lembrem-se que o carro eléctrico está a chegar em força. Vão ter de arranjar outros argumentos anti-carro, porque os carros sustentáveis vieram para ficar.
Ah, e eu não falei de algés nem de pedrouços, que não conheço nem quero conhecer.
pedro soares martins

Nuno disse...

Pedro Soares Martins,

Os carros eléctricos são carros na mesma, aqui falava-se de espaço, não de fontes de combustível.

É verdade que os carros eléctricos são mais silenciosos e não emitem gases quando circulam (emitem-nos na geração de electricidade) mas o problema mantém-se exactamente igual, mesmo que centenas de milhares de condutores tenham a possibilidade de adquirir em massa veículos de 35.000€.

Quanto a sustentabilidade, não ficaria nada surpreendido se um carro convencional com 4 pessoas fosse mais eficiente do que um eléctrico com as 1.4 pessoas que são a média nacional.
E também ocuparia bem menos espaço, permitindo uma melhor vivência da Avenida, sem prejuízo para o transporte automóvel de pessoas, para além de poupar muito dinheiro aos passageiros, sem necessidade de incentivos fiscais e infraestruturas incompreensíveis por parte do Estado.

asmelhoresfrancesinhas disse...

"Há muitas zonas onde os cidadãos não têm outra alternativa, por haver um deficit de disponibilização de lugares por parte do poder público."

Mas então o mercado não resolvia todos os problemas?
Até mete impressão ver uma pessoa a enterrar-se tanto como o Pedro se enterra de cada vez que fala!

Anónimo disse...

"Se se colocasse na minha posição perceberia que não é fácil discutir com pessoas fundamentalistas."

As únicas pessoas fundamentalistas a aqui falarem foram o Pedro e o Luís Lavoura.


"Enfim, temos de confiar no bom-senso das pessoas"

O bom-senso das pessoas em Portugal mata quase tanta gente nas estradas como em Espanha (em números absolutos). O Pedro possivelmente não saberá isso, porque no post onde se falou nisso o Pedro como não consegue encaixar isso na sua mente, meteu a cabeça na areia e o rabinho entre as pernas e fez de conta que não o leu.

asmelhoresfrancesinhas disse...

"que o carro eléctrico está a chegar em força"

Meu menino, o carro eléctrico chegou em força no século XIX, estás atrasado quase 200 anos (foi inventado na década de 20 do século XIX). E durante quase 100 anos teve a maioria do mercado: só após a Grande Guerra é que pela primeira vez os carros de combustão interna passaram a ser mais vendidos do que os carros eléctricos.

E porque é que os carros de combustão interna tomaram a dianteira no mercado, mesmo sendo já na altura mais barulhentos, menos fiáveis, gastarem mais óleo do que combustível e ainda por cima deixavam as roupas dos passageiros a cheirar a fumo? 2 motivos muito simples: eram muito mais baratos e tinham muito mais autonomia.
Desvantagens que os carros eléctricos têm e que passado quase um século ainda não se conseguiram resolver.

Além do mais já se ouve «que o carro eléctrico está a chegar em força» pelo menos desde a grande depressão, depois a partir da 2ª Guerra Mundial perdeu-se o entusiasmo, mas depois nos anos 60 os EUA gastaram centenas de milhões de dólares em subsídios (por motivos de segurança nacional e independência energética) para massificarem os carros eléctricos (o objectivo era que em 1980 99% dos veículos ligeiros de passageiros deveriam ser eléctricos). Os resultados? Viram-se.
Depois nos anos 70 e 80 com as crises do petróleo idem aspas. Nos anos 90 foram lançados diversos modelos de carros eléctricos (os CTT chegaram a ter dezenas de veículos eléctricos na sua frota durante os anos 90). Todos com resultados brilhantes em termos comerciais (mesmo com subsídios chorudos - por exemplo em França foi um fartar vilanagem para subsidiar o Citröen Saxo eléctrico que mal acabaram os subsídios deixou de ser fabricado).

Paulo Vieira disse...

The Caped Crusader disse...
>
> Eu vivo na zona de Pedrouços/Algés já vai para 7 anos e nunca,
> NUNCA precisei de estacionar o meu carro no passeio. Claro que
> muitas vezes tenho que deixar o carro a 400, 500 ou 600 metros
> de distância de casa,

Já morei em várias zonas de Lisboa (Graça, Av. Morais Soares, Alvalade). Tal como foi dito, consegui sempre encontrar um lugar (legal) para estacionar o carro numa distância inferior a 500/600 metros da minha casa. O que tive foi de guiar 5 ou 10 minutos até encontrar esse lugar, mais outros 5 ou 10 até chegar a casa. Mas a maior parte das pessoas não está para se chatear com isso. É este umbiguismo que domina a mentalidade das pessoas na hora de estacionar. O carro fica no primeiro lugar que encontrarem, nem que seja em cima do passeio, porque "se não for eu, será a próxima pessoa que ali passar". É como num saque a uma loja numa situação de catástrofe: "se não for eu a roubar, vai ser a próxima pessoa que passar" (passe o exagero da comparação, mas na verdade a ocupação do espaço público pelos automóveis pode ser entendida como um saque).

