Almofada de caroços de cereja


Comidas as cerejas, que utilidade podem ter os caroços?

2007. José Miguel Amorim, 42 anos, no desemprego, viu os seus dois filhos pequenos a brincar com uma almofada de caroços de cereja feita pela sua avó e teve a ideia arriscadíssima de comercializar este produto de que quase ninguém tinha ouvido falar.

2009. Dois anos depois, a almofada de caroços de cereja Ricoxete (a marca que José Amorim criou) é já um sucesso.

Mas para que é que serve uma almofada de caroços de cereja?

A madeira da cerejeira tem propriedades que ajudam a absorver a humidade, e a humidade dos caroços da cereja facilita a retenção de calor. Inicialmente, José Amorim imaginou as almofadas para substituir os sacos de água quente: bastaria aquecê-las durante cerca de 2 minutos no microondas. Recentemente, José Amorim veio a descobrir um livrinho da Roche, editado nos anos 30 do século passado, de promoção de um produto para ajudar a dormir, em que era feita uma referência às almofadas de caroços de cereja, então usadas no campo, que eram aquecidas na lareira e tinham precisamente essa função:

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Tendo sido essa a ideia inicial de José Amorim, a surpresa veio depois. Hoje, as almofadas são recomendadas para termoterapia. São aconselhadas por médicos, fisioterapeutas e osteopatas. Serviços de spa (como o do Hotel Penha Longa, em Sintra) utilizam-nas em massagens. O seu uso é aconselhado para todas as idades e entre os seus benefícios incluem-se o alívio de dores musculares, de dores de cabeça, de cólicas infantis, o relaxamento muscular e o simples relaxamento. As almofadas são agradáveis de manusear, adaptam-se a qualquer parte do corpo, produzem um som relaxante e emanam um suave odor doce.

A sua utilização é simples e rápida: basta aquecer a almofada durante 1 a 2 minutos no microondas. Aquecer os pés num serão frio de inverno é uma das maravilhas que esta almofada faz.

A almofada de caroços de cereja é um produto 100% natural, biológico, biodegradável, reciclável, hipoalergénico e pode durar uma vida inteira.

O processo de produção é muito simples. Os caroços de cereja são lavados, só com água, e secos ao sol (pelos reclusos do Estabelecimento Prisional de Sintra). As almofadas são manufacturadas, à mão, com algodão natural, pelas reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires. Cada almofada leva cerca de mil e quinhentos caroços (infelizmente, apesar da abundante produção de cereja em Portugal, José Amorim não conseguiu arranjar caroços de cereja na nossa terrinha).

Já ouvimos criticar o facto de na produção das almofadas ser utilizado trabalho (remunerado) de reclusos, quando existem tantos desempregados em Portugal. A verdade, porém, é que estamos a falar de reinserção social, que não é importante apenas para o futuro dos reclusos: é importante para todos nós...

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Terminada a produção, as almofadas são metidas numa bonita caixa, desenhada pelo próprio José Amorim (que já foi desenhador gráfico em jornais como o Público):


Dentro da caixa, além de algumas recomendações de uso, vem um bonito texto de Maria Amorim, a filha de José Amorim, hoje com 11 anos, intitulado O Jardim das Cerejeiras.

Pequena reportagem emitida no Biosfera há cerca de dois anos, sobre estas almofadas:


Fontes: sítio da Ricoxete e... experiência pessoal

Linha do Tua: o princípio do fim (?)


Na 5.ª feira - 17 de Dezembro de 2009 - começaram a ser levantados carris e travessas da Linha do Tua, que já não existem nos três quilómetros que separam o túnel de Foz Tua do apeadeiro de Tralhariz. Segundo a REFER, "a intervenção tem a ver com os estudos geológicos para a construção da barragem do Tua".

Carta de um peão indignado


Carta de um cidadão da cidade de Vila Nova de Santo André (Alentejo) ao jornal Público:

"A minha cidade foi construída de raiz no início dos anos 70, com directrizes de ordenamento do território que, na altura, eram as mais recentes e inovadoras. Todavia, à medida que o parque automóvel vai aumentando, o espaço (passeios) para peões diminui. A resolução deste problema não depende só do civismo dos condutores. A autarquia também tem a responsabilidade de planear a cidades correctamente para evitar estas situações".

