Metro de Lisboa (2009-2015)

I
Em condições normais, a extensão da linha vermelha do metro (em ambos os extremos) teria sido o principal destaque destes últimos anos da vida do metro de Lisboa. O grande destaque é, no entanto, outro: a perda de qualidade de serviço daquele que é o principal meio de transporte coletivo de Lisboa.

O meio de transporte coletivo mais rápido da cidade está mais lento, graças à decisão de diminuir a velocidade de circulação de 60 km/h para 45 km/h.

A oferta, por seu turno, foi reduzida, quer em número de comboios, quer em número de carruagens de cada comboio, neste último caso com significativa redução do conforto deste meio de transporte.

Os intervalos entre comboios / tempos de espera aumentaram de uma forma generalizada, em muitos casos bastante significativamente. Nos quadros seguintes comparamos a situação que se verificava em 2009 (quando publicámos no blogue o primeiro artigo sobre o metro) com aquela que se verifica atualmente. Os quadros respeitam ao período horário entre as 7:30h e as 22:30h dos dias úteis (horários de Inverno, que estão em vigor 10 meses por ano):

Hora de ponta da manhã (7:30h - 9:30h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
3 min 25 s
3 min 50 s
+ 12%
Azul
4 min 30 s
5 min 45 s
+ 28%
Amarela
4 min
5 min 05 s
+ 27%
Vermelha
4 min 20 s
6 min 15 s
+ 44%
                                               Intervalo entre comboios - hora de ponta da manhã (7:30h – 9:30h)


Hora de ponta da tarde (17:00h - 19:00h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
3 min 40 s
4 min 10 s
+ 14%
Azul
4 min 30 s
5 min 45 s
+ 28%
Amarela
4 min 20 s
6 min 10 s
+ 42%
Vermelha
4 min 20 s
6 min 15 s
+ 44%
                                                  Intervalo entre comboios - hora de ponta da tarde (17:00h – 19:00h)


Hora de almoço (12:00 h – 14:30 h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
4 min 15 s
7 min
+ 65%
Azul
5 min 50 s
7 min 50 s
+ 34%
Amarela
5 min 20 s
7 min 50 s
+ 47%
Vermelha
6 min 25 s
7 min
+ 9%
                                                        Intervalo entre comboios - hora de almoço (12:00h – 14:30h)


Período da manhã (9:30 h – 12:00 h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
4 min 15 s
5 min a 7 min
+ 18% a + 65%
Azul
5 min 50 s
7 min 50 s
+ 34%
Amarela
5 min 20 s
7 min 50 s
+ 47%
Vermelha
6 min 25 s
6 min 15 s a 7 min
- 3% a + 9%
                                                    Intervalo entre comboios – período da manhã (9:30h – 12:00h)

Período da tarde (14:30 h - 17:00 h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
4 min 15 s
5 min a 7 min
+ 18% a + 65%
Azul
5 min 50 s
5 min 45 s a 7 min 50 s
- 1% a + 34%
Amarela
5 min 20 s
6 min 10 s a 7 min 50 s
+ 16% a + 47%
Vermelha
6 min 25 s
6 min 15 s a 7 min
-3% a + 9%
                                                        Intervalo entre comboios – período da tarde (14:30h – 17:00h)

Final da tarde (19:00h – 20:00h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
3 min 40 s
4 min 55 s
+ 34%
Azul
4 min 30 s
6 min 55 s
+ 54%
Amarela
4 min 20 s
6 min 10 s
+ 42%
Vermelha
4 min 20 s
6 min 15 s a 7 min 05 s
+ 44% a + 63%
                                                    Intervalo entre comboios - final da tarde (19:00h – 20:00h)

Princípio da noite (20:00h – 22:30h):

Linha
2009
2015
Variação
2009-2015
Verde
5 min 45 s
6 min 05 s a 12 min
+ 6% a + 109%
Azul
7 min 15 s
8 min 40 s a 11 min 50 s
+ 20% a + 63%
Amarela
8 min 30 s
7 min 25 s a 7 min 40 s
- 10% a - 13%
Vermelha
9 min
7 min 05 s a 7 min 55 s
- 12% a – 21%
                                               Intervalo entre comboios - princípio da noite (20:00h – 22:30h)

Não só há menos comboios, como o índice de regularidade (face aos comboios previstos no horário) baixou. As ocorrências com atrasos prolongados (superiores a 10 minutos) aumentaram mais de 30% (ver quadro em baixo). A fiabilidade deste meio de transporte diminuiu.

Há mais átrios de estações encerrados à noite e aos fins-de-semana, obrigando muitos utentes a dar uma volta maior para aceder ao metro. Bilheteiras inexplicavelmente encerradas, escadas rolantes e elevadores avariados são outros exemplos de uma pioria da qualidade de serviço que se verificou no Metro de Lisboa. Em 2013, o metro de Lisboa foi o campeão das reclamações dos utentes dos transportes públicos na área metropolitana.

Entre 2009 e 2014, o metro de Lisboa perdeu mais de 20% dos passageiros (embora tenha recuperado um pouco em 2014, face a 2013). Em contrapartida, viu as receitas de tráfego aumentar mais de 30%. Isto porque, apesar da perda de qualidade de serviço, o preço dos bilhetes e dos passes foi objeto de um forte aumento (ver quadro em baixo).

