I
«Portugal pode já não existir “orgulhosamente só”, mas os portugueses
continuam a viver numa ilha isolada. A ilha da sua mentalidade. Rodeada de
ignorância por todos os lados, menos o do futebol (…).
I
Vivem
pior do que a maioria dos seus parceiros europeus. Mas mais felizes, porque
alheados do modo como vivem os outros. (…) E esse inestimável desconhecimento,
de que não têm, de todo consciência, torna alegre o triste défice de
civilização que é o seu. (…)
I
Que
importa se não têm uma única corrente de pensamento porque só têm fazedores de
factos políticos, se o clima é óptimo e a urbanização execrável, se cospem no
chão e deitam o lixo nos jardins? Que importa se conduzem mal, se as estradas
são más, se querem ir para a CREL e a sinalização que não há os enfia na CRIL,
se são maltratados nos restaurantes, nas caixas dos supermercados e nas
repartições públicas e gostam disso; que importa se o metro quadrado de
construção em Lisboa é dos mais caros da Europa e a insonorização a pior, se a
impunidade é regra e a justiça excepção, se os camponeses definham à míngua de
futuro e de esperança, ao mesmo tempo que florescem os jaguares a fundo
perdido? Que importa se são «feios, porcos e maus»? Que importa, de facto, se
ninguém dá por isso ou, melhor, se os portugueses não têm consciência disso?
Que importa, se somos uma ilha? Importa-nos tanto como não ter telemóvel se não
soubéssemos da sua invenção ou como continuar a olhar para a televisão a preto
e branco, felizes e contentes porque desconhecíamos que ela se faz a
cores…Bem-aventurados os ricos em ignorância porque deles é a república da
felicidade. (…)
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O
que é preciso fazer para mudar (…)? Pois mandar toda a classe
política, e metade dos nossos jornalistas e da nossa inteligentziaestagiar
na Europa. Durante uma década. Depois, no seu regresso, tudo será fácil e
andará depressa, porque o exemplo nos virá de cima».
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(José M. Barata-Feyo,
2002)
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Está
longe de ser despropositada esta imagem de Portugal como uma ilha. Os
portugueses olham demasiado para dentro e muito pouco para fora das suas
fronteiras. Como se a toda a nossa volta existisse um gigantesco oceano e o pedaço
de terra mais próximo estivesse a muitos dias de viagem.
I
Para
este alheamento do mundo exterior contribui muito a comunicação social (com
honrosas excepções). Ligamos a TV, vemos um telejornal e as notícias do resto
do mundo são sempre secundárias e ocupam menos espaço noticioso do que o
futebol ou os crimes de faca e alguidar. Com raras excepções - normalmente,
quando há uma tragédia lá fora...
II
A
grande reportagem ou o documentário são, em geral, muito maltratados na
televisão portuguesa, e quando existem debruçam-se quase sempre sobre a
realidade da nossa terrinha.
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Esta
espécie de "isolamento" num país que foi o das descobertas e que deu
a conhecer ao mundo diferentes culturas, esta ignorância mais ou menos
generalizada em relação ao que se passa lá fora e de como se vive lá fora
talvez ajude muito a explicar a falta de confiança de
que falava Richard Zimler...
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2 comentários:
... bem... eu concordo que somos ignorantes e tudo o mais.. Não querendo ser desmancha prazeres tenho a informar que na Suécia também se cospe no chão e é muito vulgar ve-lo no sexo feminino.
O mapa ali em cima está errado!
Ao largo de Portugal existe não o Atlântico mas sim o Mare Nostrum, isto é tudo nosso e não precisamos de mais ninguém.
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