I
“(…) O conceito de um «centro» como lugar de acumulação das funções de uma cidade, rodeado de uma «periferia» como lugar de dispersão e de dissipação, pertence a uma época encerrada. Com o aparecimento do automóvel, o cidadão deixou de precisar de um núcleo aglutinador do comércio, dos serviços e das relações sociais. Pelo contrário, começou a evitá-lo. Ruas estreitas, falta de estacionamento, casas antigas, espaços inadequados.
Esta atracção pela periferia nota-se também na minha cidade, que nas últimas duas décadas alastrou-se às antigas aldeias e campos e serras, espalhando os seus habitantes pelos ermos mais inverosímeis. A linha arquitectónica oitocentista do «antigo» centro ainda aparece sólida e paternal, mas em termos de frequência humana foi substituída por uma constelação de periferias.
A nível económico parece fazer sentido. É mais barato construir novo fora da cidade, que recuperar e reaproveitar o antigo no seu interior. Mas há também custos que inquinam a equação. Como se mede o equilíbrio psíquico e social que advém de caminhar a pé pelas ruas de dimensão humana, cruzar pessoas, cumprimentar conhecidos, respirar a nortada, identificar as próprias raízes com as de uma cidade única e antiga? (…)
Se uma nova guerra de repente alçasse o preço do petróleo a níveis tenebrosos, como nos arranjaríamos nas deslocações entre as várias constelações que formam hoje a cidade moderna? Quem comprou apartamento numa qualquer urbanização a dez ou quinze quilómetros de qualquer outro lugar, que custos teria para chegar ao centro? No caso de uma nova crise petrolífera, tudo iria mudar no mundo (enfim, no Ocidente; no Burundi nem se devia notar). Mas iria mudar particularmente a facilidade insensata com que dispomos do automóvel.
Pensava em todas estas coisas a caminho do bar. Não ia a conduzir. Como habitualmente, dirigi-me ao centro da cidade de bicicleta.
Uma bicicleta é, tal como um diamante, para sempre. Não por acaso, quando queremos dar o exemplo de uma aprendizagem que nunca mais se esquece, dizemos: «É como andar de bicicleta». É um meio de transporte urbano perfeito: não ocupa espaço, não é perigoso de conduzir, é simples de manter e simples de reparar, é extremamente económico, ecológico e duradouro. E, ainda por cima, tem uma série de vantagens homeopáticas que lhe são exclusivas: nenhum outro meio de transporte trata da nossa saúde e forma física enquanto o utilizamos.
Num divertido livrinho sobre cultura quotidiana, La velocidad de las Bicicletas, o mexicano Pablo Gotlieb faz notar que as bicicletas são «um bom remédio para a neurose urbana, não tanto como exercício físico ou terapia ocupacional, mas porque são a negação (…) de muitas causas desta neurose: a poluição, a pressa, a hostilidade, o engarrafamento, etc.».
Um dos grandes mistérios da mentalidade portuguesa é a rejeição linear do uso da bicicleta no dia-a-dia. Com o clima que temos, com a dimensão relativamente contida da maior parte das nossas cidades, com o preço dos combustíveis, com o exército de parcómetros à espreita, não se percebe por que tão pouca gente prefira os pedais para se deslocar.
A bicicleta apenas requer uma pequena disciplina mental, mas que facilmente se desenvolve, quando se troca o uso indiscriminado do automóvel pelo uso militante do selim. Ou seja, a bicicleta obriga-nos a pensar no modo mais lógico e eficiente de efectuar um percurso porque a distância paga-se com o corpo.
A atracção portuguesa pelo automóvel decalca um pouco a atracção portuguesa pela carne. Ingrediente escasso ao longo de gerações, quimera inalcançável durante a penúria salazarista, a carne hoje é utilizada com «excesso de abundância», como se assim Portugal cancelasse uma dívida atávica na ingestão de proteínas. Também o automóvel, acessível a poucos eleitos da nação até há um par de décadas, hoje é visto e usado não como objecto utilitário de deslocação, mas como arma de vingança a todos os autocarros que se atrasaram, a toda a chuva e frio que apanhámos a pé, a todos os quilómetros que tivemos de pedalar ao longo do século vinte, precisamente o século do automóvel.
