A rede portuguesa de auto-estradas: motivo de orgulho? (9)

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(continuação) (clique aqui para ver a oitava parte)

No artigo anterior, comparou-se a rede nacional de auto-estradas com a dos restantes países da União Europeia, quer em termos absolutos, quer em termos relativos. Foi possível verificar que, em qualquer caso, Portugal está sempre nos primeiros lugares entre os países da UE. Mas também pudemos constatar que não estamos sozinhos: há alguns (poucos) países com valores próximos dos nossos ou até superiores. Todos mais ricos do que Portugal, diga-se.

Há, no entanto, uma diferença muito importante entre a situação portuguesa e a desses outros países, que agrava significativamente a nossa posição: a situação da nossa rede ferroviária.

É a seguinte a ordenação os países da União Europeia de acordo com o índice rede de auto-estradas / rede ferroviária:
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A tabela indica o número de metros de auto-estrada por quilómetro de ferrovia (2008): assim, por exemplo, a Alemanha tem 335 metros de auto-estrada por cada quilómetro de linha férrea.

* A ilha do Chipre, que tem 257 quilómetros de auto-estrada, não tem linhas férreas. Torna-se, pois, impossível apresentar um índice.
** Malta, uma ilha mais pequena do que a Terceira (Açores), não tem auto-estradas, nem ferrovia.
*** A Letónia não tem auto-estradas. Mas tem 2 263 km de ferrovia. Está, pois, no extremo oposto ao do Chipre e lideraria, portanto, esta tabela se tivéssemos ordenado os 27 países da União pelo índice inverso - número de quilómetros de ferrovia / quilómetros de auto-estrada.


Não será ilegítimo considerar o Chipre um caso à parte, pelo facto de se tratar de uma ilha. Portugal estaria, portanto, no topo desta lista, sendo apenas ultrapassado pela Espanha.

Mas se isto já nos devia envergonhar, a verdade é que temos razões para nos envergonharmos ainda mais.

Um facto impressionante é que, excetuando os casos de Espanha e da Holanda, a diferença entre Portugal e os restantes países é muito acentuada. A Bélgica surge logo em 6.º lugar nesta tabela, mas enquanto que em Portugal a rede de auto-estradas é praticamente tão extensa como a rede ferroviária (948 m de auto-estrada por cada 1000 m de ferrovia), na Bélgica a rede ferroviária duplica a extensão da rede de auto-estradas! O valor de Portugal quase triplica o de países como a Dinamarca, a França ou a Alemanha, praticamente quadruplica o do Reino Unido e do Luxemburgo, é quase seis vezes superior ao da Suécia e sete vezes e meia o da Finlândia.

Por outro lado, nem a posição da Espanha nos pode atenuar um pouco a vergonha.

É que estes dados são relativos a 2008 (pelas razões explicadas no artigo anterior). De então para cá:

- Portugal continuou a inaugurar auto-estradas e, como se sabe, está a construir mais centenas de quilómetros de auto-estrada;

- no nosso país foram inaugurados 9 (nove) quilómetros de ferrovia (Ramal do Porto de Aveiro) [foi também inaugurada uma variante de 3,5 km, mas em substituição de um troço de 4 km];

- foi encerrada a Linha da Lousã (35 km) e foram ainda encerradas (definitivamente?) várias outras linhas férreas - Tua (troço de 42 km), Corgo (25 km), Tâmega (13 km) e Ramal da Figueira da Foz (50 km) estão, pelo menos, sem utilização (sendo que os dados do Eurostat se referem precisamente apenas às linhas em funcionamento).

Enquanto isto, a Espanha inaugurou duas ou três dezenas de quilómetros de auto-estrada e centenas de quilómetros de linhas férreas, e está presentemente a construir quase dois mil quilómetros de ferrovia. Ou seja, se a Espanha aparece, nesta tabela de 2008, como tendo uma rede de auto-estradas tão extensa como a rede ferroviária, a realidade atual já é bem diferente.

