Ferrovia e estradas: investimento

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Neste gráfico, a coluna da direita respeita ao investimento total da REFER em 2012, isto é, para toda a ferrovia nacional.
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A coluna da esquerda refere-se ao custo de construção de três pequenos troços de autoestrada (dos muitos que têm sido inaugurados), da A4, num total de apenas 28 km.
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[Na mesma coluna poderia estar, com um valor quase idêntico (um pouco superior), o dinheiro que foi gasto na obra de alargamento, de 4 para 6 vias, de dois troços da autoestrada A1, num total de 24 km: os dois alargamentos mais recentes da A1.]
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Retrata um país que, apesar de ter um excesso verdadeiramente obsceno de autoestradas, continua a investir mais em autoestradas do que na ferrovia.
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Neste gráfico, a coluna da direita respeita ao montante total gasto pela REFER na Linha de Cascais em 2012. A coluna da esquerda refere-se ao que se gastou (a preços de 2012) na recente obra de alargamento, de 4 para 6 vias, de um troço de 9 km da autoestrada A5, entre Carcavelos e Alcabideche (uma obra justificada por níveis de tráfego que, depois de feito o alargamento, não se verificam...).
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[É de notar que não há uma coincidência temporal entre os dois factos: não foi possível apurar, nos documentos públicos da REFER, dados sobre os montantes gastos na Linha de Cascais nos anos anteriores, sendo certo, no entanto, que o nível de gastos se manteve sempre próximo do zero, se excetuarmos a obra de remodelação da estação de S. João do Estoril (cujo valor total não ultrapassou os 10% do valor gasto na obra de alargamento da autoestrada) e, mais anteriormente, a obra de remodelação da estação de São Pedro do Estoril (4,9 milhões). A comparação não deixa, ainda assim, de ser interessante, devendo-se ter presente que a Linha de Cascais carece de obras de modernização.] 
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Neste gráfico, compara-se o gasto anual (média anual 2001-2010), em milhões de euros, em infraestruturas ferroviárias, em Portugal, com a média da União Europeia (inclui: investimento em nova construção; investimento na rede existente, nomeadamente reconstrução, renovação e obras de reparação da infraestrutura).
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Os dados são da OCDE, que só os disponibiliza para todo o período 2001-2010 relativamente a 18 países da União Europeia. São eles: Portugal, Bulgária, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslováquia, República Checa, Eslovénia, Espanha, França, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Suécia e Reino Unido. A média europeia, nesta UE a 18, foi de 1446 milhões de euros gastos por ano em infraestruturas ferroviárias.
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Relativamente a 3 outros países da União (Itália, Bélgica e Luxemburgo), existem dados referentes ao período 2001-2009, e há dados dos anos 2001-2007 quanto a mais 3 países (Áustria, Irlanda e Grécia). Com a ressalva de que em relação a 6 países a média não incide sobre a totalidade da década, apurámos uma média da União Europeia (a 24) de perto de 1700 milhões de euros por ano. O gasto médio em Portugal foi de 434 milhões de euros/ano (deste valor, e segundo os dados publicados pela REFER, 364 milhões corresponderam a custos de investimento em infraestruturas de longa duração).
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Neste gráfico, a coluna de Portugal é maior do que a da média da União Europeia, mas por más razões: este gráfico traduz o que se gasta mais em estradas do que na ferrovia, ponderada a riqueza produzida de cada país.
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O gráfico compara Portugal com a média da União Europeia (a 21), tendo por base a diferença entre o investimento feito na rodovia e o investimento feito na ferrovia, em percentagem do PIB (média anual dos anos 2000-2010).
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[Apurou-se, para cada país, o investimento médio anual, em percentagem do PIB, em infraestruturas rodoviárias, e fez-se o mesmo relativamente ao investimento em infraestruturas ferroviárias. O gráfico refere-se à diferença entre o primeiro e o segundo.*]
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Os dados de base são da OCDE, só havendo dados disponíveis até 2010 relativamente a 21 países da União Europeia. São eles: Portugal, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslováquia, República Checa, Eslovénia, Espanha, França, Dinamarca, Finlândia, Luxemburgo, Holanda, Alemanha, Áustria, Itália, Suécia e Reino Unido.
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Atrás de nós, só a Roménia, a Polónia e a Eslovénia. Sem surpresa, todos os países desenvolvidos estão abaixo da média europeia.
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Observações:
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1) Atentos os valores, e relativamente a Portugal, os números relativos à rodovia só poderão dizer respeito aos gastos feitos a nível nacional, isto é, excluindo, nomeadamente, aqueles que foram feitos a nível autárquico (como é sabido, todos os anos são gastos, a nível concelhio, rios de dinheiro na rodovia). Segundo a OCDE, em relação a alguns países (daqueles 21) não se incluem estes gastos (mas esses países não são concretamente identificados), e também há países relativamente aos quais não se incluem os investimentos suportados com financiamento privado, o que coloca dúvidas, por exemplo, sobre a inclusão de obras construídas no regime de PPP, particularmente abundantes em Portugal em toda esta década, como se sabe.
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2) Países onde se gastou mais em ferrovia do que na rodovia ou, tendo gasto mais na rodovia, em que a diferença é menor (nalguns casos, mínima): Áustria, Reino Unido, Itália, Suécia, Dinamarca, Espanha, Luxemburgo, Finlândia, Alemanha.
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3) Só dois países gastaram mais em estradas do que Portugal: Roménia e Eslovénia.