Vejo regularmente bicicletas a circular pelas ruas das cidades do planeta (*). Nos países pobres é um sintoma de subdesenvolvimento, nos países ricos é uma opção de desenvolvimento. Só nós, com um pé no Sul e outro no Norte, não temos a humildade de seguir pedalando com o resto do mundo".
Gonçalo Cadilhe, 2009
(*) Gonçalo Cadilhe conhece o mundo inteiro. Ganha a vida a viajar, mais precisamente a escrever crónicas das suas viagens - da melhor literatura de viagens portuguesa da actualidade.
Nota: a cidade de Gonçalo Cadilhe, referida no texto, é a Figueira da Foz.
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59 comentários:
Muito bom!
Gosto muito dos livros desse senhor. E o seu programa nos «Grandes Portugueses» sobre o Infante D. Henrique foi o melhor de todos (adivinhem qual foi o pior...).
E também invejo grandemente o modo que ele tem de ganhar a vida... :)
Só não posso concordar com uma coisa no texto: a bicicleta não é o único meio de transporte que nos «trata da saúde» enquanto o utilizamos! E andar a pé?! Não o faz também, ou já todos nos esquecemos que as nossas perninhas funcionam todos os dias, não funcionam só quando vamos ao ginásio?! E é ainda de mais baixa manutenção que uma bicicleta (que fica baratíssima de manter: a minha tem 15 anos, custou na altura 60 contos - uma fortuna naquele tempo! - e gastei em manutenção com ela ao longo dos anos a exorbitante quantia de 35 euros! - 20€ da primeira vez e 15 da segunda)
Num pequeno off-topic: o Porto hoje está fantástico, quase nenhum carro a circular, carros no passeio são zero (felizmente também não costumam ser na quantidade que se vê em Lisboa), está um sol radiante (embora ainda esteja um vento frescote), milhares e milhares de pessoas na rua, grupos de jovens a cantar nos Aliados, crianças a brincar nas ruas... e isto tudo antes das 9 da manhã! Sua Santidade, um apelo pessoal: deixe o Vaticano e venha viver para Portugal!
Pronto já cá faltava as bicicletes. Quérem-nos põr tôdos a fazer ginàstica!
Miguel, penso que a Joana queria referir-se a um meio de transporte relativamente rápido. Moro em S. Domingos de Rana e chego à estação de Oeiras primeiro que os meus vizinhos, os quais vão de carro. O percurso é praticamente plano, por isso nem a justificação do costume é válida aqui. O tempo que demoram em filas de trânsito e depois a procurar estacionamento é irreal, diria mesmo, masoquista.
Eu referia-me a esta frase (que não é da Joana):
"E, ainda por cima, tem uma série de vantagens homeopáticas que lhe são exclusivas: nenhum outro meio de transporte trata da nossa saúde e forma física enquanto o utilizamos."
E isto também se aplica a andar a pé... (e também me acontece muitas vezes isso, seja a pé ou de bicicleta, muitas vezes chego ao destino mais rápido do que fosse de carro. E mesmo que demore mais tempo, o dinheiro que poupo - directamente nos custos associados ao carro e indirectamente nas externalidades para a sociedades e nos médicos daqui a uns anos para mim - compensa bem isso.
"Pronto já cá faltava as bicicletes. Quérem-nos põr tôdos a fazer ginàstica!"
Paulo Jorge, eu a si antes da ginástica recomendava-lhe era umas aulitas de português. É incrível como em 12 palavras se conseguem dar 6 erros! Faz um esforço especial ou sai-lhe naturalmente?!
Anónimo das 10:24, a falta de cultura está associada a respostas e comportamentos destes, é um facto. Só tem é de ignorar.
"Anónimo das 10:24, a falta de cultura está associada a respostas e comportamentos destes, é um facto. Só tem é de ignorar."