Resposta da autarquia de Santo André: "(...) As autoridades policiais não actuam, esse é um problema de há muitos anos. (...) Santo André concorreu a fundos europeus para projectos de regeneração urbana, no âmbito dos quais vamos requalificar três bairros - Pôr-do-Sol, Azul e Atalaia - e proibir o trânsito no seu interior, criando parques de estacionamento à entrada. Nos outros bairros, (...) vamos tentar resolver o problema do estacionamento abusivo no próximo ano, através da colocação de pilaretes (...). Ao contrário de outras grandes cidades, o estacionamento existe em Santo André, mas as pessoas não podem é levar o carro até à porta de casa".

E o melhor para o fim - a resposta da GNR: "(...) Já foram levantados alguns autos no bairro visado, embora não seja nem de perto nem de longe um local onde esteja em causa um embaraço ao trânsito ou o impedimento do acesso a veículos de emergência. Não podendo o estacionamento abusivo ser combatido em toda a linha - senão tínhamos milhares de autos por dia -, tem de ser feito com peso e medida (...)".

Mais uma vez, temos a brilhante ideia de que o estacionamento em cima dos passeios é inofensivo desde que não cause "um embaraço ao trânsito ou o impedimento do acesso a veículos de emergência" (a segurança dos peões não interessa para nada!). Mas quando é a polícia que assim pensa, é bastante mais preocupante...

Temos, por outro lado, uma polícia que não se queixa da falta de meios para combater o estacionamento em cima dos passeios. Tudo tem é de ser feito "com peso e medida". A atentar na queixa do cidadão e na afirmação da autarquia de que "as autoridades policiais não actuam, esse é um problema de há muitos anos", o peso é levíssimo e a medida muito curta... É a polícia que temos.

Temos ainda uma cidade onde "não existe falta de estacionamento" e, ainda assim, os civilizados automobilistas estacionam os automóveis em cima dos passeios.

Finalmente, o lado bom disto tudo: uma autarquia que, face à falta de civismo dos automobilistas e à triste ineficácia policial, vai ela própria tentar resolver o problema, colocando pilaretes. E vai ainda mais longe: vai proibir o trânsito automóvel no interior de três bairros (à semelhança do que sucede em Vauban). Conseguirá?... Vamos estar atentas...

Carta de um automobilista indignado


Carta de um indignado automobilista ao ACP:

“Sou morador há 55 anos na Rua Diogo Bernardes, mesmo em frente à Praça Andrade Caminha, no Bairro de S. Miguel, em Lisboa. Recentemente, já passava do meio-dia, quando estacionei o meu carro na referida praça, sobre o passeio, por não ter lugar nas proximidades e ter que sair uma hora mais tarde para uma consulta médica. Poucos minutos depois, um vizinho veio avisar-me de que estava um reboque para retirar o meu carro para depósito! Porque vivo num bairro fechado, só com trânsito local e sem qualquer movimento à hora de almoço, fiquei espantado pelo facto da CML ter entendido remover a minha viatura. O senhor que me multou também estacionou sobre o passeio e quando saí para o hospital ainda lá estava à sombra de uma árvore, possivelmente para justificar o pagamento de horas extraordinárias! O mais curioso é que nesse mesmo instante, na Rua Frei Miguel Contreiras, a cerca de 100 metros, e que dá acesso ao meu bairro, vários veículos estavam estacionados em contravenção e, aí sim, a prejudicar em muito o trânsito que vem da Av. de Roma. Ali por vezes as viaturas param mesmo sobre a passadeira para peões sem que a CML tome qualquer atitude. Isto acontece diariamente e a todas as horas”.

(Revista do ACP, Dezembro de 2009)

O quadro é lindo: um condutor espantado porque foi multado por estacionar em cima do passeio, sem que estivesse a prejudicar o trânsito [ali só havia "trânsito local e sem qualquer movimento à hora de almoço"]; o polícia que o multou também estacionou em cima do passeio, dando um "belíssimo" exemplo; a "preocupação" com os veículos mal estacionados a prejudicar "o trânsito" (esses sim!) numa rua próxima; e o relato de veículos estacionados a toda a hora em cima de passadeiras sem que sejam multados [deve ser por isso que este indignado automobilista achou que também tinha o direito de pôr o carrinho no passeio...]. Tudo isto numa zona muito bem servida de transportes públicos (metro, comboio e autocarros) e com vários parques de estacionamento (públicos e privados).

É a nossa terrinha.

Anteontem foi noticiado que os atropelamentos mortais nas cidades portuguesas aumentaram 30% este ano, em relação a 2008.

