O esplendor (automóvel) da Universidade de Coimbra (4)

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O acesso desmesurado de veículos automóveis à Alta Universitária provoca, naturalmente, situações de congestionamento de trânsito (agravados pelas voltas que muitos automobilistas dão à procura de um lugar para estacionar).

Toda esta situação é fácil de explicar, mas difícil de compreender.

A oferta de estacionamento automóvel é escassa para toda a procura potencial. Nem poderia ser de outra forma: seria impraticável criar lugares de estacionamento para todos os potenciais visitantes da universidade: o número de pessoas que acedem à Alta Universitária é muito elevado.

Com efeito, a Universidade de Coimbra tem mais de 9 mil estudantes de licenciatura inscritos (dados de 2009). A estes acrescem mais de 11 mil alunos de doutoramento, de mestrado e de pós-graduação. Ou seja, o total de alunos inscritos na Universidade de Coimbra é superior a 20 mil.

A estes mais de 20 mil acrescem os professores da Universidade e os investigadores, em número superior a 1 300.

Há ainda que somar todos os funcionários (não docentes) da instituição (não incluindo membros dos órgãos da universidade): os que têm contrato de trabalho efetivo (e apenas esses) são cerca de 700.

Parte da Universidade está sedeada fora da Alta de Coimbra, mas o núcleo principal está aqui. Grande parte dos serviços da Universidade (Reitoria, Biblioteca Geral, Arquivo, etc.) estão também situados na Alta Universitária, pelo que são procurados mesmo pelos estudantes e professores que estudam / lecionam fora da Alta.
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Ainda assim, fizemos as contas e concluímos que, só nas várias faculdades sedeadas na Alta de Coimbra [Letras, Direito, Ciências e Tecnologia (Arquitectura, Ciências da Terra, Ciências da Vida, Física, Química e Matemática), Farmácia, Medicina e Psicologia e Ciências da Educação], o número de estudantes, professores, investigadores e funcionários será superior a 18 mil (menos cerca de 1 500 se retirarmos a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, um pouco afastada do núcleo central de edifícios).

Mas os visitantes da Alta Universitária não se ficam por aqui: a universidade velha é uma das principais atrações turísticas de Coimbra e é visitada pela esmagadora maioria dos turistas que vistam a cidade. Segundo dados da própria Universidade de Coimbra, os turistas que acedem aos edifícios visitáveis do Paço das Escolas (Biblioteca Joanina, Sala dos Capelos, Prisão Académica, etc.) são cerca de 200 mil por ano.

O número de lugares de estacionamento legal disponível na Alta de Coimbra é de pouco mais de 1 200. A desproporção entre procura potencial e oferta é, como se vê, enorme.

Ainda assim, esses 1 200 lugares são excessivos, pela grande desproporção do espaço dedicado ao automóvel nesta (relativamente) pequena área universitária, pela grande quantidade de pessoas que inevitavelmente aqui se deslocam a pé e pelas características do espaço (uma zona universitária).
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Contra as regras do bom senso, quase 40% desses lugares de estacionamento são gratuitos, o que constitui um autêntico convite a que as pessoas tragam o seu automóvel para a universidade. Dos restantes 60%, cerca de 47% constituem lugares reservados para a Universidade – muito baratos, por sinal: cerca de 13 € por mês (44 cêntimos por dia). O resto – a minoria – são lugares pagos, com parquímetros, que custam menos de 3 euros por 4 horas [Teoricamente, trata-se estacionamento de rotação: quatro horas é o tempo limite de estacionamento; mas já se sabe que é fácil contornar (ilegalmente, diga-se) essa dificuldade: ao fim das quatro horas coloca-se novo talão no automóvel e o problema fica resolvido.]
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De acordo com um estudo conduzido por investigadores na Alta Universitária, no âmbito de um trabalho de mestrado, os utilizadores do automóvel particular queixam-se da escassez de lugares de estacionamento e a grande maioria deles (mais de 75%) admite pagar para ter estacionamento na universidade. Este tipo de argumento é muito comum no nosso país, mas é relativamente fácil constatar que, neste domínio, há uma grande distância entre o mundo das intenções declaradas e o dos comportamentos adotados, sobretudo quando a fiscalização policial é ineficaz.

O mesmo estudo revelou, aliás, isso mesmo: diariamente, pelas 8:40 h da manhã, todo o estacionamento gratuito já está ocupado. Na meia hora seguinte, os automobilistas preenchem o que resta dos locais de estacionamento ilegal. Só quando o estacionamento ilegal fica praticamente saturado é que (até cerca das 9:30 h) são ocupados os lugares de estacionamento legal e pago...
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A Câmara Municipal de Coimbra, além da linha de metro, planeia, como (parte da) “solução” para o problema de que damos conta neste artigo, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça Dom Dinis (ao cimo da Escadaria Monumental da Universidade), com capacidade para 400 viaturas (estacionamento pago). A ideia, ao que parece, não é eliminar 400 lugares de estacionamento legal à superfície (enterrando-os nessse parque subterrâneo), mas, sobretudo, responder ao problema do estacionamento ilegal, aumentando a oferta de estacionamento na zona – o que, como sempre acontece nestes casos, incentivará ainda mais pessoas a levar o automóvel particular para a Universidade e aumentará, consequentemente, a pressão automóvel na zona.

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