Sim, eu sei, não alimentar os trolls. Mas a mim erros de português destes mexem-me cá dentro de uma maneira (ainda mais do que ideias do século XIX, a essas faço ouvidos de mercador) que não consigo ficar calado. É que uma pessoa que escreve assim português de certeza que não consegue interpretar correctamente metade do que é aqui (e noutros sítios) escrito.
Não percebo o que possa ter a ver com a cultura. Considero-me uma pessoa muito culta e acho um disparate pegado quererem-nos convencer a utilizar a arcaica bicicleta em vez da alta tecnologia do automóvel. Se quiserem andar de bicicleta e negar a evolução tecnológica e científica da humanidade, é com vocês. Mas não me venham impinjir as vossas ideias pseudo-intelectuais.
Ricardo T. Fernandes
"Considero-me uma pessoa muito culta"
LOLOLOLOLOLOLOL
LOLOLOLOLOLOLOL
LOLOLOLOLOLOLOL
LOLOLOLOLOLOLOL
LOLOLOLOLOLOLOL
LOLOLOLOLOLOLOL
Belo texto que nos trouxeste hoje, Ana. E que bela fotografia a da Joana! Foi tirada em Portugal?
É tão culto, tão culto, tão culto, que até consegui ler no texto algo sobre cultura, quando a única vez que aparece no texto essa palavra diz «cultura quotidiana», nada diz sobre o nível cultural de quem anda de bicicleta.
"É tão culto, tão culto, tão culto, que até conseguiU "
Ricky, porque não anda de helicóptero? Não me diga que não sabia? É o que está na moda! Não me diga que ainda anda de carro, quando pode se deslocar em aparelhos muito mais modernos como o helicóptero?
E sabia que a "alta tecnologia" do automóvel tem mais de 100 anos? E estou a referir-me ao motor de combustão. Sabia que antes dos motores de combustão (no séc. XIX), muitos carros eram movidos a motor eléctrico? Sabia que existem bicicletas com auxilio de motor com autonomia de mais de 50kms, perfeitas para as subidas (justificação do costume) e são o que de melhor há em tecnologia de locomoção? Claro que sabe, afinal você é culto.
Caro Ricardo Fernandes,
Não é disparate nehum abdicar da tecnologia automóvel - eu tenho dois parados na garagem e uso bicicleta.
Em deslocações dentro da cidade é simplesmente o transporte mais racional, juntamente com os TP.
De bicicleta ou a pé andas a uma velocidade mais "humana", que te permite conhecer os trajectos que fazes, reparar aos detalhes e características da cidade, conhecer os teus vizinhos (os que não andam enlatados)... Isso para mim é cultura também, é promover espaços de partilha, humanos e agradáveis, pensados para serem vividos verdadeiramente e não atravessados a alta velocidade por caixas de metal que ocupam 22 m2...
Se libertarmos o espaço de latas passamos a ter espaços para pessoas!
Faz a tua parte, usa o automóvel só quando verdadeiramente necessitas - no meu caso nem chega a uma vez por trimestre...
"Não é disparate nehum abdicar da tecnologia automóvel - eu tenho dois parados na garagem e uso bicicleta."
Tu, eu, e milhares de pessoas que têm carro e usam bicicletas todos os dias nas suas deslocações diárias, poupando assim dezenas de milhares de euros ao longo da vida.
Mas o culto é ele...
Tentar associar a cultura à utilização da bicicleta é um grandessíssimo disparate. O Vasco Graça Moura é muito culto e não anda de bicicleta. O Carlos Barbosa é culto e não anda de bicicleta e até é presidente de uma associação de automobilistas. Isso é muita presunção da vossa parte. Mas quantos de vocês que já comentaram aqui é que realmente andam de bicicleta no dia a dia? Ou é só garganta? E se chover? E se quiserem ir às compras? E se forem levar os filhos à escola? São os actuais pseudo-intelectuais de esquerda que apareceram com a mania da bicicleta. É cool. É giro apanhar uma granda molha. Força. Quando eu passar de carro dou-vos umas palavras de consolo.
"Tentar associar a cultura à utilização da bicicleta é um grandessíssimo disparate."
É um disparate tão grande, que até quem vez essa associação em primeiro lugar foi o Ricardo...