(a fotografia - do Bairro de S. Miguel - foi "roubada" ao blogue Passeio Livre)

Os novos horários da CP


No domingo, dia 13, vão entrar em vigor os novos horários de Inverno da CP. As alterações não são muitas, mas consegue-se a proeza de serem quase todas para pior. A boa notícia é a de que os comboios da CP vão voltar a circular entre Elvas e Badajoz (Linha do Leste). Trata-se de duas cidades fronteiriças cujos habitantes se visitam com muita frequência. Existe, há cerca de 150 anos, linha férrea a ligar as duas cidades, mas espanhóis e portugueses continuam de costas voltadas no que ao comboio diz respeito. À boa notícia junta-se uma menos boa: os horários da nova ligação a Badajoz são medíocres. Ir a Badajoz de comboio para lá ficar apenas 4 horas e meia é o máximo que a CP permite. Ainda não há muito tempo, havia várias ligações diárias entre as duas cidades.

Há cerca de 3 anos, a CP lançou uma campanha para promover os comboios directos entre as Caldas da Rainha e Coimbra (Linha do Oeste). Agora, desaparece uma dessas ligações directas, aumentando o tempo de percurso entre as duas cidades.

Na Linha do Minho, aumenta o tempo dos trajectos.

No Ramal de Coimbra, passa a haver menos comboios entre Coimbra e Coimbra-B.

Na Linha do Sul, desaparece o único comboio regional do Barreiro para o Algarve. Os passageiros vão ter de mudar de comboio mais vezes e para esta pior qualidade do serviço os passageiros vão passar a pagar mais, o que é muito coerente... (por exemplo, a viagem Barreiro-Albufeira custa agora 12,85€, vai passar a custar 18,30€...).

Situações destas ocorrem desde que se teve a "brilhante" ideia de dividir a CP em "unidades de negócio", em consequência do que a rede ferroviária nacional deixou de ser... uma rede ferroviária, passando a constituir uma colmeia de redes ferroviárias. O presidente da CP "está consciente desta realidade", mas não consegue resolver o problema: "as forças integradoras não conseguiram fazer vingar uma perfeita coordenação entre elas", afirmou ao jornal Público...

O défice da CP é enorme, como foi recentemente noticiado. Mas não é a dar tiros no próprio pé que a empresa vai conseguir inverter a situação. A diminuição de passageiros nos comboios portugueses (a constrastar com a tendência europeia) é, de qualquer modo, também o natural reflexo da absoluta prioridade que se tem dado à rodovia nas últimas décadas.

Fonte (além das indicadas através das hiperligações): caderno Local do Porto do jornal Público

O comboio para Coruche apita outra vez


A Linha de Vendas Novas, entre Setil (Linha do Norte) e Vendas Novas (Linha do Alentejo), foi uma das linhas férreas que não escapou à febre de encerramentos à exploração do final dos anos 80 e princípios dos anos 90, tendo sido fechada ao tráfego de passageiros em 1/1/1990 (tendo por ela continuado a circular apenas os comboios de mercadorias).
Um caso raro na nossa terrinha: há exactamente 3 meses (8/9/2009), foi reaberta a exploração do serviço ferroviário de passageiros no troço entre Setil e Coruche, permitindo de novo as deslocações de comboio entre Coruche, Cartaxo, Salvaterra de Magos e Lisboa. Isso não se deveu à CP, mas ao esforço das autarquias daqueles três municípios, que se dispuseram a assumir parte do défice de exploração do serviço ferroviário, mediante protocolo celebrado com a CP, nos termos do qual, durante um período experimental de 3 anos, a CP assume 50% do prejuízo da exploração e as três autarquias os outros 50% (16,66% cada).

Neste momento, há cinco ligações por dia entre Coruche e Setil (excepto ao domingo). Uma vez que as estações de Coruche, Cartaxo e Salvaterra estão um pouco afastadas dos respectivos centros urbanos, a reabertura da exploração implicou também a criação de um serviço de mini-autocarro de ligação entre as estações e os centros daquelas povoações (obrigação que, inexplicavelmente, a autarquia de Salvaterra não tem cumprido!). As coisas feitas com pés e cabeça, portanto.

Nestes primeiros 3 meses, verifica-se que os passageiros são essencialmente jovens e pessoas com mais de 65 anos (o que corresponde, aliás, ao perfil dos utilizadores mais frequentes dos transportes públicos na zona de Lisboa). Os passageiros são, por enquanto, ainda poucos: cerca de mil por semana, o que, segundo a CP, está dentro das expectativas. Os passageiros "são poucos mas andam felizes", segundo notícia hoje publicada no jornal Público (fonte principal deste artigo).