Indicador
2009
2014
Variação
2009-2014
Extensão da rede do metro (km)
39,6
43,2
+ 9%
Passageiros transportados (milhares)
176 726
140 087
- 21%
Passageiros x km (milhares)
829 068
655 705*
- 21%
Oferta: carruagens x km (milhares)
25 274
21 498*
- 15%
Lugares oferecidos x km (milhões)
4271
2752*
- 36%
Regularidade
90,1%
87,8%*

Atrasos superiores a 10 min
141
185*
+ 31%
Receitas de tráfego (milhares de euros)
59 947
78 546*
+ 31%
Custo do bilhete de metro
0,80€
1,40€
+ 75%
Custo do passe mensal
18,50€
35,65€
+ 93%
Custo do passe (estudante)
9,25 €
14,25 € a
35,65 €
+ 54% a
+ 285%
* Dado de 2013 (por não ser ainda conhecido o de 2014).
A queda da oferta de carruagens.km teria sido maior se não tivesse ocorrido o prolongamento da linha vermelha; após o aumento de 55% da extensão da linha vermelha, aumentou, naturalmente, a oferta de carruagens.km nessa linha. 

Relativamente aos preços dos bilhetes e dos passes indicados neste quadro (para a rede da cidade, excluindo as 4 estações situadas fora dos limites da cidade), é preciso esclarecer o seguinte:
- Presentemente, o bilhete de metro, 75% mais caro do que em 2009, pode também ser usado na Carris (bilhete válido por uma hora em ambas as transportadoras), e o passe mensal pode ser usado também na Carris e na CP. Mas, para quem utiliza apenas o metro, essa “vantagem” adicional de nada lhe serve.
- O custo do passe de estudante, que era, em 2009, de 9,25€, é agora, como regra, de 35,65€, o equivalente a um aumento de 285%. Só para os beneficiários dos escalões A e B da Acção Social Escolar (correspondentes aos dois escalões do abono de família) é que o custo do passe desce, respetivamente, a 14,25€ e a 26,75€ (o que, ainda assim, corresponde a aumentos de 54% e de 189%, respetivamente, face a 2009).

Fontes dos dados apresentados nos quadros: Metropolitano de Lisboa e INE.
I

2 comentários:

Joao disse...

Os transportes devem pagar-se a si mesmos, e não terem de ser pagos pelos contribuintes todos, por regra.

As greves tem sido um enorme problema.
Os metropolitanos deveriam ser completamente automatizados, para garantir (dentro do possível) horários exactos.

Deveriam colocar protecções que tornassem impossível alguém atirar-se ou cair para a frente das composições ou cair entre a composição e a plataforma, além do triste que é alguém cometer suicídio/ ou ter um acidente também provoca atrasos inaceitáveis.

Obviamente que manter escadas rolantes e elevadores em funcionamento nem deveria ser necessário mencionar o óbvio disso!

A frequência e precisão temporal da passagem das composições é um problema um pouco por todo o lado incluindo fora dos metros! É absolutamente necessário que sejam frequentes de tal modo que a pessoa saiba que seja qual for a hora pode apanhar uma composição, pelo menos durante o horário de funcionamento.

Seria interessante, uma vez automatizadas as composições que todo o funcionamento da rede metro incluindo estações fosse todo automatizado, sem necessidade de qualquer presença humana para funcionar... isto significaria na pratica que qualquer greve, fosse de quem fosse não deveria ter impacto no serviço em si... já que as máquinas não fazem greve. E os controladores do centro de controlo, não precisam de ser muitos, logo podem ser pagos a peso de ouro para nunca sentirem necessidade de fazer greve.

Os serviços de limpeza deveriam ser tão automatizados quanto possível... para que eventuais greves dos funcionários não tivesse grande impacto na limpeza.

Todas as estações deveriam ser remodeladas para tornar os grafittis impossíveis de fazer... usando técnicas como materiais que não permitam a aderência das tintas, sistemas de chuveiro que eventualmente cobrem os criminosos com uma tinta invisível que não sai durante semanas e que tem uma marcação própria daquele local para que a policia possa identificar mais facilmente, sistema de chuveiro que limpa qualquer tentativa de pintar com um solvente que destrói qualquer tipo de tinta, nos locais onde a protecção contra as tintas não for eficaz sem este tipo de sistema adicional.

O dinheiro que poupam em condutores e revisores, deveriam gastar em seguranças/ vigilantes que manteriam um controlo muito mais apertado em todas as composições e estações 24h/ 365d incluindo fiscalização de bilhetes... proporcionando assim um maior nível de segurança ao cliente.

João Pimentel Ferreira disse...

Aqui tenho de concordar com o comentador anterior. O metropolitano tinha já um passivo brutal porque o PM anterior ordenou as empresas públicas a endividarem-se junto da banca comercial para enganar o défice. Foi preciso cortar na despesa e o consumo energético, que pesa na fatura, depende muito da velocidade média das motoras. Não é por isso que as pessoas não o usam!