"O Carlos Barbosa é culto"
Essa foi a piada do ano.
Ricky eu vou de bicicleta até à estação de comboio TODOS os dias, faça chuva ou sol, quando faço compras pequenas e vou voltar a levar o meu filho de bicicleta (até agora tenho levado de autocarro). E é de certeza mais "giro" apanhar uma molha, do que ficar horas numa fila de trânsito. Afinal você é homem ou uma menina (sem ofensa para elas)? Não me diga que tem medo de uma chuvinha?
E a propósito, não tenho afiliação política. Essas insinuações são tão ridículas como a sua forma de pensar.
Outro extremista de esquerda em bicicleta: http://thebikejoint.com/blog/wp-content/uploads/2009/11/boris-bicycle.jpg
(com a sua cultura tão elevada estarei certo que não precisarei de dizer quem é - nem o que ele escreve sobre automóveis)
"Isso é muita presunção da vossa parte."
Diz isto uma pessoa que 28 minutos antes tinha dito:
"Considero-me uma pessoa muito culta"
Nada presunçoso realmente...
Ricky T, o gajo que é tão culto, tão culto, que no último artigo sobre Évora disse isto: "Então agora os carros danificam os monumentos! Eh eh! E onde é que foi buscar essa parvoíce? Ficamos a aguardar que nos presente provas disso. Há cada um que só visto contado ninguém acredita! "
5 minutos depois eu (e outros) demos as provas que ele tanto pedia. Resposta dele?! Obviamente nenhuma, fez o que sempre fez quando comenta neste blogue: diz assim uma baboseira e depois foge.
Realmente, há cada um que só visto contado ninguém acredita!
JMN
Não nos esqueçamos também o que ele disse no dia 13 de Abril (http://anossaterrinha.blogspot.com/2010/04/cobertura-do-congresso-do-psd.html): "Não não volto a este blog!"
Que pena que não tenha cumprido com a promessa.
E nessa altura também tinha dito: "este blogue vem de dentro do próprio PSD como de costume" Mas então isto não eram tudo um bando de perigosos esquerdistas?! Quer dizer então que já andam infiltrados no PSD, os malandros?!
E relembro, que esta é uma pessoa com um nível de cultura tão elevado que nesse artigo fez ameaças a uma das autoras do blogue: "Ainda bem que ficámos a saber onde é que uma delas mora... "
Uma pessoa cheia de nível, realmente!
JMN
Também me converti á bicicleta dentro da cidade.
O meu único desejo? Um duche no local emprego ou um escritório para alugar disponível a cota mais baixa que a casa ;)
Ou então ganhar disciplina para poupar para uma eléctrica.
Cumps
"Ou então ganhar disciplina para poupar para uma eléctrica."
www.e-feet.pt
na Marina de Oeiras vi umas em demonstração por 400 euros. achei mto boas.
Como condutor fora das cidades e ciclista dentro delas também gostava de fazer um desafio adicional aos mais cépticos:
Somem as despesas anuais com o carro, ou seja, mensalidade, portagens, gasolina, estacionamento, seguro, selo e revisões e dividam por 12 para saberam a mensalidade.
Agora subtraiam a isso um valor aproximado para taxa de desvalorização- o automóvel é das maiores compras na vida de uma pessoa e aquela que desvaloriza imediatamente e constantemente após a compra.
Se tiverem um ordenado médio português e uma pequena família vão ver que ultrapassa á vontade as despesas mensais da casa todas juntas.
Resumindo: com o dinheiro que poupo em relação a anos anteriores conseguimos agora fazer uma bela viagem todos os anos.
Cumps
Ontem ouvi alguém a queixar-se das suas dificuldade financeiras. A escola do filho, a casa, etc... não sabia o que fazer.
Quando se enfiou no seu carro, era só um Volvo novo. Mas no que pensa esta gente??!
Miguel,como consegues gastar sóóóó 35 euros em 15 anos?
Ando de bicicleta há mais de trinta anos,e faço mais de cinco mil quilómetros por ano.
Há meia dúzia de anos tive um problema grave de saúde e tive que ser operado.