Acho que a mudança deste paradigma passa por censurar publicamente sempre que vemos pessoas a estacionar, para começarem a perceber que os seus actos estão de facto a incomodar os outros. Não há qualquer necessidade de criar discussões ou mau ambiente. Uma simples chamada de atenção, feita de maneira calma e educada, para o facto de que o carro no passeio impede a passagem de carrinhos de bebés ou cadeiras de rodas, já é suficiente para as pessoas começarem a pensar nisso de outra maneira. Não me admirava que o condutor se ria na cara da primeira pessoa que lhe disser isso, mas quando ouvir essa chamada de atenção pela décima ou vigésima vez, talvez reveja o seu comportamento.

Pessoas mais velhas dizem-me que há 20 anos era complicado andar nas ruas da zona de Alvalade sem pisar nos cócós dos cães (que na altura embelezavam em abundância as nossas avenidas). Provavelmente na altura as pessoas argumentavam algo semelhante ao que aqui se disse:

-"o cão tem de fazer cocó, a culpa não é minha!"
-"a câmara é que a responsabilidade de arranjar sítios para os cães fazeres cocó.", ou
-"mas eu vou limpar o cocó de que maneira?"

Hoje parece-me que esta situação está bastante melhor. De facto, hoje é visto como um acto reprovável se o dono do animal não limpar o cocó que deixa. É algo que prejudica todos. É esse sentido de estar a fazer algo reprovável que temos de alcançar. Isso consegue-se demonstrando publicamente o descontentamento perante os abusos destas "liberdades" (como alguns lhe chamam).

Franck disse...

@ pedro soares martins: «Ah, e eu não falei de Algés nem de Pedrouços, que não conheço nem quero conhecer.» Eu não gosto nem pretendo malhar no "ceguinho" como sói dizer-se, mas essa do não conheço nem quero conhecer, depreende-se de que matéria vc é construído. Pois olhe, ou antes, leia, eu vivi mais de 30 anos na zona de Pedrouços, andava de moto na altura há longos anos pois nunca gostei de andar enlatado em cima de 4 rodas e amarrado a um banco para conduzir. Na "minha" rua que era estreita e sobre-lotada de latas com 4 rodas, poderia, como todos os outros faziam, acomodar a minha duas rodas em cima do passeio, encostada ao prédio porque ainda ficava espaço para duas pessoas passarem lado a lado à vontade, mesmo com sacos de compras (aqui esclareço que a rua (estrada) sendo estreita, as latas estacionavam numa das faixas ficando a outra para circular nos dois sentidos). Mas como me ensinaram de pequenino a respeitar as pessoas (e não fui criado num berço d'ouro, porque a educação não é apanágio apenas de gente nobre), fazia o seguinte: trabalhando nos Restauradores, ia de moto até ao Largo do Calvário/Alcântara, deixava-a numa garagem da que é a actual Rua José Dias Coelho (antiga Rua da Creche) e depois apanhava o eléctrico no Calvário até casa (Pedrouços). No outro dia, fazia o mesmo em percurso em sentido inverso. Quando vim morar para o actual local e porque não existiam condições para estacionar as duas rodas, vendi-a e comecei a andar de transportes públicos embora, com isso, ficasse sem a minha liberdade de não ter de esperar infinitos tempos pelo transporte, em viaturas sobre-lotadas, etc., etc.. Contudo, existem meninos que neste local, até estacionam as latas em cima dos passeios e encostadinhos ao poste de paragem da Carris, além de os dois passeios estarem completamente ocupados por outras latas, incluindo a passadeira existente, em frente às portas dos prédios pondo em risco uma saída de emergência...! É d'isto que vc fala? Da falta de civismo? Da falta de educação? Do completo desrespeito pelo próximo? Que culpa tenho eu que não existam condições para estacionamento automóvel nas imediações das vossas casas? Os passeios foram concebidos e construídos para circulação pedonal e não para estacionamento selvagem automóvel! A lei proíbe o estacionamento auto em cima dos passeios, das passadeiras e nas paragens de transportes públicos, lei essa que aplicada ao Código da Estrada e sendo desrespeitada, é agora classificada como MUITO GRAVE! E parecendo que você não deve ser do tempo em que a circulação automóvel em Lisboa era reduzida, na rua onde nasci e morei até aos 18 anos, uma rua bem comprida por sinal, existiam apenas 3 carripanas estacionadas, pertencentes a tipos "bem na vida", naquele tempo, os únicos que podiam dar-se ao "luxo" de ter carro e era sinónimo de pessoa bem, aliás, agora qualquer mafarrico, antes do plasma HD, do blue-ray, do iPod, do iPad (ou dos Galaxy's S), tablets e outros artefactos de última geração, tem forçosamente de ter uma lata porque viajar em transportes públicos é para a geração à rasca! E isso, não é porreiro, pá!