Automóveis estacionados
imediatamente antes do traço branco que antecede uma passadeira é um cenário
muito frequente na nossa terrinha. Esse traço está normalmente colocado a cerca
de 2 metros do início da passadeira (mas muitas vezes menos do que isso). Muitos automobilistas estacionarão logo
antes do traço branco por acharem - mal - que este marca o limite a
partir do qual o estacionamento é possível. Na verdade, o traço serve para
outra coisa: para marcar o limite até ao qual um veículo tem de parar para
deixar passar os peões na passadeira. Quanto ao estacionamento, quem quer que
tenha aprendido o Código da Estrada e não o tenha esquecido sabe que é proibido
estacionar a menos de 5 metros (antes) das passagens de peões. Esta e tantas
outras regras entram no esquecimento dos condutores portugueses tempos
depois de tirarem a carta. Uma medida muito útil de combate à
sinistralidade rodoviária talvez fosse sujeitar os condutores da
nossa terrinha a exames de código e/ou de condução de x em x anos.
Muito útil seria também
que o limite dos 5 metros fosse igualmente marcado no pavimento. É apenas
mais um traço, não custará assim tanto.
Já aqui se explicou
a perigosidade do estacionamento a menos de 5 metros dos locais destinados à passagem de peões. Ilustremos agora essa
perigosidade:
Este é o campo de visão
que um peão tem, colocado no início da passadeira. Graças ao veículo
ilegalmente estacionado, não consegue ver mais do que poucos metros de
alcatrão. E, sobretudo, o condutor de um veículo que vier a descer esta avenida
não vê, naturalmente, o peão, a não ser quando estiver quase em cima da
passadeira. Estamos a falar de fracções de segundo: se, numa perspectiva
optimista, o veículo se deslocar a 50 km/h (velocidade máxima permitida),
percorre 5 metros em pouco mais de 3 décimos de segundo... Sabe-se, por outro
lado, que um condutor normalmente demora cerca de 1 segundo a reagir, ou seja, até colocar o pé no travão (1 segundo, à mesma velocidade, são 14 metros percorridos pelo veículo...). Acresce ainda
a distância que o veículo percorre depois de se iniciar a travagem, até ficar
completamente imobilizado...
Este é o campo de visão
que, no mesmo local, teria uma pessoa um pouco mais baixa: um(a)
adolescente de 13 ou 14 anos, talvez. A visão, quer do peão, quer do
automobilista, é ainda mais reduzida. O peão conseguirá ver um autocarro a
aproximar-se, mas não um carro. Mas, sobretudo, o automobilista só verá o
peão quando já estiver bem mais perto da passadeira. O risco de
atropelamento aumenta consideravelmente. Por coincidência, no exacto momento em
que tirei esta fotografia, estava um carro a descer a avenida, já a poucos
metros da passadeira. Só me apercebi disso uns décimos de segundo depois,
quando o carro passou por mim. Se eu fosse um pouco mais baixa e tivesse
iniciado a travessia da passadeira, já aqui não estaria para escrever esta
mensagem.
Um peão adulto tenderá a
ter muito mais cuidado nestes casos (e nem sempre isso chega). Mas o quadro
mental de uma criança ou de um pré-adolescente, por exemplo, é muito
diferente do nosso e a sua percepção do perigo não tem nada a ver com a de
um adulto.
Não foi aqui considerada
- mas sê-lo-á num próximo artigo - a hipótese de o peão ser uma criança ainda
mais baixa ou de ser um inválido deslocando-se numa cadeira de rodas.
I
11 comentários:
Já vos disse que este é o meu segundo blog preferido? :-))
Outro exemplo que tb impressiona muito é um adulto a empurrar um carrinho de bebé. A surpresa do aparecimento repentido do carrinho escondido por trás de um carro junto a uma passadeira pode ter consequências horrorosas.
Para quem quiser perceber melhor, e de forma mais gráfica, as distancias de travagem como explicou a Joana, pode ver estes vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=Qm8yyl9ROEM
http://www.youtube.com/watch?v=BpZRxo3EWAc
Aqui há uns anos compilei dezenas de filmes de segurança rodoviária aqui:
http://www.youtube.com/automobilizados
Um dos problemas do ser humano é que compreende mais ou menos bem crescimentos lineares, mas subestima crescimentos quadráticos. A distancia de travagem varia com o quadrado da velocidade.
Este post mostra a perspectiva do peão no ponto de início da travessia da estrada. Através dela podemos ter uma noção do campo de visão do automobilista que conduz na avenida, que é mais importante. Essa perspectiva será mostrada num próximo post. Um peão com suficiente estatura poderá conseguir ver um carro a aproximar-se (vendo o tejadilho, por exemplo). Mas o automobilista conduz sentado e, portanto, o seu ponto de observação é ainda mais baixo: é-lhe mais difícil conseguir ver um peão, que, no seu campo de visão, fica tapado pelo carro ilegalmente estacionado.
Segunda nota importante: o traço branco antes da passadeira nem sempre está à distância indicada no post. Há casos em que a distância é inferior (chega a ser de metro e meio), o que também tenciono mostrar. Obviamente, quanto mais perto estiver o carro da passadeira, pior...