E sabem qual foi um dos motivos porque me safei?
Trinta anos de bicicleta.
E sabem porque a minha recuperação foi rápida?
trinta anos de bicicleta.
Há pormenores que só conseguimos ver sentados numa bicicleta.
Há sensações que são unicas e só se sentem em cima de uma bicicleta.
A bicicleta é insubstuível.
Um dia todos vão saber que é assim,a diferença é que uns chegam lá primeiro que outros.
Como diria um grande "escritor"deste blogue:
Boas pedaladas.
* quando disse subtraiam acima, queria dizer somem ;)
Lérias. Se têm carro, mesmo que seja só para as deslocações fora, não deixam de ter as despesas fixas, impostos, seguro, etc. Sejam mais honestos e não tentem enganar as pessoas. E gostava de saber como é que vão comprar as coisas de supermercado. Devem trazê-las em cima da cabeça, se calhar. E em dias de trovoada devem chegar um pingo ao trabalho. Em dias de calor devem chegar completamente soados enquanto eu tenho o meu ar condicionado. Os filhos à escola, devem levá-los às cavalitas, em cima da bicicleta. Enfim... Líricos...
"Miguel,como consegues gastar sóóóó 35 euros em 15 anos?"
Não percebi se era ironia ou não... eu acho que faço uns 500 a 1000 km por ano, porque feliz ou infelizmente vivo num sítio um bocado longe de tudo e por isso não posso usar sempre a bicicleta no dia-a-dia (só mesmo para ir à mercearia, ao talho ou ao café. Mas mesmo para esses sítios na maioria das vezes vou é a pé, de bicicleta só quando estou com mais pressa), por isso a maioria do uso que lhe dou é em lazer.
A manutenção que levou foi da primeira vez um pneu porque tinha levado com um prego e da 2a vez uma câmara de ar (a válvula estava estragada) e uns arranjos nos travões (nem sei se chegou a levar calços novos).
De resto a manutenção que faço é dar-lhe um banho muito de vez em quando e meter óleo na corrente (e esse óleo ainda é mais velho que a bicicleta, está numa garrafa da Sagres daquelas antigas baixas e largas).
O grande culto nunca ouviu falar em mochilas e cadeiras para bicicleta. santa ignorância.
vai mudar a fralda, vai filho.
@Ricky T
Não são lérias.
Primeiro porque não tenho carro, sai-me mais barato alugar para os passeios e/ou partilhar. Um utilitário de aluguer para dois dias para 5 pessoas é irrisório.
Segundo porque vivo dentro de uma cidade e tenho minimercados, talhos, frutaria, etc a menos de 500 metros de casa. A escola da minha filha fica a menos de 2km, percurso que faz a pé comigo (com bicicleta ao lado). Tem 6 anos e nunca se queixou, até porque dá para pôr a conversa em dia.
Como se diz e bem no post acima não é necessariamente a melhor opção universal possível para todas as deslocações de toda a gente mas desconfio que pode ser vantajosa para a maioria entre quem vive dentro de cidades ou pelo menos parcialmente para quem vive fora delas, como no caso do comboio noutro post.
Queria introduzir o factor económico para pôr toda a gente a fazer contas, quem sabe se não descobrem que compensa até bastante e passa a ser algo que se tem em consideração quando se escolhe um sítio onde viver.
E poupar dinheiro para passear é um dos meus lirismos predilectos.
"E gostava de saber como é que vão comprar as coisas de supermercado"
Caro Ricky, pode usar serviços como este: http://corporate.lc.jumbo.pt/servicos/servicoloja/entregadomicilio.htm
Também há outros de encomendas on-line, nem precisa de sair de casa para fazer compras...
Quanto aos filhos, os meus vão a pé e de transportes.
Seria um erro viver longe das suas escolas.
AC
Miguel,era só mesmo uma pergunta, o mais sadia possivel.
@SRT: a foto deve ter sido tirada durante um "Mexa-se na Marginal" ou um "Marginal sem Carros", aqui em Oeiras. :-)
@Ricky T: deve ter-se encadeado com a tecnologia automóvel que não deu pelo evoluir da tecnologia da bicicleta... As opções para transportar carga e passageiros são muitas e variadas, e só fica molhado quem quer.