Esta experiência é muito mais importante do que parece à primeira vista. Espera-se que seja bem sucedida. Parabéns às autarquias de Coruche e do Cartaxo, "meios parabéns" à autarquia de Salvaterra (por ainda não ter posto a funcionar o autocarro de ligação às estações).

Viver e trabalhar junto à VCI


Na conferência Mobilidade na Área Metropolitana do Grande Porto, realizada ontem no Porto, o investigador Nélson Barros, do Centro de Investigação em Alterações Globais, Energia, Ambiente e Bioengenharia da Universidade Fernando Pessoa (UFP), apresentou um estudo cujas conclusões apontam para que "os portuenses que moram junto à Via de Cintura Interna (VCI), na zona do Amial, «estão sujeitos a níveis de benzeno [um hidrocarboneto carcinogénico] que excedem os valores-limite de protecção à saúde humana»" - noticiou hoje o jornal Público. Noutros locais situados junto a esta auto-estrada urbana, os níveis de benzeno encontram-se já perto do valor limite de protecção para a saúde humana.

Malefícios do benzeno:

Efeitos agudos: O benzeno é um irritante moderado das mucosas e sua aspiração em altas concentrações pode provocar edema pulmonar. Os vapores são, também, irritantes para as mucosas oculares e respiratórias.

A absorção do benzeno provoca efeitos tóxicos para o sistema nervoso central causando de acordo com a quantidade absorvida, narcose e excitação seguida de sonolência, tonturas, cefaléia, náuseas, taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, convulsões, perda da consciência e morte.

Efeitos crónicos principais:
Alterações hematológicas: vários tipos de alterações sanguíneas, isoladas ou associadas, estão relacionadas à exposição ao benzeno. Devidas à lesão do tecido da medula óssea (local de produção de células sanguíneas), essas alterações correspondem, sobretudo a Hipoplasia, Displasia e Aplasia.
O aparecimento de macrocitose, pontilhado basófilo, hiposegmentação dos neutrófilos (pseudo Pelger), eosinofilia, linfocitopenia e macroplaquetas são alterações precocemente apreciadas na toxicidade benzênica.
Alterações neuro-psicológicas e neurológicas: são observadas alterações como: atenção, percepção, memória, habilidade motora, viso-espacial, viso-construtiva, função executiva, raciocínio lógico, linguagem, aprendizagem e humor.
Outras Alterações: foram observadas alterações cromossomáticas numéricas e estruturais em linfócitos e células da medula óssea de trabalhadores expostos ao benzeno.

Estacionamento antes das passadeiras (3)

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Já aqui se chamou a atenção para o hábito de se estacionar ilegalmente até ao traço branco existente antes das passadeiras, muitas vezes por se julgar, erroneamente, que este traço marca o limite a partir do qual o estacionamento é possível. Também já aqui se explicou o perigo que este estacionamento representa e se defendeu que a distância de 5 metros antes das passadeiras, até à qual é proibido o estacionamento, podia ser marcada no pavimento, para inibir este tipo de estacionamento e aumentar a segurança dos peões.
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Há locais – infelizmente não muitos – em que esse limite dos 5 metros* se encontra, de facto, marcado no pavimento, de que são exemplos estes três casos em Campo de Ourique, Lisboa:
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*Fica a dúvida se a distância observada é mesmo de 5 metros. Parece ser um pouco mais curta. 

São bons exemplos. Mas, como se pode verificar pelas imagens, mesmo assim em nenhum destes locais a distância mínima de segurança imposta por lei e marcada no pavimento é respeitada pelos automobilistas...
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[Não existe aqui falta de alternativa de estacionamento: todos estes locais situam-se mesmo ao lado do parque de estacionamento subterrâneo de Campo de Ourique (com capacidade para quase 500 veículos e sempre com lugares livres), e isto já para não falar dos inúmeros lugares de estacionamento (pagos) existentes à superfície. O estacionamento ilegal abunda, aliás, por aqui, à volta deste parque de estacionamento subterrâneo que os automobilistas teimam em ignorar, preferindo estacionar em cima de passeios ou passadeiras - e, às vezes, simultaneamente em cima de ambos]
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CRIL: O muro da vergonha


"Se isto fosse um estado de direito já tinham rolado cabeças", afirmou recentemente o vereador da Câmara Municipal de Lisboa Nunes da Silva. As cabeças não rolaram, a "moderna auto-estrada" avança e o país empobreceu mais um pouco.