Em suma, e sempre excecionando o caso particular do Chipre, Portugal é hoje o único país da União Europeia com mais quilómetros de auto-estrada do que de linhas férreas – e com tendência para essa diferença se acentuar de modo significativo, face às centenas de quilómetros de auto-estrada em construção e à continuação do desinvestimento na ferrovia (pairando sobre várias outras linhas a ameaça de encerramento).

Como se isto não bastasse, enquanto a Espanha ou a Holanda (os únicos países com valores próximos de Portugal) têm uma verdadeira rede ferroviária digna desse nome, Portugal não tem. E, por outro lado, grande parte da nossa "rede" ferroviária continua sem ser modernizada: Linha do Minho, Linha do Oeste e Linha do Algarve são apenas três exemplos de linhas seriamente carecidas (parcial ou totalmente) de modernização. 
Por outras palavras, enquanto em Espanha o comboio consegue competir com a auto-estrada, em Portugal isso sucede apenas com pouquíssimas linhas (basicamente, Linha do Norte e Linha do Sul). O que vai explicando a situação quase dramática de grande parte da nossa ferrovia.

Tudo isto resultou de uma opção estratégica pela qual se encarou a rede de auto-estradas como prioritária e a ferrovia como meramente secundária. Não por acaso, coincidente com o início da febre das auto-estradas, no final dos anos 80 (sendo então primeiro-ministro Cavaco Silva), foi a opção de encerrar uma parte bastante significativa da nossa “rede” ferroviária [a tristemente célebre “razia de Cavaco”], sem qualquer preocupação de a renovar ou substituir.

Essa opção revela-se claramente na distribuição dos fundos milionários da União Europeia de que Portugal beneficiou no último quarto de século.

Se atentarmos, por exemplo, no quadro do Fundo de Coesão I, referente ao período de 1993-1999 (ainda o único com relatório publicado), foi a seguinte a distribuição dos fundos comunitários na área dos transportes:
- Portos: 7%
- Aeroportos: 12%
- Ferrovia: 19%
- Rodovia: 62%  (auto-estradas A1, A2, A3, A4, A6, A9, A21/Ponte Vasco da Gama, A36/CRIL…)

O grosso destes parcos fundos comunitários destinados à ferrovia foi aplicado na modernização da Linha do Norte: 83,1%. Os restantes 16,9% destinaram-se à Linha da Beira Alta. E mais nada.

Claro que isto não constitui surpresa, mas nunca é demais realçar esta oportunidade única irremediavelmente perdida; de um país que não é rico e que apostou de forma claramente predominante nas auto-estradas, no que constituiu mais um reflexo do novo-riquismo em que, infelizmente, nos tornámos tão férteis desde que os milhões da União Europeia começaram a chegar. Em Portugal investiu-se abundantemente na mentalidade de que o comboio é para os pobres coitados que não têm a possibilidade de usar o automóvel. A “mobilidade sustentável” é um conceito que tem custado muito a penetrar nas nossas atrasadas mentalidades, embora por vezes esteja muito presente ao nível do discurso.

Não podemos impor o modo ferroviário como forma exclusiva de deslocação dos portugueses. A existência de uma boa rede viária principal é importante e não pode, evidentemente, ser subestimada ou desprezada. Mas através do investimento feito nas auto-estradas, o que fizemos e estamos a fazer na maior parte do país é justamente o inverso: estamos a impor o modo rodoviário como forma de deslocação por excelência dos portugueses, deixando as populações sem alternativa.

A inexistência de uma alternativa não rodoviária vai, aliás, tornar-se um problema bem bicudo de resolver quando o preço do petróleo começar a subir. Se se pode dizer que Portugal está neste momento a fazer uma aposta na introdução dos automóveis elétricos, não é menos verdade que estamos ainda muitíssimo longe de saber se desta vez o carro eléctrico vai mesmo vingar - e mesmo que vingue, isso só irá acontecer daqui a muitos anos: as expectativas mais otimistas apontam para duas a quatro décadas (mesmo o muito ambicioso - e irrealista? - plano português aponta para apenas 10% do parque automóvel daqui a 10 anos: sobrarão 90% de veículos...). Certo, certo é mesmo o aumento brutal do preço do petróleo e que ele vai ocorrer seguramente muito antes de o atual parque automóvel ter sido substituído (?) pelos automóveis pseudo-verdes.