Como diz o AC é verdade que as compras ao domicílio são agora relativamente comuns (acho que existe um limite mínimo de valor, não tenha a certeza) portanto não há grande desculpa por aí, até porque também entregam um pouco fora das cidades.
No meu caso pessoal tomei a decisão de evitar grandes cadeias de distribuição e concentrar-me no bairro. É verdade que gasto mais tempo nas compras mas é uma decisão individual e, como disse um anónimo, a "tecnologia" da mochila está suficientemente avançada. ;)
"Sejam mais honestos e não tentem enganar as pessoas."
Porque para tentar enganar as pessoas já te temos a ti, não é?!
Ricardo,
"Tentar associar a cultura à utilização da bicicleta é um grandessíssimo disparate."
Não posso concordar consigo. É precisamente devido à falta de cultura em geral que existem os grandes mitos da utilização da bicicleta. Que cansa muito, que é perigoso, que é desagradável à chuva, que é retrógrado, antiquado, sinónimo de pobreza, as subidas, os filhos, as compras e todo um manancial de desculpas para não olhar para a bicicleta como o veículo eficiente que é em *determinadas situações*, principalmente em curtas deslocações na cidade.
"Mas quantos de vocês que já comentaram aqui é que realmente andam de bicicleta no dia a dia?"
Eu uso a bicicleta *todos* os dias para ir de casa para o trabalho e em pequenas deslocações dentro de Lisboa. Como eu fazem-no centenas de pessoas. É pouco, muito pouco...
"Ou é só garganta? E se chover?"
Se chover pouco uso um impermeável que me protege da chuva. A minha bicicleta tem guarda-lamas (como uma boa bicicleta utilitária deve ter). Se chover muito espero um pouquinho por uma aberta para seguir caminho, já que as distâncias são curtas. Se chover mesmo muito, a bicicleta fica em casa e apanho o Metro.
"E se quiserem ir às compras?"
As (boas) bicicletas de cidade têm uns suportes sobre a roda traseira onde se podem colocar alforges para carga. Quando não vou a pé às mercearias do meu bairro comprar os frescos, uso os alforges na bicicleta para transportar pequenas compras.
Para as compras volumosas e pesadas do mês, descobri recentemente as compras on-line do Continente. Nem sei como passei este tempo todo a gastar o meu tempo a conduzir para uma grande superfície, passar duas horas aborrecido a meter compras no carrinho, suportar filas enormes nas caixas, carregar os sacos todos para o carro, carregar tudo até ao segundo andar e arrumar tudo em casa depois deste martírio. Por 6 míseros euros e 20 minutos no computador, alguém foi às compras por mim e carregou tudo até à minha cozinha. Até arrumei as compras com gosto. Compras no hiper de carro nunca mais!
"E se forem levar os filhos à escola?"
Há várias soluções para essa situação. Desde cadeirinhas para a bicicleta se os filhos forem pequenos, até andarem na própria bicicleta acompanhados dos pais. Se perguntar a um miúdo se prefere ir para a escola no banco de trás do automóvel ou ir de bicicleta, a reposta poderá surpreendê-lo.
Posso até dar-lhe de bandeja o factor que mais me incomoda quando ando de bicicleta e que ao contrário da cultura popular não é a chuva. O vento forte é o pior inimigo do ciclista. É desagradável, cansativo, perigoso, e um dos poucos factores que me inibe de usar a bicicleta. Não é a chuva, não são as subidas, não é o frio nem o calor, nem o trânsito. Tinha esta noção?
Para qualquer problema que tenha sobre a utilização da bicicleta existe uma solução. A falta de cultura é assim a principal responsável pela imagem negativa que a bicicleta tem entre nós. Há uma passagem do artigo que é tão boa e resume tão bem esta ideia que não resisto a repeti-la aqui:
Nos países pobres é um sintoma de subdesenvolvimento, nos países ricos é uma opção de desenvolvimento
Voltar à bicicleta é para muitos um sinal de retrocesso, quando é na realidade precisamente o contrário, um sinal de desenvolvimento. E só com cultura é que se consegue ver isto.