Resistimos até hoje a falar aqui do assunto, até porque pretendíamos abordar, de uma forma mais geral, a absurda construção de auto-estradas pelo meio de povoações e de centros urbanos.

Enquanto uma freguesia do concelho de Albergaria-a-Velha, já atravessada por duas auto-estradas, vai lutando ingloriamente contra o projecto de construção, no seu território, da terceira auto-estrada entre Coimbra e o Porto (serão três auto-estradas num raio de dez quilómetros!), a vergonha da CRIL na Damaia (concelho da Amadora, às portas de Lisboa) é já irreversível.

A história é conhecida. Aos habitantes da Damaia foi prometido isto:

(a CRIL - Circular Regional Interna de Lisboa ou A36 - passaria por baixo desta rua, que ficaria com um espaço verde no meio e um corredor pedonal a ligar os concelhos da Amadora e de Lisboa)

Mas o que está a ser construído é isto:

(fotografias do Jornal da Região da Amadora)

Os moradores não ficarão apenas com uma auto-estrada à porta de casa. Ficarão, em frente às suas casas, com uma construção à altura do primeiro andar dos prédios e que "cria uma parede de vários metros no quintal de uma fiada de moradias" e uma barreira de betão entre os bairros de Santa Cruz de Benfica (Lisboa) e a Damaia (Amadora), a que os moradores já chamam o "muro da vergonha".

A urbanização da Damaia já parecia ser demasiado má. Mas não: pelos vistos, ainda não era suficientemente má...

A febre das auto-estradas na nossa terrinha parece estar a ter graves efeitos secundários na lucidez destes "iluminados" do betão.

Feito o mal, duas medidas se impõem (além da óbvia responsabilização das pessoas que permitiram isto): primeiro, demolir estes prédios e moradias e realojar as pessoas num sítio com o mínimo de dignidade. Segundo, antes dessa demolição, obrigar todos os responsáveis por isto a viver aqui pelo menos um ano inteiro. Para que aprendam de vez.  

Estacionamento antes das passadeiras (2)


Esta fotografia da esquerda foi aqui publicada há cerca de um mês, para ilustrar a perigosidade do estacionamento ilegal a menos de 5 metros antes das passadeiras. Veja-se agora como o campo de visão é muito menor e a perigosidade muito maior se, no mesmo local, em vez de um  automóvel a 2 metros da passadeira, estivermos a falar de uma carrinha comercial estacionada até ao início da passadeira:


Um carro a aproximar-se, a descer a avenida, só se torna visível ao peão, e vice-versa, quando já está a cerca de 3,5 metros do início da passadeira e a 6 metros do local onde é possível iniciar a travessia da faixa de rodagem. Se esse carro circulasse a uns muito improváveis 20 km/h e o piso estivesse seco, precisaria de 9 metros para parar, ou seja, já só conseguiria parar depois de atropelar o peão a passar a zebra. Se fosse à velocidade de 40 km/h, já precisaria de 21 metros (e o embate com o peão dar-se-ia ainda antes de o condutor pisar o travão, ou seja, dar-se-ia a uns perigosíssimos 40 km/h). À velocidade máxima aqui permitida (50 km/h), a distância de travagem passaria a ser de 29 metros*.

Estes números não devem ser subestimados. Na realidade, a situação é ainda pior do que a relatada, porque esta fotografia foi tirada num dia de chuva (os tempos de travagem aumentam significativamente com piso molhado) e foi tirada já no limite final da passadeira. Se nos colocarmos na passadeira logo à frente da carrinha, nem sequer veremos os tais 6 metros de rua: teremos uma autêntica "parede" (a carrinha) que não nos deixa ver mais do que a continuação da passadeira para o outro lado da rua, e, pior, os automobilistas não verão os peões senão quando estiverem mesmo à sua frente...

Estacionar desta forma uma carrinha é, como se vê, um autêntico crime. E - nunca é demais recordar - as crianças têm uma percepção do perigo muito diferente da dos adultos...

*Fonte: os excelentes simuladores da Prevenção Rodoviária Portuguesa, que qualquer automobilista devia experimentar, para ter uma noção mais precisa deste tipo de perigo, o que seria muito útil, quer ao dono desta carrinha, quer ao automobilista fotografado na imagem e que, mesmo sabendo que a sua visibilidade sobre a passadeira estava gravemente diminuída, passou aqui a uns 40 ou 50km/h... (os condutores portugueses confiam cegamente na sua máquina, mas a máquina não faz milagres...).