Os outros países da Europa não se desfizeram das suas redes ferroviárias – pelo contrário, não deixaram de apostar nelas. Nós preferimos meter-nos num trapézio sem rede. Fomos muito pouco inteligentes e agimos sem visão de futuro.
  

Entre 1986 e 2008, a rede de auto-estradas cresceu mais de 1600%. A rede ferroviária diminuiu 21%.

Um pouco por todo o país, foram sendo construídas auto-estradas nos corredores atravessados por linhas férreas, num processo de contínua “substituição” da ferrovia pela auto-estrada. Alguns exemplos:

- entre a Régua, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Vidago e Chaves, onde o comboio já não apita, a auto-estrada A24 segue o corredor da Linha do Corgo encerrada por Cavaco Silva;

- entre Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança, onde o comboio já não passa, a auto-estrada A4 (neste momento em construção) segue o corredor da Linha do Tua encerrada por Cavaco Silva;

- entre Aveiro, Vouzela / Oliveira de Frades / São Pedro do Sul e Viseu, onde o comboio da Linha do Vale do Vouga deixou de apitar, impõe-se agora, sem concorrência, a auto-estrada A25;

- entre a Pampilhosa, Cantanhede e a Figueira da Foz, onde o comboio também já não passa (Ramal da Figueira da Foz), passa agora a A14;

- entre a Figueira da Foz, Leiria, Caldas da Rainha, Torres Vedras e Lisboa, onde continua em processo de morte lenta uma das maiores linhas férreas portuguesas (a Linha do Oeste), passam agora as auto-estradas A17 e A8, em concorrência à auto-estrada A1;

- entre Évora, Evoramonte, Estremoz e Borba, a auto-estrada A6 segue o caminho da desativada Linha de Évora;

- entre as cidades de Lagos, Portimão, Lagoa, Albufeira, Loulé, Faro, Tavira e Vila Real de Santo António, a muito carecida de modernização Linha do Algarve vê agora os automóveis passar rapidamente na auto-estrada A22.

Nem é necessário ir buscar lá fora os bons exemplos de uma ferrovia cada vez mais bem sucedida (em prejuízo do poluente automóvel), para se concluir como tudo poderia (e deveria) ter sido diferente nesta nossa terrinha: o exemplo da Linha do Norte permite perceber melhor porque é que devemos falar de grande oportunidade perdida e de erro histórico.

Como se sabe, a Linha do Norte beneficiou de um grande investimento de modernização (não concluído) e é hoje a menina dos olhos de ouro da CP: é o serviço ferroviário de melhor qualidade existente no nosso país (e até dá lucro). No corredor Lisboa – Porto, a Linha do Norte concorre hoje verdadeiramente com a auto-estrada. E se, pela lógica das coisas, a auto-estrada faz mais sentido nas médias e longas distâncias, no corredor Lisboa – Porto é precisamente nessas distâncias que os portugueses trocam mais facilmente a auto-estrada pelo comboio!

Assim, nas deslocações de média e longa distância no corredor Lisboa-Porto, a quota do automóvel era, em 2003, de 78% e a do comboio 12%. Nas deslocações curtas, a quota do automóvel subia para 93% e a do comboio descia para apenas 3%.

Dados mais recentes (2009) mostram que, no percurso Porto-Lisboa ou Lisboa-Porto, o número de passageiros do comboio tem aumentado continuamente, ganhando mercado ao automóvel e ao autocarro (nesse percurso, o comboio tem, aliás, desde há vários anos, a maior parte da fatia de mercado dos transportes públicos): se a quota de mercado do comboio é quase insignificante nas viagens entre as estações intermédias (quem vai de Santarém a Coimbra ou de Espinho a Coimbra usa a auto-estrada), no percurso entre Lisboa e o Porto a quota do modo ferroviário andará atualmente perto dos 20% e só não é mais alta porque a Linha do Norte está saturada, não havendo capacidade para um aumento da frequência de comboios (nem frota): os comboios rápidos têm de conviver na mesma linha com os suburbanos, com os regionais, com os Inter-regionais e com os comboios de mercadorias.

