(devido à sua extensão, esta parte do artigo foi subdividida em cinco partes: I, II, III, IV e V)
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A primeira conclusão que retiramos de todos estes números é que a população diminuiu desde a chegada da auto-estrada em praticamente todos os concelhos analisados neste artigo: Mangualde, Vila Viçosa, Fundão, Castelo Branco, Celorico da Beira, Trancoso, Gouveia, Covilhã, Borba e Elvas (quebra até 5% no número de habitantes), Fornos de Algodres, Estremoz, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Manteigas, Sabugal e Almeida (diminuição entre 5,1% e 10%), Nisa, Idanha-a-Nova, Penamacor, Vila Velha de Ródão, Mação e Gavião (quebra de população entre 10,5% e 15%). Apenas em dois concelhos a população cresceu desde a chegada da auto-estrada: Guarda (crescimento de pouco mais de 0,1%) e Belmonte (crescimento de 1,9%). Mas em ambos os casos a população já estava a crescer no período anterior à existência da auto-estrada. Não há nenhum concelho em que a população tenha começado a crescer no período pós-auto-estrada.
Considerando as variações anuais de população, os números mostram três tipos de evolução:
I - Concelhos em que as variações anuais não sofreram alteração desde a chegada da auto-estrada: Borba, Penamacor, Idanha-a-Nova, Vila Velha de Ródão, Gavião e Mação (todos eles têm perdido população a um ritmo constante, que não se alterou após a auto-estrada).
II - Concelhos que, durante alguns anos, registaram uma evolução positiva no pós-auto-estrada. Nuns casos, essa evolução positiva foi iniciada antes de existir auto-estrada: Guarda, Estremoz e Vila Viçosa (1). No caso (único) de Elvas, a evolução positiva (= abrandamento do ritmo de diminuição populacional) iniciou-se com a chegada da auto-estrada (terminando seis anos depois).
III – Concelhos que registaram uma evolução negativa no pós-auto-estrada. Nuns casos, a evolução negativa foi iniciada antes de existir auto-estrada: Gouveia, Covilhã e Pinhel (2). Nos restantes casos, a evolução negativa iniciou-se após a chegada da auto-estrada: Castelo Branco, Celorico da Beira, Fundão, Mangualde, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Sabugal, Manteigas, Nisa e Trancoso (3).
(1) Nos três concelhos em que ocorreu esta evolução positiva, a população já estava a crescer quando ainda não havia auto-estrada, o crescimento atinge um máximo já no pós-auto-estrada e ocorre depois uma inversão na evolução, até que a população começa a diminuir.
(2) Nestes três concelhos, o ritmo da diminuição de população acelerou após a auto-estrada, mas num processo evolutivo iniciado antes. No caso da Covilhã, a população começou a diminuir no ano anterior ao da chegada da auto-estrada e o ritmo da quebra acelerou significativamente a partir da chegada da auto-estrada. Nos casos de Pinhel e de Gouveia, a população já estava em queda há longos anos e o ritmo da queda acelerou após a auto-estrada.
(3) É possível distinguir duas situações nesta evolução negativa:
a) Concelhos em que a população começou a diminuir após a chegada da auto-estrada: Castelo Branco, Celorico da Beira, Fundão e Mangualde.
b) Concelhos em que a população já estava a diminuir, mas em que o ritmo da queda populacional começou a agravar-se após a chegada da auto-estrada: Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Sabugal, Manteigas, Nisa e Trancoso.
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Uma realidade comum a todos estes concelhos é o saldo natural negativo: em todos o número de nascimentos é inferior ao de óbitos – e nalguns casos significativamente inferior. O que encontramos é alguns concelhos onde a diferença negativa entre o número de nascimentos e de óbitos é relativamente baixa (Manteigas, Borba e Vila Viçosa são os concelhos onde essa diferença é menor) e três concelhos onde, num determinado ano, ocorreram mais nascimentos do que óbitos (Guarda em 1998, Mangualde em 1999 e Elvas em 2000).Se excluirmos o peso do saldo natural, verificamos, quanto ao saldo migratório, dois tipos de evolução:
I - Concelhos que, durante alguns anos, registaram uma evolução positiva no pós-auto-estrada: Borba, Vila Viçosa, Elvas e Estremoz. Não há nenhum caso em que a evolução positiva tenha sido iniciada no pós-auto-estrada: nestes quatro casos, a evolução favorável no saldo migratório iniciou-se quando ainda não existia auto-estrada – e acabou por se inverter alguns anos depois (todos apresentam já saldos migratórios negativos nos últimos anos, exceto Vila Viçosa, em que o saldo é ainda positivo, mas praticamente nulo).
II - Concelhos que registaram uma evolução negativa no pós-auto-estrada. Nuns casos, a evolução negativa foi iniciada antes de existir auto-estrada: Guarda, Castelo Branco, Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia, Mangualde, Almeida e Manteigas (1). Nos restantes casos, a evolução negativa iniciou-se com a chegada da auto-estrada: Belmonte, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Idanha-a-Nova, Nisa, Pinhel, Penamacor, Gavião, Mação, Trancoso, Sabugal, Fundão e Vila Velha de Ródão (2).
