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"Portugal é hoje de longe um país muito mais civilizado,
interessante, etnicamente variado e aberto do que quando o visitei pela
primeira vez em 1980, mas na minha opinião subsistem uns quantos problemas
inter-relacionados que não deixam que nem o país nem o seu povo avancem.
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Talvez
o mais importante desses problemas se manifeste no facto de serem raras
as pessoas capazes da honestidade e da coragem moral de aceitar as
responsabilidades por quaisquer problemas. (...) Alguém já viu algum
ministro, algum reitor de uma universidade ou um director de empresa reconhecer
numa conferência de imprensa: «É verdade, tomei uma decisão errada e o que
vamos fazer para a corrigir é o seguinte...»? Por mim, nem uma única vez. Como
ninguém assume a responsabilidade pelo que quer que seja, os problemas ou nunca
são resolvidos, ou são resolvidos lentamente e de forma incompleta
(...).
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Outro
problema que anda associado a este é o facto de a palavra que se dá ter
perdido todo o valor em Portugal. Quando um canalizador diz que virá
reparar a nossa casa de banho às nove horas, ou um aluno combina connosco uma
aula particular para terça-feira, pode muito bem acontecer que não apareçam. E
o caso pode arrastar-se durante semanas. E as desculpas que inventam... «A
minha mulher adoeceu, morreu-me o cão, furei um pneu...». Será que os
portugueses alguma vez aprenderão que há situações em que as desculpas não
contam? (...)
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Como
não se pode contar com ninguém para cumprir os compromissos assumidos, muito
menos no tempo fixado, torna-se praticamente impossível trabalhar em equipa.
(...)
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Os trabalhos
feitos à última hora e sem coordenação significa também que muitos
produtos portugueses não vão além da mediocridade. E quase toda a gente
considera a mediocridade como «nada mau»...
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E
depois vêm as cunhas... Como os mais capazes não conseguem os lugares que
merecem, ninguém acredita na justiça e na equidade. É uma das razões por que
tantas vezes os portugueses parece que precisam dos estrangeiros para
lhes dizerem se estão a fazer bem; muito simplesmente não confiam na
opinião de outro português.
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O
resultado de tudo isto é (...) uma sociedade sem nenhuma confiança".
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(Richard
Zimler*, 2002)
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* Escritor norte-americano, residente em Portugal
(Porto) desde 1990. Naturalizou-se português em 2002.
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1 comentário:
Cheguei a este blog por mero acaso (enganei-me) e dei com esta boa surpresa. Parabéns pelo blog! (já me fiz seguidora!)
Mariana V.
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