Apesar destes sinais claros de que entre Lisboa e o Porto a quota do comboio podia subir significativamente e da necessidade imperiosa de se apostar numa mobilidade mais sustentável, preferiu-se construir uma segunda auto-estrada Lisboa - Porto (A8 + A17 + A29), em lugar de, por exemplo, se investir em frota e construir outra linha férrea. Incompreensível.

E o que se diz da Linha do Norte diz-se de outras zonas do país onde se preferiu construir auto-estradas a construir, com o mesmo dinheiro, boas estradas e ferrovia ou apenas ferrovia (nos casos em que as estradas existentes eram suficientes, ainda que mediante requalificação e/ou correção de traçados).

Portugal não é um país rico. Não podíamos, pois, fazer em todo o país um investimento idêntico àquele que foi feito na Linha do Norte e construir ainda uma rede de auto-estradas com a dimensão atual. Havia, pois, que gerir os recursos disponíveis, repartindo-os pela ferrovia e pela rodovia (sempre com a preocupação fundamental de incentivar a primeira e nunca a segunda), à medida das nossas capacidades. Em vez disso, o nosso país praticamente limitou-se a construir auto-estradas, acima das nossas capacidades.  

De facto, não temos grandes motivos para nos orgulharmos da rede de auto-estradas que construímos. Pelo contrário: temos razões para ter vergonha. Continuamos, contra a corrente atual, a incentivar o uso do automóvel e a apostar numa mobilidade cada vez mais insustentável. A caminho do abismo?

Joana Ortigão

32 comentários:

Anónimo disse...

Don't worry. Quando o litro do combustível estiver a 3 ou 4 euros, os senhores que nos meteram nesta situação (Cavaco, Guterres, Barroso, Lopes e Sócrates) vão com certeza arranjar uma forma de evitar o cáos.

Anónimo disse...

Tudo se há de arranjar. Era bom a Joana meter na cabeça que nós portugueses não gostamos de andar de combóio e preferimos o conforto do carro. Porque diabo havíamos de gastar dinheiro a construir linhas de comboio para ninguem andar nelas?

Paulo disse...

Parabéns Joana, pelo o artigo, cujo teor subscrevo na totalidade. Ainda que fossem necessárias algumas auto-estradas o país deveria ter investido mais na ferrovia, pois é um transporte que favorece uma mobilidade mais sustentável.
Pode ser que o aumento dos custos rodoviários associados à introdução de portagens nas SCUT'S, ao aumento dos combustiveis, tarifação do estacionamento e outras taxas e impostos leve os portugueses a repensar a sua mobilidade e com isso a optar por modos de transporte mais racionais económica e ambientalmente, de que a ferrovia é um bom exemplo.

Paulo Fonseca

Miguel Freitas disse...

Entre os economistas costumamos dizer, por brincadeira, que apesar de tanta profusão de teorias, as previsões económicas são tão fiáveis como as previsões meteorológicas. Mas quanto aos combustíveis só há certezas: vão subir e muito. E nós estamos muito mal preparados para esse cenário, para não dizer pessimamente, devido a este nonsense do abuso nas auto-estradas e do esquecimento no comboio.

Eis o que poderá acontecer quando esse momento chegar: nas velhinhas linhas de comboio que se fecharam e que ainda seja possível pôr a funcionar (se calhar são poucas), pôem-se lá uns comboios em cima (os que houver, se houver frota para isso) e o povão volta a usá-las, a 20 ou 30 km à hora, depois de termos investido este dinheiro todo para acelerarmos a 150 km à hora nas auto-estradas.

Nos outros casos, que se calhar vão ser a maioria, não sei. Andar de autocarro será uma opção, mas necessariamente muito cara, fora do alcance da generalidade das bolsas. Construir linhas de comboio demoraria anos e já não temos dinheiro para isso.

Eu se fosse daquelas pessoas que trabalha em Lisboa ou no Porto e foi morar para longe, de onde só pode sair de carro, se calhar começava a pensar seriamente em mudar-me para a cidade outra vez, enquanto a procura de casa na cidade não disparar e os preços não subirem em flecha.

