Continuação (última parte). Partes anteriores:
Primeira parte
Segunda parte
Terceira parte
Quarta parte
Quinta parte
Sexta parte
As pessoas procuram alternativas de mobilidade se a tal forem obrigadas. Um estudo realizado em França mostrou, por exemplo, que, em Paris, a simples tarifação do estacionamento (onde antes eram disponibilizados gratuitamente lugares para os funcionários) fez aumentar a quota do transporte público de 35% para 66% e diminuir a do automóvel particular de 48% para 18%. Restringir o número de lugares efetivos de estacionamento, restringir ou dificultar o tráfego automóvel, etc., são exemplos de outras medidas que levam as pessoas a procurar alternativas de transporte. Elas estão estudadas - e, como não podia deixar de ser, professores da própria Universidade de Coimbra já publicaram estudos sobre o assunto.
Claro que uma mudança séria de paradigma só é possível com autoridades locais seriamente dispostas a mudar a situação (aumentar a oferta de estacionamento, por si só, apenas agrava o problema, não o resolve) e com uma autoridade policial que combata eficazmente o estacionamento selvagem. Duas coisas muito difíceis de encontrar nesta nossa terrinha…
Aprovará a UNESCO a candidatura da Universidade de Coimbra a Património da Humanidade se se mantiver o estado de coisas atual, de circulação automóvel e estacionamento?
Reformulando: provavelmente, só a candidatura a Património da Humanidade permitirá acabar (?) com esta situação vergonhosa na Alta Universitária de Coimbra. Mudar as mentalidades da generalidade dos portugueses, e nomeadamente dos nossos governantes (locais e nacionais), parece ser uma tarefa bem mais complicada.
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«Se não fosse o motorista a ajudar-me a entrar para a Faculdade, eu não conseguia. No meu caso, se não fosse o Serviço de Transporte Especial [de Passageiros com Mobilidade Reduzida, disponibilizado pela empresa municipal de transporte público de Coimbra], seria impossível estudar em Coimbra».
Ana Lopes Mota, estudante na Alta Universitária de Coimbra, que se desloca em cadeira de rodas, Maio de 2008.
Palavras ditas (27)
«A maioria das pessoas ainda não consegue conceber o dia-a-dia sem automóvel (…). Um campus universitário urbano devia ser pedonal, e não um parque de estacionamento a céu aberto».
Jorge Sousa, funcionário da Universidade de Coimbra, que se desloca diariamente de transportes públicos para a Alta de Coimbra, Março de 2010.
Palavras ditas (28)
«Sou um utilizador assíduo dos SMTUC [Transportes Urbanos de Coimbra], sobretudo a partir do momento em que ingressei no ensino superior. Até lá nunca tinha utilizado os autocarros dos SMTUC, uma vez que não necessitava (…). Muito embora tenha carta de condução e possibilidade de conduzir automóvel particular, faço questão de utilizar o serviço público prestado pelos SMTUC, até porque compensa, pois são fidedignos e muito regulares, nos quais podemos confiar. Para além do uso diário, utilizo o autocarro aos fins-de-semana para ir à baixa e outros locais da cidade, dado que o estacionamento é muito complicado, para além de ser mais dispendioso».
Luís Santos Galo, estudante, que concebeu a aplicação MMTUC Mobile, que permite, desde 2009, a consulta dos horários dos autocarros e dos troleicarros de Coimbra através do telemóvel, Dezembro de 2009.
Salamanca, a cidade gémea
Não é preciso andar mais de 300 quilómetros desde Coimbra para chegarmos a Salamanca (Espanha), outra cidade com uma histórica universidade, fundada na Idade Média, e cujo centro está já classificado como Património da Humanidade.
A Universidade de Salamanca é uma das mais prestigiadas da Europa e atrai estudantes de toda a Europa, incluindo muitos portugueses – e alguns naturais de Coimbra.
Apenas 300 quilómetros separam as duas cidades, mas as diferenças são enormes.
Algumas das muitas faculdades que integram a Universidade de Salamanca (faculdades de Tradução e Documentação, Filologia, Ciências Químicas, Física, Geografia e História…) estão, tal como no caso da Alta Universitária de Coimbra, situadas no centro histórico. No centro histórico estão também os serviços centrais da Universidade (utilizados por todos os alunos, incluindo a Reitoria e vários serviços de apoio), bem como a Biblioteca Geral e alguns dos Institutos de Investigação da Universidade, dos Grupos de Investigação, dos Centros de Estudos, dos Centros Tecnológicos, dos Serviços de Apoio à Investigação, etc.
Não há automóveis estacionados à porta destes edifícios. Alunos, professores e funcionários parecem conseguir sobreviver sem levar o automóvel até à porta da faculdade…
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Salamanca e Coimbra são cidades geminadas. Mais uma vez se comprova como cidades gémeas podem ser tão diferentes…
Joana Ortigão
Sobre o tema deste artigo, ver, no blogue Menos Um Carro, o artigo do Tiago Carvalho “O saber não ocupa lugar?" e, também no Menos Um Carro, o artigo do Mário Alves "Estacionamento no Campus do IST" (a segunda parte pode ser lida aqui).
Fotografias:
As de Coimbra: todas nossas, exceto a do fundo das Escadas Monumentais (retirada da página do Facebook citada no texto), a fotografia do Pátio da Universidade com automóveis, as fotografias aéreas do Google e as fotografias de autocarros e troleicarros (retiradas da Revista dos SMTUC).
As de Salamanca: retiradas da internet, com exceção da última, que é nossa.
Fontes (além do conhecimento pessoal):
Sítio da Universidade de Coimbra
Sítio da Associação Académica de Coimbra
Sítio dos SMTUC (Serviços Municipais dos Transportes Urbanos de Coimbra)
Vários números da Revista dos SMTUC
Sítio da Câmara Municipal de Coimbra
Sítio do Turismo de Coimbra
Sítio da Universidade de Salamanca
Artigo publicado no Público em Março de 2010 sobre o estacionamento na Alta Universitária de Coimbra.
[Enviado em 12/1/2010 à Câmara Municipal de Coimbra, à Universidade de Coimbra, à Associação Académica de Coimbra, à Polícia Municipal de Coimbra e à PSP de Coimbra]