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4) Estamos a falar de uma década em que se investiu mais dinheiro na ferrovia em Portugal, comparativamente com a década anterior (1991-2000), e, no que diz respeito ao investimento na ferrovia, até há vários países atrás do nosso (mas todos ou quase todos com redes ferroviárias bem mais desenvolvidas do que a portuguesa). Mas gastou-se mais, muitíssimo mais, em estradas. Tendo em conta a situação preexistente na rodovia e na ferrovia em Portugal, seria expectável que a prioridade de investimento tivesse sido a inversa.
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5) Relativamente à ferrovia, os números do investimento dizem-nos da quantidade de investimento, não da qualidade. Em Portugal, gastou-se muito dinheiro em obras não prioritárias (ou mesmo sumptuárias, de que constitui um exemplo várias estações construídas com base em projetos megalómanos), tal como se gastou muito dinheiro em obras que depois ficaram ao abandono (exemplos: obras feitas em parte do troço Covilhã-Guarda da Linha da Beira Baixa; nos últimos anos, encontramos, anualmente, milhões de euros de gastos relacionados com a linha de alta velocidade, que chegaram a atingir quase 30 milhões de euros num só ano, quantia esta que equivale a mais do que era necessário para fazer toda a obra da Linha do Corgo, por exemplo).
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6) Uma (pequena) parte do investimento feito pela REFER, refletido nos números do investimento ferroviário, respeita, na verdade, a infraestruturas rodoviárias: ao longo de toda a década, a REFER promoveu a supressão de uma grande quantidade de passagens de nível e, em sua substituição, construiu passagens rodoviárias desniveladas (inferiores ou superiores) e respetivas estradas de acesso (em alguns desses casos, a REFER celebrou protocolos com as autarquias, dos quais resultou uma repartição de custos).
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[*Gráfico feito com base em dados da OCDE que nos foram fornecidos por Manuel Tão, especialista na área da ferrovia, e a quem agradecemos.]
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Este gráfico mostra a principal afetação, por ordem de importância financeira, do investimento feito pela REFER na década de 2001-2010. Da esquerda para a direita:

- Linha do Sul

- Linha do Norte

- Ramal de Braga e Linha de Guimarães (surgem em conjunto, porque só a partir de meados da década a REFER passou a indicar separadamente as duas linhas)

- Linha de Sintra (inclui estação de Meleças da Linha do Oeste e Ramal de Alcântara da Linha de Cintura de Lisboa)

- Linha do Minho (quase exclusivamente o troço Porto - Nine)

- Linha do Douro (quase exclusivamente o troço Ermesinde – Marco)

- Linha da Beira Baixa

- “Linha do Sado” (troço Barreiro-Pinhal Novo da Linha do Alentejo, onde circulam os suburbanos do Sado)

- Passagens de nível (inclui requalificação e supressão de passagens de nível em várias linhas, sobretudo a construção de passagens desniveladas e a construção das respetivas estradas e caminhos de acesso)

- Eixo Sines-Évora (inclui, principalmente, as obras feitas na Linha de Évora)

- Ramal do Porto de Aveiro (inclui plataforma multimodal de Cacia).
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O gráfico deixa adivinhar um número impressionante: pelo menos** 60% do investimento total feito em toda a década de 2001-2010 respeita à Linha do Sul, à Linha do Norte e às linhas de Braga e Guimarães. As linhas do Norte e do Sul concentraram metade do investimento total feito na ferrovia.
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** Nem sempre a REFER é exaustiva na discriminação dos montantes investidos, e pelos documentos públicos da REFER não se consegue descortinar o destino de perto de 10% do investimento total feito ao longo da década, pelo que é bem possível que os montantes investidos em algumas das linhas referidas sejam mais elevados do que os indicados. Mas pelo menos as quantias indicadas no gráfico foram, de facto, investidas.
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1 comentário:

Philipp disse...

Interessantes dados e que só vêm confirmar e reforçar a ideia que a ferrovia em Portugal foi abandonada.
Como regionalista, achei interessante o investimento na linha do Sul (julgo que se trata de linha de Lisboa para o Algarve). Mais uma vez, Lisboa sempre em primeiro. Quando continuamos com ligações internacionais deploráveis. Falo com conhecimento de causa da ligação a Vigo - linha que passa numa das regiões ibéricas mais densamente ocupada.