Quanto ao transporte de mercadorias, há sempre a opção do burro, do boi e do cavalo.

A era do automóvel, tal como a conhecemos, tem os dias contados.

Bom post. Só não percebi bem a referência ao "pseudoverde" quanto ao automóvel eléctrico.

Anónimo disse...

E porque é que gastamos dinheiro em autoestradas para ninguém andar nelas?

G disse...

Eu nunca falaria bem da rede ferroviária espanhola. A única coisa que eles têm que nos falta é a Alta Velocidade, e passamos bem sem ela. Quanto ao resto, não é muito diferente da nossa.

Anónimo disse...

"Porque diabo havíamos de gastar dinheiro a construir linhas de comboio para ninguem andar nelas? "

Fizemos isso em quase 2000 km de AE que estao sempre vazias e "ninguem" se queixa.

Anónimo disse...

"e passamos bem sem ela."

Nao, nao passamos.

Anónimo disse...

"Só não percebi bem a referência ao "pseudoverde" quanto ao automóvel eléctrico. "

Um exemplo: http://menos1carro.blogs.sapo.pt/224617.html

Anónimo disse...

Mais outro exemplo: http://menos1carro.blogs.sapo.pt/190485.html

Anónimo disse...

Mas isso também se aplica aos comboios movidos a electricidade. Porque é que nos carros eléctricos a energia não é limpa e nos comboios já é?

Anónimo disse...

"Porque é que nos carros eléctricos a energia não é limpa "

Se alguma vez ouviu alguém dizer isso é porque não percebia nada do assunto ou se percebia estava a mentir. A energia eléctrica que os comboios utilizam não é mais limpa ou mais suja que a energia que qualquer que funcione a electricidade utilize.
Simplesmente, quando se está a falar de transportes é muito mais eficiente em termos energéticos (o que pode não ter nada a ver com ambiente) mover pessoas ou bens utilizando um comboio com 400 pessoas do que usar 300 carros para mover essas mesma 400 pessoas.

Tó disse...

Então e as auto-estradas não vão servir para o automóvel electrico?

Filipe disse...

Excelente artigo. Gostei muito.
Mas há algumas imprecisões que é necessário discutir:

1ª Rede ferroviária em Espanha. Desde o início do ano que está a ser preparada uma reedição de 1985 (fecho de vias que não cumprissem alguns pressupostos e caso os governos da Autonomia não quisessem comparticipar ou assegurar a sua continuação). Fala-se da linha Madrid-Aranda-Burgos, há já alguns meses sem comboios de passageiros devido a um descarrilamento, sendo assegurada alternativa rodoviária a preços escandalosos, da linha Aranjuez-Cuenca-Valencia cujo traçado é praticamente paralelo ao da nova linha de alta velocidade Madrid-Valencia, da linha Cercedilla-Segovia por onde transitam os comboios Regionais Madrid-Segovia, entre outras.
Por outro lado, os preços dos bilhetes (já de si bem caros) têm vindo a aumentar consideravelmente nos últimos meses ora devido a actualizações tarifárias, ora devido à incorporação de novo material circulante, ora devido à diminuição dos tempos de viagem...patetices, portanto. Depois temos o caso do serviço AV de excelência Madrid-Barcelona. Com poucas frequências e reduzidos lugares promocionais, o AVE não descola dos 49% de quota de mercado (AVE+avião). Não é, de todo, exemplo.

2º Linha do Algarve
Foi anunciado pela REFER que a modernização da linha do Algarve estava prestes a ser concluída. Fala-se que a CP irá introduzir novo material circulante - mais confortável e climatizado - nesta região do país em Janeiro.