Cumprimentos
Miguel Cabeça
Concordo Miguel Cabeça, mas olhe que em alguns sítios a bicicleta não dá para evitar horas de ponta:
http://www.good.is/post/what-rush-hour-could-look-like-the-glorious-bike-traffic-of-utrecht-holland/
;)
Nuno, que país em desenvolvimento e com pouco nível cultural é esse?! :)
Miguel, esta tua frase complementa a frase do Gonçalo Cadilhe de uma maneira excelente... vou "roubá-la"!
É na Holanda! O Horror! O Horror!
Tanta gente pobre, lírica, subdesenvolvida, ignorante. E todos com tecnologia do século XIX como as tais de mochilas.
Um país á beira do abismo. ;)
Já agora, aqui fica um post, de como alguém faz a sua vida sem carro: http://shareable.net/blog/how-to-be-a-carfree-family
(já agora, eu tb tenho instalado na minha bicicleta um kit destes da xtracycle, e posso dizer que vale bem a pena - passo a publicidade: http://www.cenasapedal.com/site/index.php/Xtracycle/FreeRadical.html )
Os Holandeses não têm o calor que nós temos e além disso tem ciclovias por todo o lado. Embrulha esta!
Se não é o frio e a chuva, é o calor. Mas estas amélias não se decidem no que criticar? :)
Caros BMW e Ricky,
Repito, tenho dois carros à disposição na garagem em relação aos quais tenho custos mínimos de manutenção.
Um deles é descapotável, muita gente que adora carros adoraria tê-lo mas digo-vos o que me passa pela cabeça quando me apetece ir passear ao ar livre - de bicicleta aproveito muito mais o passeio, não me chateio a estacionar e não me sinto um inútil sentado a deslizar num objecto que pesa 16 vezes mais que o que ele é suposto transportar... É estúpido e um claro desperdício esse rácio entre peso da "mercadoria" a transportar e o peso do meio de transporte! É a mesma coisa que para ganhares 100 euros teres que gastar 1600 - conseguem fazer contas?
Em relação à ocupação de espaço e a todas as outras "deseconomias" geradas na sociedade pelo uso excessivo do automóvel é o mesmo.
Querem contribuir para o enriquecimento do país? querem pagar menos impostos? Querem reduzir o deficit energético e da balança comercial do país? Querem melhor qualidade de vida?
Se sim andem de bicicleta, se não mudem para uma cidade que também começa por L mas tem uma cultura mais próxima da vossa - Luanda!
É verdade caro anónimo, se Portugal estivesse no norte da Europa estavam aqui a dizer-nos que os Holandeses não tinham um frio, precipitação e vento de rachar quase todo o ano como nós.
"Heróis do Mar, ficai em casa, pois põe-se uma brisa e irei-vos constipar!"
E ciclovias têm-nas naquele caso, não na maioria do país mas gostava de ver comparado o custo de munir de ciclovias as capitais de distrito contra o custo de uma terceira auto-estrada Lisboa-Porto (que agora já vai ser só meia) . São prioridades.
Já agora não gostando ou possuindo a habilidade e destreza necessárias para andar de bicicleta podem sempre optar pelos transportes públicos, que são a minha segunda opção de transporte no dia a dia e a principal em longas distâncias.
Ainda não tinha reparado que a nossa estrelita tinha voltado!
E desta vez fugiu ao fim do primeiro comentário!
Andas a perder qualidades! Que raio de troll és tu que não consegues dizer mais do que um disparate de cada vez?! Ai o menino!
Caro Nuno
Porreiro esse vídeo que nos indicaste. Receio é que isso jamais seja visto por cá, ou pelo menos jamais nesta margem sul onde moro. Como sabes, o deserto é essencialmente areia e a areia gripa as correntes... :) E, a julgar pelos comentários habituais dos suspeitos do costume, também gripa o cérebro da malta enlatada. O Ricky e aquele objecto celeste obscuro continuam a não perceber que há muita gente que tem carro (alguns mais que um) e bicicleta e pernas e faz ou tenta fazer um uso eficiente dos meios de locomoção que tem à disposição. Incluíndo os TP.