(1) É possível distinguir três situações nesta evolução negativa:
a) Concelhos que tinham um saldo migratório positivo, que começa a decrescer ainda antes de existir auto-estrada e continua a diminuir após a auto-estrada, acabando por se tornar negativo: Castelo Branco, Covilhã e Celorico da Beira.
b) Concelhos que tinham um saldo migratório positivo, que começa a diminuir ainda antes de existir auto-estrada e continua a diminuir progressivamente no pós-auto-estrada, sendo ainda positivo (Mangualde) ou praticamente nulo (Guarda e Gouveia).
c) Concelhos que pela altura da chegada da auto-estrada tinham um saldo migratório negativo, mas em que o ritmo da debandada de habitantes começou a acelerar ainda antes de existir auto-estrada, continuando a acelerar no pós-auto-estrada: Almeida e Manteigas.
(2) É possível distinguir quatro situações nesta evolução negativa:
a) Concelhos que tinham um saldo migratório positivo, que começa a decrescer com a chegada da auto-estrada, acabando por se tornar negativo: Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Idanha-a-Nova e Nisa.
b) Concelhos que tinham um saldo migratório positivo, que começa a diminuir com a chegada da auto-estrada, sendo ainda positivo (Belmonte, Trancoso, Fundão e Vila Velha de Ródão) ou praticamente nulo (Sabugal).
c) Concelhos em que a debandada de habitantes estava a diminuir continuadamente, chegando a registar saldos migratórios positivos, mas que recomeçaram a ser negativos com a chegada da auto-estrada ou imediatamente a seguir, com nítida tendência de agravamento: Penamacor e Gavião.
d) Concelhos que pela altura da chegada da auto-estrada tinham um saldo migratório negativo, mas em que o ritmo da debandada de habitantes começou a acelerar com a chegada da auto-estrada: Pinhel e Mação.
Também relativamente a datas - e abstraindo agora das datas de inauguração das auto-estradas - não é possível encontrar um padrão na evolução ocorrida em todos os concelhos: ao mesmo tempo em que nalguns concelhos ocorria uma evolução positiva no saldo populacional ou no saldo migratório, noutros a evolução era negativa, noutros ainda não se registavam alterações. Se a tendência para a evolução negativa acaba por se registar, mais tarde ou mais cedo, em todos estes concelhos do interior servidos por auto-estrada, as datas em que ela se inicia não são as mesmas, nem sequer se situam num intervalo curto de anos: no que diz respeito ao saldo migratório, por exemplo, há concelhos em que a evolução negativa é iniciada em 2001, outros em 2002, outros em 2003, outros em 2004, outros em 2005, outros em 2006, outros ainda em 2007, e há até concelhos que atingem o valor mais positivo ainda em meados dos anos 90.
(continua)
*Versão revista e ampliada de artigo publicado inicialmente no blogue em Outubro de 2010.
8 comentários:
Eu continuo a ter dúvidas em relação a estatísticas baseadas em números tão pequenos.
Temos números pequenos porque a densidade populacional é baixa e porque os concelhos têm pequena área. Nesses números já de si baixos, estamos a medir a mortalidade, a natalidade e a migração, que são efeitos ainda mais baixos.
Estar a fazer teorias na base de estatísticas que têm tão pouca fiabilidade...
SIm, mas onde está o progresso e aumento populacional nas zonas servidas por auto-estradas Luis?
Pelo andar da carroça, qualquer dia estas maravilhosas autoestradas não vão ser mais que CICLÓVIAS!
madeinlisboa
Não está em lado nenhum, nem eu disse que estava.
Só disse que as estatísticas apresentadas nestes posts têm um valor duvidoso, mas não pretendo apresentar qualquer teoria alternativa.
(Já agora, uma estatística com significado, essa sim, é a da perda de população do concelho de Lisboa - por sinal, um dos concelhos do país melhor servido de autoestradas.)
Pelo contrário Luis Lavoura, é nos meios menos populosos que é mais fácil apurar quantas pessoas abandonaram a localidade e quantos novos habitantes é que chegaram. Nos sítios mais populosos é que a margem de erro é maior. O que é exactamente o contrário do que diz.
"essa sim, é a da perda de população do concelho de Lisboa "
Esse sim, é um grande paradoxo. As pessoas abandonam a cidade porque é caro morar nela e depois acabam por ter mais despesas com as viagens diárias para e de Lisboa em automóvel. Isso é incompreensível.
E agora é que reparei na curta ao lado (MAIS CARROS A CIRCULAR NO EIXO SINTRA-LISBOA). Será que esta gente nunca se sentou para fazer contas em relação ao que queimam por mês em gasolina, estacionamento, óleo, pneus, revisões, etc... Será que nunca chegaram à bendita conclusão que com o que gastam num ano poderiam fazer um cruzeiro ou viajar para um destino qualquer até para fora da Europa? Não. Preferem o suicídio mental. Pobres almas
É fundamental comparar estes resultados com os concelhos não servidos por Auto Estradas. Pode haver uma tendência idêntica, maior ou menor de desertificação do interior após a construção das AEs e caso a tendência seja menor, então este estudo estará a tirar conclusões erradas.
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