3ª Linha do Norte
Nem sequer deveria figurar neste artigo como exemplo. Ou por outra, sim deveria figurar enquanto exemplo do que não fazer. Os resultados obtidos são muito poucos comparados com o dinheiro que se investiu. E se os AP fazem Lisboa-Porto em 2h44 (menos 1 min no sentido inverso) não nos podemos esquecer dos brutais aumentos de tempo de percurso no serviço Regional, nomeadamente no Lisboa-Tomar e Entroncamento-Coimbra, e InterRegional Lisboa-Tomar.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

"Fala-se que a CP irá introduzir novo material circulante - mais confortável e climatizado "


Não se fala. Está decidido. Basta os Camellos estarem a circular e as automotoras da Linha do Minho vão todas para o Algarve.

Não percebi essa do AVE não ser exemplo.

A Nossa Terrinha disse...

Filipe, essas «correções» só se podem dever a uma leitura desatenta do artigo:

1) Espanha: no artigo, limitei-me a dizer que a Espanha tem uma «rede ferroviária digna desse nome», Portugal não. O que é verdade.

2) Linha do Algarve: não, a Linha do Algarve não foi, nem está a ser modernizada. Foi modernizado o troço Tunes-Faro (38 dos 140 km da linha), para permitir comboios mais rápidos entre Lisboa e Faro. Os outros 100 km da linha continuam à espera. As obras que a REFER anunciou agora não são de modernização, mas sim de renovação. O que eu escrevi no texto foi: «Linha do Minho, Linha do Oeste e Linha do Algarve são apenas três exemplos de linhas seriamente carecidas (PARCIAL OU TOTALMENTE) de modernização».

3) Linha do Norte: eu também acho que o dinheiro que se gastou na LN foi obsceno. Quando escrevi "bom exemplo", não me estava a referir a isso, mas sim ao facto de termos uma linha com um serviço de qualidade e que atrai cada vez mais utentes e vai "roubando" quota ao automóvel. O bom exemplo é esse. Podia-se prestar hoje um bom serviço sem se ter gasto tanto dinheiro? Sim, claro. Mas isso já é outra história (talvez noutro artigo).

Filipe disse...

O AVE Madrid-Barcelona é um êxito, isso ninguém lhe tira. Mas que poderia ser mais é bem verdade. A sua quota de mercado não passa dos 50%, excepto em períodos pontuais, os preços são bastante elevados com poucas possibilidades de adquirir viagens mais baratas e as frequências e tempos de viagem ainda não são as ideais para lançar um ataque mais cerrado à aviação civil.

Quanto à linha do Algarve, basta seguir o seguinte link: http://www.refer.pt/MenuPrincipal/ComunicacaoSocial/Noticias/Noticia/tabid/447/ItemId/207/View/Details/AMID/948/Default.aspx no qual a REFER dá conta das intervenções efectuadas na linha do Algarve.
Não queria a estimada bloguista saber o que era andar numa linha do Algarve com travessa de madeira e carril por soldar comparativamente à situação que estará concluída em 2011 que permite um muito maior conforto ao passageiro e, possivelmente, a redução dos tempos de viagem.

A Nossa Terrinha disse...

Sim, Filipe, eu sei quais são as obras. Não se trata de modernização da linha. É um pouco como pegar numa estrada degradada, levantar o "tapete" e colocar-lhe um novo, sem alargar, sem corrigir curvas, etc.

JMN disse...

Meninas, de certeza que isto não vos passou ao lado, mas as notícias de hoje sobre a ferrovia (por causa do Orçamento de Estado) penso que merecem um grande destaque e reflexão.

Primeiro, transportes em revista (http://62.193.249.104/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=2225):

"Refer vai avaliar encerramento de linhas ferroviárias
Uma das propostas do Governo para o Orçamento de Estado 2011 prevê que a Refer faça uma avaliação global da rede ferroviária nacional com o objectivo de averiguar quais as linhas e ramais que possam vir a ser “desclassificados”, isto é, deixem de ser utilizados em regime de serviço público. Segundo a proposta do Governo, revelada pelo "Expresso", esta avaliação terá de ser realizada até final do primeiro trimestre de 2011. O documento, a entregar pela Refer, terá de conter propostas concretas sobre a desclassificação de linhas, troços e ramais, sempre que se verifiquem os pressupostos do artigo 12º da lei de Bases do Sistema de Transportes Terrestres. Este artigo, revela, entre outras, que “serão desclassificados da rede ferroviária nacional as linhas, troços de linha e ramais relativamente aos quais se conclua, com base nos estudos referidos no n.º 4 do artigo 10.º, que os tráfegos actuais e potenciais não atingem os valores mínimos social e economicamente justificativos da manutenção do serviço público ferroviário”. O mesmo documento refere também que “a desclassificação da linha, troço de linha ou ramal, tida em conta a sua articulação com a rede ferroviária nacional, não inviabilizará soluções necessárias à continuidade ou adequação do serviço nesta prestado”, assim como o facto de que “as necessidades de transporte público respectivas podem ser satisfeitas, em condições mais económicas para a colectividade, por outros meios”."