O que sofro com isto...e não sou propriamente baixo...
Belo blog que acabo de descobrir :)
Mário, 1,75, Coimbra, atropelado numa situação igualzinha em 1999... só que em vez de ter um vw polo, tinha um nissan terrano... Fiquei bem, não se preocupem. Mas não podia deixar de transmitir a minha experiência, e de deixar aqui um grande parabéns pelo blog! Cheguei aqui via menosumcarro e passarei a seguir regularmente o vosso blog.
Bem-haja
Caro Mário André, atropelada nesta situação eu nunca fui, mas estive várias vezes muito, muito perto de o ser. Numa delas foi mesmo por uma nesga (2 centímetros se calhar não é exagero), e o carro ia a grande velocidade: não escaparia.
No sítio onde vivo já me dei ao trabalho de deixar folhetos nos pára-brisas dos carros estacionados desta forma, mas sem nenhum resultado. Não querem saber, devem achar que são "mariquices".
É grave que os automobilistas estacionem ilegalmente antes das passadeiras. Mas, mais grave ainda, é haver autarquias que pintam lugares de estacionamento (às vezes pago) imediatamente antes das passadeiras, a menos de 5 metros. Ou seja, mesmo indo contra o código da estrada, o estacionamento passa a ser legal aos olhos dos condutores e, provavelmente, aos olhos das autoridades. Além disso, considero que os 5 metros são insuficientes, mas pronto, se pelo menos se cumprisse com isso, já seria excelente... :)
A distância de 5 metros antes da passadeira é, de facto, insuficiente na maioria dos casos. Eu e a Ana (separadamente) temos tirado algumas fotografias, medido distâncias de estacionamento e de visibilidade e temos chegado à conclusão de que, em praticamente todos os locais fotografados, a distância de estacionamento nunca deveria ser inferior a uns 7 ou 8 metros - este seria o mínimo, e não o mais adequado, e apenas para veículos ligeiros com uma altura "normal".
Entre as variáveis a ter em conta, está a altura do veículo e a velocidade permitida no local. Veículos mais altos (monovolumes, jipes, carrinhas comerciais tipo Ford Transit ou pequenos pesados) nunca deveriam ser autorizados a estacionar à mesma distância das passadeiras do que os restantes veículos ligeiros (nem os tais 7 ou 8 metros são suficientes). Uma hipótese seria, portanto, introduzir uma diferenciação de distâncias consoante a altura do veículo. A alternativa era a de estabelecer um mínimo denominador comum, o que implicaria um significativo aumento da actual distância de 5 metros.
Quanto à velocidade permitida no local: mesmo tendo em conta que o condutor deve reduzir a velocidade ao se aproximar da passadeira, quanto maior for a velocidade permitida, maiores são as distâncias de travagem e, por conseguinte, maior deve ser a distância da passadeira ao estacionamento. Nos cálculos, dever-se-ia considerar sempre a pior hipótese - a da distância de travagem com piso molhado.
É muito provável que em breve se publique aqui mais um artigo sobre o assunto.
É claro que isto já é ir muito para além da situação actual - em que é muito raro os 5 metros serem respeitados...
vivo ha sete anos junto a uma esquadra, e so agora depois de virem policias novos e que querem ficar ricos com as multas e que tenho problemas com o carro.
Tenho 67 anos, e minha mae 91 ,custa lhe a caminhar eu sofro de tendinites e nao posso fazer forças nos braços mas nao tenho quem me ajude. ha dois cafes um num parque outro por debaixo de minha casa um deles esta aberto ate tres e quatro da manha , por essa razao ocupam os lugares todos e ate barulho fazem . Ha bem pouco depois de dar voltas e voltas arrumei em frente antes do entroncamento mas co0m o carro ao mesmo nivel dos carros da rua sem saida. tive de pagar 30 euros ontem fui ao super e quando cheguei depois de dar voltas arrumei o carro junto a uma passadeira sem respeitar os 5 mts que devia , como sou fatalista la terei de arranjar mais 30 euros, vinha carregada embora tivesse de subir a rua era o mais perto para mim.
estes senhores guadas podiam ter consideraçao por as pessoas mais velhas, se me viessem ajudar a subir as coisas isso sim faziam boa figura.
E uma tristeza o nosso pais com tanto vagabundo a fazer tantas coisas mal feitas nas estradas, isso nao vem eu com 300 euros por mes que nao me chegam para a farmacia, digo-lhes apetece me chorar podem crer , bom dia marinela.
Se ao sair do carro tivesse que atravessar a passadeira e fosse atropelada porque o automibilista nao a conseguiu ver devido ao seu carro estar ali estacionado, se calhar vinha para aqui dizer o contrario.
É de facto uma situação muito perigosa, mas agora o que está na moda é ver a ANSR e outros preocupados com o comportamento dos ciclistas (esses bandidos das estradas)
A foto é na rua onde morei em Lx, agora estou num sitio bem mais civilizado, mas antes de me vir embora andei a "distribuir" autocolantes do passeio livre pla área.. mas acho que em vez de 50 ou 60 precisava de uns belos milhares.. muito triste
E agora pela positiva.. Parabéns pelo blog!
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