Mas estou convencido que eles vêm aqui com o secreto desejo de que alguém faça com eles o mesmo que fizeram com o António Matos. Isto é, que os desafiem em forma para verem que estão errados. Resta saber quem estará errado.
Mas foi impossível não reparar no ciclista que "fintou" todos os outros e esperou a "abertura" do sinal em cima do passeio, por volta do minuto. Seria o Ricky lá do sítio?
Boas pedaladas.
O Ricky e o BMW são definitivamente as pessoas mais cultas presentes nos comentários...o BMW até nos deu caracteristicas desconhecidas sobre esse país que é a Holanda.
E o Ricky mostrou que vivo enganado há uns anos...afinal sou de esquerda...desta não estava à espera.
Gostei imenso do post já que se trata de uma pessoa que admiro...e que não me importava de o substituir na sua profissão.
" nenhum outro meio de transporte trata da nossa saúde e forma física enquanto o utilizamos."
Discordo, discordo... profundamente!
O comboio deixa-nos dormir e faz-nos sonhar. Por conseguinte, zela pela nossa saúde e bem-estar. Elogie-se o comboio, dê-se-lhe mais espaço.
Concordo Dario Silva, elogie-se o comboio, especialmente agora que pode também levar bicicletas, são transportes complementares e "amigos para siempre" ;)
SRT, a fotografia foi tirada no último «Marginal sem carros" (Setembro de 2009).
Só uma adenda ao que já disse: para o transporte de crianças há também estas soluções>. É tudo uma questão de saber que alternativas existem no mercado para transporte de crianças antes de achar que é impossível, apenas por mero desconhecimento.
Cumprimentos
Miguel Cabeça
Boa Tarde,
Gostaria de saber se a frase abaixo é mesmo de Gonçalo Cadilhe, pois pretendo citá-la em um trabalho e preciso conhecer a fonte.
"Nos países pobres é um sintoma de subdesenvolvimento, nos países ricos é uma opção de desenvolvimento"
Cumprimentos,
marquito
As nossas cidades são desadequadas à bicicleta, não se pode comparar com as cidades estrangeiras, que são planas e têm outro clima. Gosto de andar de bicicleta mas é como lazer. A bicicleta não é um meio de transportes para a cidade, pelo menos para o comum dos mortais.
Caro último anónimo,
Discordo de uma afirmação tão categórica e abrangente, as bicicletas não são uma solução universal em nenhum sítio nem ninguém disse isso. Um utilizador de bicicleta quotidiano pode também ter uma perspectiva e comportamento completamente diferente do que é atleta ou que o faz só por lazer.
Mesmo esquecendo que sou do Porto, onde algumas (cada vez mais) pessoas andam de bicicleta- nem todos os caminhos vão dar à Ribeira, ou a Alfama já agora- também já pedalei em cidades onde a bicicleta é bastante popular, como Barcelona ou Berna, que são tudo menos totalmente planas.
Mesmo evitando combinar a bicicleta com autocarros e metro (pode-se entrar com ela), mesmo não comprando uma eléctrica, mesmo não simplesmente subindo a pé os maiores declives com a bicicleta ao lado tenho a certeza absoluta que milhares de pessoas poderiam fazer a sua vida diária de bicicleta em cidades portuguesas apenas percorrendo zonas planas.
Se estiver curioso como alguém desconstruiu este mito da Lisboa "cidade das sete colinas" inimiga da bicicleta:
http://menos1carro.blogs.sapo.pt/89475.html
e
http://www.massacriticapt.net/?q=blogue/o-relevo-de-lisboa-e-as-bicicletas-percursos-alternativos
e, incontornável
http://100diasdebicicletaemlisboa.blogspot.com/
Cumps
ps. Nada como experimentar...
Bom, eu descobri um mini mercado não longe da minha casa onde há um espaço para deixar a bike enquanto estou nas compras; para o transporte das compras uso uns alforjes baratinhos e dou-me bem com o sistema.
Francisco Costa (Lisboa)
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