Segundo, Jornal de Negócios:

"CP avança com concessão das linhas urbanas

Estudos preparatórios terão de ser entregues ao Governo no primeiro trimestre
A CP tem de apresentar ao Governo até ao final de Março estudos preparatórios “com vista à eventual concessão da exploração dos serviços de transporte ferroviário de passageiros integrados nas unidades de negócios CP Lisboa e CP Porto”.

De acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2011, o Governo prevê lançar “os respectivos procedimentos pré-contratuais até ao final de 2011, se os estudos económico-financeiros e as condições na envolvente demonstrarem que este é o calendário mais adequado.

A concessão de linhas da CP já tinha sido anunciada pelo Governo no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), avançando agora com a intenção de o fazer já no próximo ano."

É só a mim que me cheira que o Governo se prepara para acabar praticamente com o transporte regional de passageiros (porventura sobrarão algumas linhas em redor de Porto, Lx e Coimbra - tipo Tomar-Lx, p.e., que tem muita procura), dando os urbanos a privados (porventura juntando o longo curso para que os seus lucros cobram o prejuízo operacional dos urbanos e o Governo não precise de pagar indemnizações compensatórias)?

Ao fim de tantas décadas de história, será que os próximos anos marcarão o fim da CP? Não me espantava nada. Por estas notícias penso que serão os próximos passos.

Só mais uma nota: penso que nenhum dos jornais generalistas nem nenhuma das TVs ligou patavina a este assunto. Típico.

JMN disse...

Meninas, de certeza que isto não vos passou ao lado, mas as notícias de hoje sobre a ferrovia (por causa do Orçamento de Estado) penso que merecem um grande destaque e reflexão.

Primeiro, transportes em revista (http://62.193.249.104/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=2225):

"Refer vai avaliar encerramento de linhas ferroviárias
Uma das propostas do Governo para o Orçamento de Estado 2011 prevê que a Refer faça uma avaliação global da rede ferroviária nacional com o objectivo de averiguar quais as linhas e ramais que possam vir a ser “desclassificados”, isto é, deixem de ser utilizados em regime de serviço público. Segundo a proposta do Governo, revelada pelo "Expresso", esta avaliação terá de ser realizada até final do primeiro trimestre de 2011. O documento, a entregar pela Refer, terá de conter propostas concretas sobre a desclassificação de linhas, troços e ramais, sempre que se verifiquem os pressupostos do artigo 12º da lei de Bases do Sistema de Transportes Terrestres. Este artigo, revela, entre outras, que “serão desclassificados da rede ferroviária nacional as linhas, troços de linha e ramais relativamente aos quais se conclua, com base nos estudos referidos no n.º 4 do artigo 10.º, que os tráfegos actuais e potenciais não atingem os valores mínimos social e economicamente justificativos da manutenção do serviço público ferroviário”. O mesmo documento refere também que “a desclassificação da linha, troço de linha ou ramal, tida em conta a sua articulação com a rede ferroviária nacional, não inviabilizará soluções necessárias à continuidade ou adequação do serviço nesta prestado”, assim como o facto de que “as necessidades de transporte público respectivas podem ser satisfeitas, em condições mais económicas para a colectividade, por outros meios”."

JMN disse...

Segundo, Jornal de Negócios:

"CP avança com concessão das linhas urbanas

Estudos preparatórios terão de ser entregues ao Governo no primeiro trimestre
A CP tem de apresentar ao Governo até ao final de Março estudos preparatórios “com vista à eventual concessão da exploração dos serviços de transporte ferroviário de passageiros integrados nas unidades de negócios CP Lisboa e CP Porto”.

De acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2011, o Governo prevê lançar “os respectivos procedimentos pré-contratuais até ao final de 2011, se os estudos económico-financeiros e as condições na envolvente demonstrarem que este é o calendário mais adequado.

A concessão de linhas da CP já tinha sido anunciada pelo Governo no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), avançando agora com a intenção de o fazer já no próximo ano."

É só a mim que me cheira que o Governo se prepara para acabar praticamente com o transporte regional de passageiros (porventura sobrarão algumas linhas em redor de Porto, Lx e Coimbra - tipo Tomar-Lx, p.e., que tem muita procura), dando os urbanos a privados (porventura juntando o longo curso para que os seus lucros cobram o prejuízo operacional dos urbanos e o Governo não precise de pagar indemnizações compensatórias)?

Ao fim de tantas décadas de história, será que os próximos anos marcarão o fim da CP? Não me espantava nada. Por estas notícias penso que serão os próximos passos.

Só mais uma nota: penso que nenhum dos jornais generalistas nem nenhuma das TVs ligou patavina a este assunto. Típico.

Anónimo disse...

Tlvz por isso mesmo, pq n interessa a ninguém!

Anónimo disse...

"Tlvz por isso mesmo, pq n interessa a ninguém! "
Exactamente. Só interessaria num país de gente minimamente culta e inteligente, o que não é o caso.

Marcos Pais disse...

Estou em crer que quando o litro de gasóleo ou gasolina estiver a 3 ou 4 euros, se irá aproveitar a excelente rede de autoestradas para lá colocar... carris. Assim, o Portugal do ano 2050 terá uma óptima rede de ferrovia, paralela a boas estradas (já que numa autoestrada actual caberá ferrovia com dois sentidos mais estrada com três faixas de rodagem. Que vos parece?

Anónimo disse...

Era bom, mas é inviável pelo menos na maior parte dos casos, principalmente por causa dos desníveis mais acentuados das AE.

Anónimo disse...

"Tlvz por isso mesmo, pq n interessa a ninguém! "

Quando as tuas queridas estradinhas estiverem entupidas de carros porque acabaram com os comboios e demorares o triplo do tempo para fazeres o mesmo percurso vais ver se não te interessa.

Anónimo disse...

Modernizámo-nos, temos um país mais competitivo, mais moderno, mais solidário, mais coeso, mais capaz de enfrentar os desafios do futuro. As auto-estradas são vias estruturantes fundamentais que promovem o desenvolvimento económico das regiões e criam laços de solidariedade entre os portugueses. Mais modernidade, mais desenvolvimento. Como autarca, sinto-me orgulhoso do que fizemos.

Filipe disse...

Que laços de solidariedade são esses?
Devem ser aqueles que de tão fortes que são, acabem em tragédias com múltiplos mortos e feridos nas estradas Portuguesas.

Anónimo disse...

"Modernizámo-nos, temos um país mais competitivo"

Sr. autarca. Aconselho-o a ler os índices de competitividade da OCDE. Uma dica: não estamos bem classificados.


"Como autarca, sinto-me orgulhoso do que fizemos. "

Eu a gastar o dinheiro dos outros também sou muita bom. Assim é fácil.

Anónimo disse...

Sr autarca, essa cassete está velha e desgastada. Os argumentos que usa já foram desmontados vezes sem conta. Actualize-se, cultive-se, leia, estude, viaje e depois volte cá e conte-nos o que descobriu.

Paulo disse...

Será que o Orçamento de estado 2011 vai terminar com o que resta de ferrovia no Interior de Portugal? Temo bem que sim.
Este Governo está fazer tudo ao contrário: a ferrovia abate-se e a rodovia, apesar da crise, segue de vento em popa.(Ver cenas dos próximos capítulos).

Paulo Fonseca

Anónimo disse...

Para a modesta renovação da Linha do Algarve: 25 milhões. Para a megalómana auto-estrada transmontana: 800 milhões.